"Zuccos" é um espetáculo que veio de Porto Alegre e trata-se de uma adaptação do texto Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès. Pautado na fragmentação, o espetáculo constrói um grande painel repleto de signos que muitas vezes acabam não auxiliando na comunicação com o espetador. O texto do Koltès já é pautado pela fragmentação, mas cada fragmento vai se estruturando e compondo uma rede que traça o perfil do serial killer Zucco. O mesmo não acontece neste experimento de "Zuccos", pois existem micro-cenas que isoladas, acabam não comunicando nada e dentro da grande estrutura aparecem soltas e deslocadas.
São muitos os elementos presente na cena e é preciso ter o cuidado de que cada um esteja ali presente pela necessidade e não para preencher a cena de imagens esteticamente belas. Porque os méritos da peça são justamente essas imagens criadas pelo elenco, que tem disponibilidade e precisão, imagens poéticas como a cena dos balões vermelho, ou até mesmo a cena em que a atriz utiliza a farinha como elemento. São cenas belas, bonitas que funcionam muito bem enquanto plástica, mas que perdem dentro do contexto da dramaturgia, atrapalhando o entendimento da peça. Entendo que a proposta é experimental, mas mesmo trabalhos com este caráter, querem se comunicar com a platéia, com seu interlocutor e por isso sugiro este cuidado em selecionar o que realmente é necessário para se contar a história de Zucco e o que não é.
Por exemplo, no proscênio do palco a diversas partes de bonecas, assim como nas laterais da platéia existe a presença de painéis cheio de recortes de jornais que não significam nada, estão ali por estar, os restos de bonecas são ótimos, porém não são utilizados em nenhum momento. Outro demérito é a projeção de vídeo, que é bacana, moderna, mas o elenco não pode se tornar refém disso, pois quando não funciona o equipamento a cena tem que funcionar sem este recurso.
Algumas vezes a ação acaba não se desenrolando, com por exemplo, na cena dos balões vermelhos, que esteticamente é linda, mas acaba caindo na obviedade sem o fator surpresa, pois sabemos de antemão que todos passaram pela experiencia de compartilhar os seus depoimentos.
A cena do assalto do carro foi reconstruída e consegue alcançar um resultado ótimo. Assim como a cena dos balões.
Um dos pontos altos foi a inserção de vídeos sobre assassinos da história e me chama a atenção um trecho sobre o Nardoni, pois ali eu achei o que não consegui visualizar durante a peça, ali encontrei o cerne que é a violência e a alteridade humana, e para o jovem elenco falta isso, a potencialidade da violência, a gana, o frágil, humano e animal irracional de Zucco, essas diversas facetas que compõe o perfil deste personagem que pode render e muito dentro do espetáculo.
Que bom que tem um elenco que consegue sustentar a proposta, mas ainda creio que o caminho seria buscar uma profundidade maior na construção dos personagens e na sua relação com os demais personagens. No elenco coeso destacam-se as presenças de Catharina Conte e Anna Júlia Amaral, pela presença e força empregada na construção das personagens, conseguindo um pouco melhor que os demais, sair das marcas da cena e agir de modo mais natural.
A trilha sonora executada ao vivo é boa e pontual, auxilia muito na construção da peça, mas a proposta se contradiz quando é utilizada uma trilha mecânica e o músico ali no palco sem fazer nada. A sonoridade provocada pelas facas, que eu chamei de violino de facas, não funciona, pois não significa nada e o som acaba não chegando no público nem tão pouco reverberando na cena.
Gostaria de parabenizar o coletivo pelas escolhas e soluções e sei o quão difícil é querer explicar Koltès e sua obra, e talvez o mérito da montagem seja este, de fugir dos clichês e tentar buscar vários significados as intenções do autor, e a busca de novas soluções pode ser uma alternativa, mas atentando apenas para não se perder num emaranhado de simbologias que utilizadas de modo demasiado pode significar nada.
Diretor: O grupo
Autor: O grupo
Contra-regra:
Sonoplasta: Thiago Tavares, Flavio Aquino e Pingo Alabarce
Criador da trilha sonora: Flavio Aquino
Iluminador: Thiago Tavares
Criador da iluminação: Aline Jones
Maquiador: O grupo
Criador da maquiagem: O grupo
Figurinista: O grupo
Cenógrafo: O grupo
Elenco:
Anna Júlia Amaral
Paulo Roberto Farias
Isadora Pillar
Aline Jones
Catharina Conte
Diego Ferreira - Comentador Crítico do Montenegro em Cena