quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

ORI ORISTÉIA – UM RITO SACRIFICAL (RS)

 


Por Diego Ferreira*

 

A presença do grupo Caixa Preta na CURA é bastante significativa por se tratar de um grupo que abriu portas e possibilidades da representatividade de muitos artistas negros da cidade Porto Alegre se enxergarem no palco e ver que é possível estar nesse espaço também e ser representativo. O Caixa Preta também foi o responsável de realizar o Matriz - Encontro de Arte de Matriz Africana em Porto Alegre, importante encontro que promoveu encontros, espetáculos e reflexões que com certeza teve desdobramentos que muitas vezes não conseguimos nem mensurar mas o que é possível perceber que a cena gaúcha está mais negra e isso é reflexo destas iniciativas. Assistimos “Ori Oristéia” por questões técnicas que impediram de acontecer outra ação agendada. Rever o trabalho faz resgatar toda teatralidade que é muito característica nos trabalhos do grupo dirigido por Jessé Oliveira. Assistimos o espetáculo em formato digital numa gravação com uma câmera fixa e de um plano geral, o que para o espectador que não assistiu a montagem de modo presencial impede de perceber expressões e nuances dos atores que no presencial são fantásticos e que envolve o espectador justamente por isso. Mas neste formato percebemos o pulso forte que Jessé tem enquanto encenador e vislumbramos toda a engrenagem cenográfica que utiliza vários planos. Conseguimos captar também o canto forte do elenco e uma gama de imagens que recriam o universo da trilogia Orestéia recriadas aqui por um universo pop aliados ao universo dos ritos de matriz africana. Esteticamente é potente e extremamente atual e espero ansioso que o Caixa Preta retorne aos palcos juntamente com toda a sua pesquisa séria de linguagem que faz dele um dos grupos mais emblemáticos do nosso teatro.

 

Direção:Jessé Oliveiras

Assistente de direção:Juliano Barros

Elenco / Performers:Adriana Rodrigues, Diego Nayà, Éder Rosa, Glau Barros, Juliano Barros, Marcelo de Paula, Mariana Marmontel, Pâmela Amaro, Viviane Juguero e Wagner Madeira

Dramaturgia:Viviane Juguero

Argumento: Jessé Oliveira

Consultoria teórica:Barbara Kastner (Alemanha)

Trilha sonora original:Viviane Juguero e Grupo Caixa Preta

Colaboração nos arranjos e sonoplastia:Wagner Madeira e Diego Naià

Consultoria musical: Álvaro RosaCosta

Cenário:Rodrigo Shalako

Artista Gráfico:Waldemar Max

Iluminação:José Luis Fagundes Kabelo

Assistência em preparação corporal:Éder Rosa

Direção de Produção e Elaboração do Projeto:Jessé Oliveira Produção

Produção:Silvia Abreu

Duração:1h55 min

Classificação: 14 anos

 

 


*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve críticas no blog Olhares da Cena. Integrante da GIRADRAMATÚRGICA – Grupo de Estudos em Dramaturgia Negra. Integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. Foi jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.