quinta-feira, 11 de julho de 2019

EXPEDIÇÃO MONSTRO (RS)


OLHAR CUIDADOSO  PARA UM MUNDO MULTIFACETADO DAS CRIANÇAS 


por Diego Ferreira*


"Expedição Monstro" é um espetáculo teatral infantil que se utiliza de temas ludicos para tratar de preservação da natureza e na esteira consegue abordar outros temas pertinentes aos pequenos como imaginação, enfrentamento dos medos, respeito as diferenças e o convívio em coletividade. A começar pela personagem feminina que gosta de ser chamada de Jadyson, demonstrando que não gosta de ser menina, assim como ocorre no livro "A bolsa amarela" de Lygia Bojunga, em que a personagem não gosta de ser menina e gostaria de ser menino. Temas pertinentes e que merecem ser abordados no teatro dirigido as crianças. 
Com dramaturgia e direção de Matheus Melchionna o espetáculo vai na contramão do estigma de que teatro infantil é uma arte menor, pois a produção além de ter um caráter pedagógico, tem alto apelo estético e grande força na interpretação de todo elenco. Melchionna consegue articular os elementos cenográficos, texto e atores para construir uma fábula que tem todos os elementos do bom teatro infantil. Quatro crianças se unem em prol de uma expedição pela floresta, no meio da tal expedição ocorrem alguns fatos que modificam o rumo da mesma e surgem na história monstros que vão fazer as crianças a repensarem suas atitudes e seus medos. Basicamente o texto trata disso, mas a delícia está justamente no modo como cada personagem é apresentado. Desta forma todo o elenco está ótimo em cena, destacando os interpretes dos monstros Danuta Zaghetto e Ander Belotto que constroem figuras que inventam uma língua nova e que são carismáticas e engraçadas. Considero Danuta uma das melhores atrizes do teatro gaúcho atual pelos seus espetáculos, tanto os dirigidos a infância quanto os dirigidos ao público adulto. Os demais atores também merecem destaque pela sua construção e naturalidade como representam as crianças. 
Merece destaque a arte gráfica do espetáculo de Suzana Witt pois é de uma delicadeza e consegue retratar as personagens no cartaz e em toda a identidade visual do trabalho. O cenário também é um destaque e está totalmente dentro da proposta pois se utiliza de muitas garrafas pets que são transformadas e ressignificadas em peças cenográficas que com a utilização da iluminação dá um tom especial a parte estética do espetáculo.  
A produção não menospreza a inteligência das crianças e através de sua narrativa desperta no espectador uma curiosidade em saber o que vai acontecer com os personagens.
Com este trabalho, a Cia. Indeterminada cativa a todos sem medo de ousar, oferecendo um olhar cuidadoso para o mundo multifacetado das crianças de hoje. Um espetáculo que trata de temas relacionados a natureza, mas não resvala em clichês ou pedagogias chatas, pois por trás do tema tem uma história muito bem articulada que se sustenta do início ao fim, assim como nosso interesse que se renova do início ao final do espetáculo. Um belo recorte do teatro infantil da capital.



FICHA TECNICA 

Ficha Técnica:

Elenco: Ana Caroline de David, Ander Belotto, Bruna Casali, Danuta Zaghetto, Lauro Fagundes, Maurício Schneider e Renata Stein

Direção: Matheus Melchionna

Trilha Sonora Original: Carina Levitan e Guilherme Ceron

Operação de som: Norton Goettems

Iluminação: Carol Zimmer

Cenografia:  Rita Spier, Rodolfo Ruscheinsky e grupo

Figurinos: Camila Falcão e Mari Falcão

Maquiagem: Camila Falcão

Objetos Cênicos e Máscaras: Rita Spier

Dramaturgia: Matheus Melchionna, a partir de improvisações e colaborações do grupo

Colaborações Artísticas: Patrícia Fagundes, Daniela Aquino e Gisela Habeyche

Produção: Cia. INDETERMINADA

Arte Gráfica: Suzana Witt



*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.