domingo, 12 de maio de 2013

ZUCCOS (RS)


“Zuccos” é a adaptação de texto “Roberto Zucco” de Bernard-Mariè Koltès e trás a tona o tema da violência presente na sociedade moderna. O título do espetáculo “Zuccos” no plural, já detona que a cena explorará não apenas o cerne do texto de Koltès, mas toma este como base e amplia as possibilidades de leituras acerca do tema, transformando a cena num grande painel fragmentado que trata da violência de forma nua e crua, mas sem perder a poética e estética.
É a segunda vez que assisti ao trabalho e pude vislumbrar o amadurecimento da proposta inicial, do elenco original apenas uma alteração, a entrada do ator Frederico Vittola, que em minha opinião acrescenta muito ao trabalho. Outro fator que me faz crer que engrandece o trabalho, é a proximidade com o espectador, já que a cena é recheada de signos, de uma estética que requer uma atenção do espectador, ações simultâneas, textos ditos em primeira pessoa, narração, creio que esta aproximação cria uma comunicação maior e direta com o público.
As cenas fragmentadas estão bem amarradas, num fluxo intenso e vivo, assim como a dramaturgia que estabelece uma tensão crescente e potente. A contradição entre o corpo e a palavra é uma qualidade do trabalho, pois não sublinha o que o texto já está dizendo, mas sim propondo outros signos para a encenação. Os diálogos com as lanternas próximos a plateia são ótimos, carregados de intensidade, assim como os depoimentos (reais!) dos atores. A cena com os balões vermelhos é de uma sensibilidade extrema, colocando a mãe no foco da discussão.
O elenco é coeso, intenso e entregue, mas destaco Aline Jones que com sua presença hipnotiza e encanta com suas criações. Aline simplesmente arrasa na cena do roubo do carro e também como a prostituta. Realmente uma grande entrega. Catharina Conte também é forte principalmente na cena em que faz a mãe e no depoimento com o balão. Frederico Vittola acrescenta muito com sua entrada no elenco, constrói uma figura contida, porém sua verdade está no olhar, conseguindo com isso um Zucco mais forte e crível. Anna Júlia Amaral e Isadora Pillar tem boas participações, estão entregues, porém não conseguem atingir a mesma intensidade de seus colegas.
Iluminação e trilha estão ajustados, dentro da proposta e fogem um poucos das convenções, o que é mérito do projeto, assim como o figurino despojado que auxilia na encenação.
“Zuccos” é um grande experimento que provoca muito o espectador, saí do teatro incomodado com toda aquela violência, que é real e está presente no palco e ali fora, na porta dele e nas ruas da cidade. E isto quando acontece é muito bom, pois o bom teatro provoca, incomoda e emociona. “Zuccos” é um misto de teatro, que se utiliza de uma abordagem contemporânea, de inserções de performance art, projeção de vídeos e depoimentos dos atores, borrando a fronteira entre linguagens, e através desta linguagem oferece ao espectador uma série de elementos, de signos e uma estética contemporânea, que consegue apropriar-se destes elementos e potencializá-los teatralmente, mas dentro deste contexto ainda fiquei sem entender e localizar na própria encenação a utilização de farinha, ovos e tintas, na cena em que as atrizes entram com vestimentas brancas e se encharcam com estes elementos. Esteticamente é lindo e provocante, porém não consegui traçar relações dentro do contexto da peça, mas isso é apenas meu ponto de vista, e que acaba não comprometendo a potencia deste “Zuccos” renovado que eu espero que tenha vida longa.

Elenco Aline Jones, Anna Júlia Amaral, Catharina Cecato Conte, Frederico Vittola e Isadora Pillar
Direção coletiva
Orientação Adriane Motolla
Trilha Sonora executada ao vivo Flavio Aquino
Operação de luz Silvana Rodrigues
Iluminação Aline Jones
Produção Catharina Cecato Conte