domingo, 28 de julho de 2019

ÁS VEZES EU KAHLO (RS)


HUMANIDADE DE FRIDA EM ESPETÁCULO DETALHISTA 

por Diego Ferreira*

Se fizermos uma pesquisa rápida sobre a obra de Frida Kahlo o que mais nos chama a atenção são as cores vibrantes e a energia do povo mexicano em suas roupas, adereços e pinturas. O que a GEDA Cia. de Dança nos apresenta é uma obra coreográfica que escolhe acertadamente outros caminhos a partir da imagem forte da mulher revolucionária, mas que aqui nesta obra conhecemos o outro lado desta mesma artista, que se tornou um icone pop através de uma grande apropriação de suas imagens que são vendidas e produzidas em camisetas, bolsas e objetos.   No espetáculo o lado fragilizado, suas dores e transgressões emocionais são o ponto de partida para a construção de um trabalho que é extremamente detalhista. Suas cores dão espaço ao luto, os pincéis são transformados em muletas e assim entre agressões físicas, mutilações, quedas e tropeços o trabalho exalta com grande qualidade toda a potencialidade humana de Frida. 
Mais uma vez Maria Waleska e sua GEDA nos brinda com um espetáculo que é extremamente contemporâneo e técnico, mas que em nenhum momento se perde em coreografias gratuitas ou que primam apenas pela virtuose dos bailarinos, muito pelo contrário, o espetáculo é extremamente rigoroso e pega o espectador pela capacidade que tem em emocionar. É carne exposta se materializando em pequenos espasmos, pequenos lutos de uma mulher forte, mas que aqui mostra suas fraquezas. 
Graziela Silveira está simplesmente maravilhosa neste solo que tem a participação como bailarina dublê de Clarissa Gomes. Graziela tem uma força e entrega que faz deste trabalho uma referência em dança contemporânea. A bailarina através do seu corpo cria um verdadeiro manifesto surrealista, um corpo que aos pedaços vai se recompondo e montando partes de sua vida. E o corpo de Graziela expandido no tempo-espaço é revelado em fluxo de vida/morte entre sutilezas e explosões num espaço atemporal. A obra tem grande dramaticidade revelada através de todas as escolhas estéticas como o cenário, a trilha sonora, as belas projeções e a iluminação que convergem todas para um mesmo sentido que é a de entregar um trabalho extremamente meticuloso e de grande qualidade dirigidos pela Maria Waleska van Helden que sem sombra de dúvidas pode ser considerada patrimônio da dança pelos trabalhos prestados e não apenas isso, pela trajetória sim, mas principalmente pela qualidade de suas escolhas. 


Ficha Técnica “Às Vezes, eu Kahlo

Concepção, Coreografia e Direção Geral: Maria Waleska van Helden

Dramaturgia do Corpo: Denis Gosch

Técnica do Movimento: Luciana Dariano

Bailarina-intérprete: Graziela Silveira

Trilha Sonora Original e Operação de Som: Vitório O. Azevedo

Participação Especial: Giovanni Capeletti

Desenho e Operação de Luz: Carol Zimmer

Criação e Projeção de Vídeos: Fernando Muniz e Paula Pinheiro

Cenógrafo e Figurinista: Antonio Rabadan

Pesquisa: Maria Waleska van Helden e Consuelo Vallandro

Texto: Consuelo Vallandro

Fotografia: Sabrina van Helden

Voz em off: Arlete Cunha

Assessoria de Comunicação: Silvia Abreu Consultoria Integrada de Marketing

Produção Executiva: Ana Paula Reis / Bendita Cultura

Realização: Kapsula Produções Culturais

Agradecimentos: Equipe da Casa de Cultura Mario Quintana


Classificação 12 anos

Duração: 40 min



*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.