Ousadia
ao pé do ouvido
Ao participar da performance
“Domínio Público, refleti sobre as várias questões relacionadas ao ato teatral,
esta forma de expressão tão importante para o homem desde seus primórdios, dentro
de um campo artístico, tão vasto e complexo. Sua função social tem sido
constantemente redefinida, mas desde muito antes de nossa era até hoje, nunca
deixou de existir. Existe no homem algum impulso que necessita deste
instrumento de diversão e conhecimento. Definir teatro é algo muito difícil, já
que seu significado transforma-se junto com a sociedade na qual se insere.
Também conjeturar como fazer teatro não é fácil, uma vez que essa forma de arte
reveste-se de infinitas maneiras de apresentar-se.
As premissas do
acontecimento teatral partem do seguinte pressuposto: Um espaço, um homem que
ocupa esse espaço, outro homem que o observa. Entre ambos, a consciência de uma
cumplicidade. O primeiro mostra um personagem e um comportamento deste
personagem numa determinada situação, enquanto que o segundo sabe que tem
diante de si uma reprodução, improvisada ou previamente ensaiada, de
acontecimentos que imitam ou reconstituem imagens da fantasia ou da realidade.
O primeiro é movido por um “impulso criativo” que incorpora emoção e razão. O
segundo assiste passiva ou ativamente, numa cerimônia que faz fugir da própria
realidade para o mergulho num universo de encantamento ou ilusão, ou ao
contrário, aprofunda o conhecimento lúcido e crítico da própria realidade e dos
fenômenos que o cercam.
E “Domínio Público” faz
repensar o modo como encaramos a espetacularidade, principalmente num espaço
público. A performance é um grande jogo onde o público transforma-se em
protagonistas da ação, através de fones de ouvidos distribuídos a alguns
privilegiados, enquanto outros espectadores assistem a ação daqueles que estão
sendo guiados por instruções dadas ao pé do ouvido.
O grande grupo movimenta-se
através de provocações que nos chegam através dos fones, e a partir disso vai
se criando uma dinâmica interessante, divertida e que vai revelando informações
dos participantes, pois as questões lançadas são de ordem social, política e
muitas vezes íntimas, são essas questões que determinam o movimento das peças
deste grande tabuleiro.
Uma performance ao mesmo
tempo simples em sua proposta, mas com uma logística que tem que ser bem
eficiente, pois coloca no centro de sua ação, transeuntes, que ficam a
disposição para vivenciar esta grande experiência de ocupar o espaço público.
Ao final, adentramos num
espaço, onde visualizamos bonecos (imagem acima) que representam diversos tipos
sociais e no telão são projetados os nomes de cada anônimo que
"atuou" na performance. Uma experiencia muito interessante.