quinta-feira, 20 de junho de 2019

TOCAR PARAÍSO (RS)

Apresentação terá três narrativas diferentes

ALARGAMENTO DE POSSIBILIDADES PARA TOCAR O PARAÍSO


por Diego Ferreira*

"Tocar Paraíso" é o resultado do projeto "Transit" promovido pelo Instituto Goethe com parceria do Palco Giratório. O espetáculo parte do texto de Thomas Kock que parte de uma escrita vertiginosa e verborrágica para falar sobre temas da nossa contemporaneidade que pode ser dura, trágica ou poética dependendo sempre de que ponto de vista que estamos. O texto utiliza em uma das suas abordagens a metáfora do trem, onde histórias são atravessadas através de uma gama de possibilidades textuais que se utilizam de uma ironia e sarcasmo caracteristico e que torna o texto uma verdadeira potência, mas que as vezes pelo fato da fragmentação e velocidade de proposições o texto de Kock se esvai e escorre, tirando um pouco o foco do espectador, mas graças a direção de João de Ricardo o texto ganha uma encenação que tem a assinatura da Cia. Espaço em Branco, colocando em cena o resultado de uma pesquisa que vem desenvolvendo ao longo dos anos junto ao coletivo. O que me chama a atenção neste trabalho é a apropriação do texto e o alargamento das possibilidades que o coletivo alcança. No palco assistimos um espetáculo que potencializa o texto através de imagens criadas a partir dos corpos dos atores, imagens poéticas e metafóricas que desnudam os discursos do homem ocidental. 
A iluminação de João de Ricardo e Lucca Simas tem papel importante na construção deste universo imagético, assim como a utilização de todo o espaço do teatro do Goethe, inclusive as areas externas. A trilha sonora de Daniel Roittman e Rodrigo Fernandez também tem grande importância e relevância, pois é tamanha a funcionalidade que o ambiente sonoro produzido tem no espetáculo que interfere diretamente na cena. 
O elenco é fantástico, todos sem exceções, pois soube se conectar as ideias de Koch, mas principalmente a linguagem do encenador, pois todos os atores e atrizes estão conectados e disponíveis para tocar o paraíso e nos fazer conhecer tal paraíso. Um elenco que utiliza seu corpo/voz a serviço de construir um discurso cênico que provoca um discurso político e isso é sempre bem vindo.Todos cantam/dançam/interpretam/representam com muito sarcasmo e presença. Sem dúvida mais um grande trabalho da Cia. Espaço em Branco e de seu encenador João de Ricardo. 


Ficha Técnica

Direção: João de Ricardo – JdR
Texto: Thomas Köck com tradução de Christine Höhrig
Elenco: Anildo Böes, Eduardo d’Avila, Evelyn Ligocki, Fernanda Carvalho Leite, Iandra Cattani e JdR
Luz: JdR e Lucca Simmas
Som ao vivo: Daniel Roitman e Rodrigo Fernandez
Figurinos, produção e divulgação: Cia. Espaço em BRANCO
Vídeos e fotos: Bruno Gularte Barreto
Estagiário de luz e contra-regra: Thales Ramsés


*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle. 

quarta-feira, 12 de junho de 2019

MACBETH E O REINO SOMBRIO (RS)

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas dançando, barba e atividades ao ar livre

ATORES BRILHAM EM PRODUÇÃO ACERTADA DIRIGIDA AS CRIANÇAS

por Diego Ferreira*

"Macbeth e o Reino Sombrio" é a grande sensação do teatro gaúcho por vários motivos e o primeiro deles parte da coragem do Coletivo Órbita em transpor aos palcos a tragédia "Macbeth", e para complicar um pouco mais, dirigilá-las as crianças. E não é que deu certo. Digo mais: muito certo, pois o espetáculo é excelente e parte de elementos muito simples para contar a história sangrenta que envolve poder. No palco temos um cenário extremamente simples composto por tecidos e escadas. Uma iluminação bastante simples e acertada de Bathista Freire e uma trilha sonora funcional de Rafael de Carli, ou seja, todos esses elementos são simples e básicos justamente para deixar brilhar o trio de atores Camila Pasa, João Pedro Decarli e Rodrigo Waschburger e a boa adaptação do texto que se tornou essencial, adaptando a obra aos pequenos, mas mantendo a complexa história do bardo. A direção é de João Pedro Decarli que também atua ao lado de Camila e Rodrigo. Os três dão um verdadeiro show no palco, pois cantam, dançam e executam uma série de acrobacias para dar conta de interpretar diversos personagens que desfilam durante a encenação. Os três atores estão excepcionais, e está neles o acerto da produção, pois não é fácil fazer Shakespeare, ainda mais para crianças e a direção soube escolher muito bem os adereços e acessórios que caracterizam cada personagem, assim como a ótima utilização da escada como elemento cenográfico. Um bom teatro que deixa de lado todo tipo de esteriótipos que surgem quando tratamos de teatro infantil. Essa experiência reforça a importância da universidade pública e de qualidade, pois o trabalho, assim como todo o elenco é, ou foi aluno da UERGS: Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, que desenvolve um trabalho de formação de artistas/professores muito importante e que precisa ser mantida e valorizada. Vida longa ao Macbeth e ao Coletivo Órbita!!!  

