sábado, 1 de junho de 2019

FÁBRICA DE ROBÔS - CRÍTICA

A imagem pode conter: 5 pessoas, pessoas em pé

TRABALHO INVENTIVO E RIGOROSO

por Diego Ferreira*

"Fábrica de Robôs" é um espetáculo ousado em sua concepção. Resultado do Curso de Formação de Atores da Casa de Teatro ganha tratamento profissional ao participar do projeto Novas Caras. Os diretores souberam explorar muito bem a questão da humanidade ou a falta dela através da narrativa baseada na obra de Karel Tchápek que apresenta o cotidiano de uma gigantesca empresa de tecnologia responsável pela criação de máquinas tão perfeitas que seriam capazes de substituir o ser humano em todas as suas funções. Entre arquivos corrompidos, falhas no sistema e respostas automáticas, a peça questiona os limites da humanidade. Chama atenção a questão estética bem explorada em todos os detalhes, desde a grande estrutura cenográfica, que os atores exploram de forma bastante criativa e eficiente, até a iluminação perfeita de Ricardo Vivian, que além de auxiliar no apelo visual e estético da obra consegue extrair nuances, texturas e plasticidade em todas as cenas. Os figurinos de Titi Lopes também tem uma sacada genial, que traz elementos que identificam os robôs e os demais personagens, além de brincar com a desconstrução de peças, sobreposição de texturas, cores sóbrias e estampas, que levam para a cena uma paleta de cores que traduzem muito bem a proposta do espetáculo. A trilha sonora e principalmente a emissão vocal dos atores estão super alinhados graças ao trabalho de Everton Rodrigues. O elenco é numeroso e coeso e joga o tempo todo junto, e o grande destaque do trabalho é o coletivo, onde ninguém destoa de ninguém ou sobressai aos demais atores, sendo este um dos muitos pontos positivos do trabalho, assim como a direção de Camila Bauer que mais uma vez coloca em cena um trabalho inventivo e rigoroso, conseguindo extrair o que há de melhor dos atores. 
O único aspecto negativo do trabalho é a virtuose exacerbada de alguns atores, pois o trabalho tem uma disposição bastante física do elenco, e esta disponibilidade é fantástica, porém alguns atores extrapolam e é justamente onde a virtuose aparece além da conta, exatamente onde ações são executadas apenas demonstrando o quanto determinado ator sabe dominar seu corpo, mas a sua ação está fora do contexto da cena. A dramaturgia de Pedro Bertoldi, Camila Bauer e Carina Corá traz um texto político e atual e consigo traçar um paralelo com o (des)governo brasileiro, que ao focar sua gestão apenas em questões ideológicas, retira verbas de areas extremamente importantes como a educação, cultura, filosofia e sociologia, areas que tem a função de estimular a troca de saberes e fomentar o pensamento critico, e o paralelo é justamente  que um tipo de (des)governo como este é o de transformar os homens em robôs, extraindo das pessoas/máquinas apenas o que lhe convém. E por isso é muito pertinente a dramaturgia do espetáculo por lidar com metaforas inerentes ao homem contemporâneo. 

Ficha Técnica: 
DIREÇÃO: Camila Bauer.
DIREÇÃO COREOGRÁFICA: Carlota Albuquerque.
DIREÇÃO MUSICAL: Everton Rodrigues.
DRAMATURGIA: Pedro Bertoldi, Camila Bauer e Carina Corá, escrita colaborativamente a partir de textos do elenco e da obra Fábrica de Robôs, de Karel Tchápek.
CRIAÇÃO E OPERAÇÃO DE LUZ: Ricardo Vivian.
CONCEPÇÃO DE CENÁRIO E FIGURINO: Turma design cênico da Casa de Teatro (Fábio Moreno, Giovana Dotto, Júlia Lopes, Márcia Lopes, Pedro Freitas e Walter Diehl).
CENOTÉCNICOS: Paulo Ricardo de Oliveira, Gabriel Martins e Carlos Ramiro Fensterseifer.
CONFECÇÃO DE FIGURINOS: Titi Lopes.
COORDENAÇÃO DA EQUIPE DE CENÁRIO E FIGURINO: Carlos Ramiro Fensterseifer e Nara Lucia Maia.
CONCEPÇÃO DE MAQUIAGEM: Leandra Kruger.
MAQUIAGEM: O elenco.
TÉCNICO E OPERADOR DE SOM: Vitório Azevedo
DESIGN GRÁFICO: Henrique Lago
ARTE: Artur Luzardo
TEASER E VÍDEOS DO ESPETÁCULO: Pedro Martins Spieker, Renata Lorenzi e Rafael C. Dornelles.
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Ewillyn Lopes
ELENCO: Alexei Goldenberg, Artur Luzardo, Cristiano Nascimento, Ewillyn Lopes, Franco Mendes, Gabriel Martins, Helena Sá, Henrique Lago, Leandra Kruger, Luiza Waichel, Natália Ferreira, Rafael Dorneles, Renata Lorenzi, Yuri Amaral, Zé Passos.

*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.