domingo, 5 de maio de 2013

VIDA ALHEIA (RS)


Assistir “Vida Alheia” dentro do projeto Novas Caras da Prefeitura foi uma grata surpresa. Trata-se de um espetáculo simples em sua essência, porém muito potente em sua realização. 
Os méritos do projeto começam na escolha do Grupo Artes e Letras, que tem quinze anos de existência, em levar aos palcos grandes clássicos da literatura. E neste projeto Arthur de Azevedo foi à escolha, onde a cena estruturou-se através de cenas curtas que tem em comum, uma série de personagens e tipos que possuem o hábito de falar da vida alheia da sociedade onde vivem. E Arthur através disso constrói um texto embasado para criticar os costumes cariocas da época. 
A encenação parte do pressuposto de que o menos é mais, economiza nos cenários, utilizando apenas duas cadeiras e poucos objetos, para potencializar o trabalho dos atores. Os figurinos de J. Alceu são muito bem elaborados, e condizentes com a proposta de construir um teatro de época, além de belo, auxiliam muito na construção das figuras e personagens. A iluminação é simples e está a serviço da cena. 
Direção e elenco são os grandes responsáveis pelo sucesso desta peça, pois o diretor conseguiu exprimir tudo o que não era necessário e deixou apenas o essencial para tornar a narrativa atraente, porque nem sempre espetáculos de época conseguem ser interessantes, e também consegue conduzir seus atores com grande competência, tirando de cada interprete o seu melhor. Um único ponto negativo, é a narração em off contando passagens da biografia do autor, penso que para a proposta inicial de levar o trabalho até as escolas, essa inserção é bastante positiva e cabível, porém quando esse trabalho ganha um espaço na grade de um teatro, penso que é desnecessária esta inserção, senão o espetáculo acaba tornando-se demasiado didático, o que não é ruim, mas que incomoda pelo fato de o espectador querer ver a narrativa da peça e não a vida do autor. 
O elenco está afinadíssimo, coeso e entregue. Destaque para o modo como o texto é dito, bem articulado, limpo, imprimindo uma musicalidade textual. As atrizes Ana Paula Aguiar e Kariny Schoenfeldt são boas e estão à vontade e tem presença de destaque, mas a dupla de atores Gabriel Motta e Julio Lhenardi, conseguem através de suas construções uma maior profundidade e um maior destaque. Um bom exemplo é a cena da nomeação do funcionário público, onde a dupla de atores desfilam construções de figuras muito bem delineadas e diferentes uma das outras, demostrando os bons interpretes que são. 
“Vida Alheia” é um espetáculo curto, na medida, que quando retornar a cartaz deve ser assistido por quem gosta de ver bom teatro, independente dos rótulos que são colocados, embora esta peça possa ser considerada de teatro escola, mas para mim não é isso que importa, o que me interessa é que a obra tem qualidade e ponto final. E “Vida Alheia” tem qualidade e méritos de sobra. 

Elenco Ana Paula Aguiar, Gabriel Motta, Julio Lhenardi, Kariny Schoenfeldt 
Concepção e Figurinos J. Alceu             
Iluminação e Trilha Sonora Uecla Oiluj
Operação de Som e Luz Leo Nardi         
Dramaturgia e Direção Gabriel Motta