"Quase amores" é uma adaptação do livro "Dez (quase) amores" de Cláudia Tajes realizada por Ana Makki para o Grupo OTC. O livro retrata a vida de Maria Ana e seus encontros e desencontros amorosos. A adaptação para o palco é correta, mas não adequada para este grupo de jovens atores. Penso que este tipo de texto não é o mais adequado para ser trabalhado com jovens. Primeiro por se tratar de um texto que não é dramaturgia, e penso que ao se trabalhar com jovens o bacana seria selecionar um texto, que a priori, pudesse auxiliar na construção do espetáculo favorecendo a construção de personagens que fossem mais palpáveis aquele grupo, pois aí poderia ocorrer uma internalização dos personagens, e os atores poderiam se ajustar melhor dentro do contexto. E isto é uma função do diretor, ter essa visão exterior, uma visão sistêmica de enxergar o que o seu elenco pode render em determinado contexto. Existe uma infinidade de textos que vão ao encontro da proposta de teatro jovem que pudesse melhor aproveitar o elenco, proporcionando a este elenco uma maior diversão em cena, que não ocorre aqui.
Para mim este é o problema chave, como o elenco é demasiado jovem não consegue se apropriar das questões abordadas pela narrativa da peça, e acabam apenas seguindo as marcas, pois é lógico, estes pequenos não tem estofo para contar a história de relações amorosas que ainda não vivenciaram. Daí as ações e interpretações são construídas em cima de esteriótipos, sem ritmo deixando uma infinidade de vácuos na ação, cada vez que um personagem se deslocava em direção a arara de roupas e adereços localizada no centro do palco, este tempo não era utilizado para nada. Outra questão é a presença desta arara em cena, na minha opinião, ela não precisava nem existir, nem tão pouco as roupas e acessórios, pois não acrescentam em nada na ação, pelo contrário, atrapalham e deixam a cena bastante literal. Como sugestão eu aboliria todos os elementos, deixaria apenas os pufes, e investiria na construção de cada personagem, de cada tipo ou de cada esteriótipo, mas sem a utilização e troca-troca de roupas, o que acaba sendo apenas uma bengala para o ator, pois não altera em nada nos personagens. O figurino preto básico funciona muito bem e poderia ser assumido enquanto teatralidade, e ao invés de a cada troca de personagem eu trocar de roupa, experimentar trocar o corpo do ator, a voz, o deslocamento, sem acessórios, apenas no trabalho do ator, creio que otimizaria a questão do tempo, equalizaria a questão espacial e ainda por cima poderia auxiliar na construção de um outro ritmo, necessário em montagens como esta, que trabalha através da composição e desconstrução de tipos.
Os atores agem como atores-narradores, outro aspecto que não funciona porque o narrador tem o mesmo tônus do personagem, (ou melhor não tem tônus, nem físico nem vocal, não acontece uma diferenciação).
Ao elenco sugiro que esqueçam as marcas da direção e que procurem se divertir em cena, as situação apresentadas podem ser engraçadas, não pela piadinha gratuita, mas pelo modo como cada ator abordar seu trabalho.
A montagem apresenta uma sucessão de equívocos em sua execução, como por exemplo: Matheus Kleinubing com seu personagem Reginaldo consegue construir um tipo engraçado, porém enquanto conversa com sua colega de cena, não olha para ela, mas sim para a platéia, uma especie de triangulação, outra cena é a da churrascaria, onde os elementos são objetos invisíveis mas então porque colocar as roupas dos personagens? É isso que eu sugiro, de decidir qual linguagem vai utilizar e investigar a fundo, trabalhar a força do elenco, brincar mais com as nuances da iluminação, pois ela pode ser o delimitador do espaço e dar esta diferença que não é alcançada com a simples troca do figurino.
Cássio poderia amarrar melhor todos os elementos e seguir adiante com a peça, mas tentando provocar neste elenco uma tensão, e esta tensão transformada em ação e energia.
Ficha Técnica:
Diretor: Cássio Schonarth
Assistente de Direção: Laura Trein
Autor: Adaptação de Ana Makki para o texto “Dez (quase) Amores” de Cláudia Tajes
Contra-regra: Matheus Chisté
Sonoplasta: Cássio Schonarth
Criador da trilha sonora: Cássio Schonarth
Iluminador: Ana Makki
Criador da iluminação: Ana Makki
Maquiador: Ana Makki e OTC
Criador da maquiagem: Ana Makki
Figurinista: Leopoldo Schneider
Cenógrafo: OTC – Oficina de Teatro do Clak
Elenco:
Amanda Pietra Varela
Carolina Conte Simon
Felipe Chisté
Gabriela Waszlavick Silva
João Pedro Caron
Matheus Kleinubing
Matheus Wollmann da Costa
Natalia de Oliveira Martins
Nathália Steffen
Diego Ferreira - Comentador Crítico do I Montenegro em Cena