“Quem dera ser um peixe, para em seu
límpido aquário (saltar) mergulhar”.
“Quando eu tinha” foi
o primeiro espetáculo apresentado dentro do projeto Teatro Aberto da
Coordenação de Artes Cênicas de Porto Alegre neste ano. O espaço é destinado a
grupos de teatro que tenham uma proposta experimental, e é justamente esse
caráter que permeia todo o trabalho do Grupo Duo em Contato, criado pelos
atores André Macedo e Marcia Berselli, existente desde 2010.
A
proposta do trabalho é bastante interessante em sua concepção, pois traz a tona
questões que envolvem temas como o binômio morte/vida e suas memórias. O
espectador tem um papel relevante dentro do espetáculo, pois contribui
efetivamente com suas reminiscências sobre a morte, através de depoimentos
escritos. Outro elemento que aproxima o espectador da proposta é a cachaça
oferecida ao público e que além de agradar aqueles que gostem de uma cachacinha para aquecer ou iniciar uma
comunhão entre atores e espectadores, tem um significado bastante singular que
remete ao mote da morte, e que me leva a pensar que a cachaça é para “beber” o
morto, prática utilizada em velórios ou rituais religiosos.
A
encenação parte do contato entre os corpos dos atores, que pesquisam o Contato
Improvisação na prática do ator, e justamente o interessante desta pesquisa é o
que os atores levam para cena, que não é uma simples improvisação, mas a
presença viva e potente que esta pesquisa proporciona para a dupla de artistas.
Dentre
todos os elementos do espetáculo a presença e disponibilidade dos atores são
admiráveis, pois a narrativa é fragmentada, privilegiando o corte e a produção
de sentidos através das imagens dos corpos em ação. As metáforas presentes na
cena são recheadas de signos que faz com que cada espectador elabore seus
sentidos a partir de suas experiências pessoais. Textos como o do peixe que quer pular para fora do
aquário ou fragmentos como a cena do cinema expõe o cerne da proposta, que
é trazer à tona a questão da morte, porém de forma leve, dentro de uma proposta
teatral, de um jogo onde se misturam o passado, o presente, a memória real
(relato dos espectadores) versus a memória ficcional (dramaturgia e relatos dos
atores).
E
quanto aos atores a presença de ambos é a força motriz da peça, com grande
disponibilidade corporal, além de os mesmos serem os responsáveis pela operação
da iluminação e sonoplastia. Marcia Berselli consegue construir uma figura que
demostra sua verdade através do olhar e de seus movimentos limpos, precisos e
ajustados. André Macedo demostra ótima preparação corporal, mas percebe-se uma
ansiedade que em diversos momentos atrapalha na fruição da cena. Macedo é o
responsável por criar figuras que fazem parte da narrativa, como o gato, por
exemplo, figuras estereotipadas, mas que funcionam dentro do contexto da obra.
A
iluminação é básica e simples, mas se utiliza de momentos de penumbra, onde em
algumas cenas percebemos apenas a presença dos corpos em cena, vultos que se
deslocam, e dançam, detonando o espirito poético deste experimento cênico que
encerra com um lindo texto.
Elenco:
André Macedo e Marcia Berselli
Orientação:
Professora Laura Backes
Grupo
Duo em Contato: www.duoemcontato.blogspot.com.br