Tudo Pode Dar Certo dirigido por Catharina Conte, abriu a programação do projeto Novas Caras da Coordenação de Artes Cênicas. Baseado no filme Whatever Works, de Woody Allen a peça traz a história de Boris, um intelectual amargurado com o mundo em que vive, sem esperança nos seres humanos e na sociedade, que tem sua rotina alterada com a visita de uma jovem vinda do interior, fugindo da clausura retrógrada de seus pais, católicos fervorosos. Percebendo sua fragilidade, Boris permite que ela fique no apartamento por alguns dias. Ela se instala e, com o passar do tempo, não aparenta ter planos de deixar o local. Até que um dia lhe diz que está interessada nele. A partir desta premissa, muitas histórias vêm à tona, dentro deste espetáculo que é resultado de uma oficina de iniciação ministrada pela diretora, na escola da Cômica Cultural, escola responsável pela formação de uma geração de atores na cidade. Enquanto primeira experiência, o espetáculo alcança um resultado satisfatório, demostrando que a maioria destes alunos/atores iniciou suas atividades na arte teatral com o pé direito.
E estar participando de um projeto como este, dá visibilidade ao trabalho, o que possibilita receber uma critica já no primeiro trabalho, e isto pode ser ruim, dependendo de cada ator, mesmo a crítica sendo positiva ou negativa. No caso positivo, pode levar ao ator a acomodar-se e achar que é um grande ator, se inflamando e deixando de buscar formação, e no caso de uma crítica negativa, de desestimular o aluno em sua busca teatral, o que não é o caso aqui, que vem apenas para comentar e através disto trocar ideias sobre o espetáculo apresentado.
O trabalho em sua essência é simples, sem grandes cenários e figurinos, e se estrutura através da presença dos atores, que se esforçam para seguir as marcas da cena, que são limpas e claras. A proposta abusa dos clichês, mas que dentro da proposta é bem aproveitado.
A encenação divide o número de atores em aproximadamente cinco personagens: Boris, a jovem e seus pais e mais alguns personagens que se colocam na ação em forma de revezamento, permitindo que cada ator tenha a oportunidade de experimentar as personas centrais, evidenciando mais de uma faceta do mesmo personagem. Por outro lado, isso atrapalha por não permitir aos atores iniciantes, uma busca mais aprofundada, já que o sistema de revezamento exige uma troca rápida, apesar de algumas soluções encontradas serem bastante eficientes. Neste caso a sugestão seria de cada aluno/ator pudesse construir apenas um personagem, mesmo que tenha uma participação pequena, porém mais consistente.
Destacar algum ator é até injusto, pois estão todos no mesmo estágio, dedicados e entregues ao ato teatral, e o que eu mais admiro nos espetáculos de finalização de oficinas é o frescor e a vontade de estar no palco dos jovens atores, e isso é muito gostoso de ver. Mas dentro deste elenco, destaco o elenco masculino, e entre eles a presença do ator que faz o terceiro e último Bóris, pois conseguiu captar a essência do personagem, o jeito rabugento e falastrão, potencializando detalhes que os outros atores não atingiram, e também a presença de Anelise Ferreira, que tem vivacidade nas suas construções, uma firmeza e segurança em estar no palco.
Outro destaque da peça é a quebra da quarta parede, onde o protagonista provoca tanto aos espectadores quanto aos atores, afirmando que tem gente acompanhando a ação da peça, sendo que ao final essa quebra é provocada pelos demais atores, subvertendo o jogo e o discurso do Bóris.
“Tudo pode dar certo” é um espetáculo leve, divertido e que deve ser incentivado por revelar novos atores, e o trabalho de formação é muito importante por mostrar novos talentos a cidade.
Direção: Catharina Conte Cecato
Elenco Andressa GH, Anelise Ferreira, Anelise Fruett, Carolina Azambuja, Clarice Cerentini, Diego Pessoa, Ismael Goulart, Jade Knorre, Juliana Minho, Márcia Rapetto, Maurício Schames, Nina Moreira e Roberta Roche e participação especial de Emilio Farias.