“Zuccos” é a adaptação de
texto “Roberto Zucco” de Bernard-Mariè Koltès e trás a tona o tema da violência
presente na sociedade moderna. O título do espetáculo “Zuccos” no plural, já
detona que a cena explorará não apenas o cerne do texto de Koltès, mas toma
este como base e amplia as possibilidades de leituras acerca do tema,
transformando a cena num grande painel fragmentado que trata da violência de forma
nua e crua, mas sem perder a poética e estética.
É a segunda vez que assisti
ao trabalho e pude vislumbrar o amadurecimento da proposta inicial, do elenco original
apenas uma alteração, a entrada do ator Frederico Vittola, que em minha opinião
acrescenta muito ao trabalho. Outro fator que me faz crer que engrandece o
trabalho, é a proximidade com o espectador, já que a cena é recheada de signos,
de uma estética que requer uma atenção do espectador, ações simultâneas, textos
ditos em primeira pessoa, narração, creio que esta aproximação cria uma
comunicação maior e direta com o público.
As cenas fragmentadas estão
bem amarradas, num fluxo intenso e vivo, assim como a dramaturgia que estabelece
uma tensão crescente e potente. A contradição entre o corpo e a palavra é uma
qualidade do trabalho, pois não sublinha o que o texto já está dizendo, mas sim
propondo outros signos para a encenação. Os diálogos com as lanternas próximos
a plateia são ótimos, carregados de intensidade, assim como os depoimentos
(reais!) dos atores. A cena com os balões vermelhos é de uma sensibilidade extrema,
colocando a mãe no foco da discussão.
O elenco é coeso, intenso e
entregue, mas destaco Aline Jones que com sua presença hipnotiza e encanta com
suas criações. Aline simplesmente arrasa na cena do roubo do carro e também
como a prostituta. Realmente uma grande entrega. Catharina Conte também é forte
principalmente na cena em que faz a mãe e no depoimento com o balão. Frederico
Vittola acrescenta muito com sua entrada no elenco, constrói uma figura
contida, porém sua verdade está no olhar, conseguindo com isso um Zucco mais
forte e crível. Anna Júlia Amaral e Isadora Pillar tem boas participações, estão
entregues, porém não conseguem atingir a mesma intensidade de seus colegas.
Iluminação e trilha estão
ajustados, dentro da proposta e fogem um poucos das convenções, o que é mérito
do projeto, assim como o figurino despojado que auxilia na encenação.
“Zuccos” é um grande
experimento que provoca muito o espectador, saí do teatro incomodado com toda
aquela violência, que é real e está presente no palco e ali fora, na porta dele
e nas ruas da cidade. E isto quando acontece é muito bom, pois o bom teatro
provoca, incomoda e emociona. “Zuccos” é um misto de teatro, que se utiliza de
uma abordagem contemporânea, de inserções de performance art, projeção de
vídeos e depoimentos dos atores, borrando a fronteira entre linguagens, e através
desta linguagem oferece ao espectador uma série de elementos, de signos e uma
estética contemporânea, que consegue apropriar-se destes elementos e
potencializá-los teatralmente, mas dentro deste contexto ainda fiquei sem
entender e localizar na própria encenação a utilização de farinha, ovos e
tintas, na cena em que as atrizes entram com vestimentas brancas e se encharcam
com estes elementos. Esteticamente é lindo e provocante, porém não consegui
traçar relações dentro do contexto da peça, mas isso é apenas meu ponto de
vista, e que acaba não comprometendo a potencia deste “Zuccos” renovado que eu
espero que tenha vida longa.
Elenco Aline Jones, Anna
Júlia Amaral, Catharina Cecato Conte, Frederico Vittola e Isadora Pillar
Direção coletiva
Orientação Adriane Motolla
Trilha Sonora executada ao
vivo Flavio Aquino
Operação de luz Silvana
Rodrigues
Iluminação Aline Jones
Produção Catharina Cecato
Conte