Texto inspirado de Macbeth de William Shakespeare. Direção: João Pedro Decarli. Elenco: Camila Pasa, João Pedro Decarli e Rodrigo Waschburger. Criação de trilha sonora original e operação: Rafael Decarli. Criação de luz e operação: Bathista Freire. Figurino e cenário: o grupo. Artes Gráficas: Ana Paula Decarli Crédito das fotos do espetáculo: Estevão Dornelles

*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle. 



domingo, 9 de junho de 2019

A FOME (RS)

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ESFACELAMENTO DA CENA SEM FRONTEIRAS

por Diego Ferreira*

Escrever sobre o espetáculo "A Fome" é uma tarefa ampla e desafiadora, pois o espetáculo se desenrola e se transforma no tempo e no espaço através da multiplicidade de camadas. A complexidade da produção parte de uma infinitude de corpos, de modos de existência e de expressão para colocar no centro da cena circunstâncias míticas e críticas sobre o feminino. A Cia. Espaço em Branco através da direção de João de Ricardo consegue nos provocar e nos surpreender e apresenta um espetáculo forte, intenso, impactante e que mantém a estética da Cia. já explorada em outros trabalhos, porém, aqui, a cena ganha uma dimensão maior, articulando conceitos, percepções e possibilidades que rompem com as convenções e levam a intérprete as últimas consequências, numa atuação louvável de Sissi Betina Venturin, que materializa este corpo/voz que tem uma fome voraz, pela vida. A dramaturgia de Sissi e Marcos Contreras é construída através de pequenos espasmos, contrações e divagações, fugindo das unidades de tempo/espaço e investindo numa voz que dialoga com o agora, investigando o espectador a traçar paralelos, a pensar e dialogar com questões éticas, antropológicas, filosóficas e sociais, sobretudo num tempo em que precisamos falar sobre feridas abertas da colonização e suas violências. Um texto forte e impactante, merecedor do recente Prêmio Açorianos que o espetáculo recebeu. 
A interpretação/representação de Sissi é de uma força e magnitude, que a atriz (que é pequenina em estatura) cresce e se agiganta, tornando-se um monstro em cena. Sissi domina muito bem o seu instrumento vocal/corporal e através deste dominio transita entre a performance, o teatro e a dança. Impossível parar de olhar a intérprete, pois através de sua presença cria uma relação forte e palatável com a platéia. 
Sissi emana através do seu corpo a resistência, a força, a ancestralidade, a ética, a persistência de seguir adiante, afetando-se por atravessamentos que permeiam as questões do nosso tempo. Realmente uma grande atriz e não é de hoje. 
E junto com ela tem a marca de um encenador inquieto que está sempre buscando novas possibilidades para a cena. Ao assistir um espetáculo de João de Ricardo sabemos já de antemão que vamos ser provocados o tempo inteiro, instigados a chegar em outros lugares que ainda não foram explorados. Na cena não existem fronteiras, pelo contrário, as estruturas são esfaceladas e reinventadas. Cabe ressaltar a iluminação de Carina Sehn que explora muito bem as diversas possibilidades cênicas, uma luz que as vezes é mínima, depois avança para a macro, oscilando entre focos e led's para criar este espaço atemporal. Uma luz impecável. 
"A Fome" é sem dúvida um trabalho que me conquistou muito, que me instigou e puxou o meu tapete, e isto é louvável.

FICHA TÉCNICA:
Direção: João de Ricardo
Atuação: Sissi Betina Venturin
Dramaturgia: Marcos Contreras e Sissi Betina Venturin
Trilha sonora: Daniel Roitman e grupo
Iluminação: Carina Sehn. Vídeos: Jana Castoldi
Figurinos, produção e divulgação: João de Ricardo e Sissi Betina Venturin
Fotografia: Morgana Mazzon


*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle. 

sábado, 8 de junho de 2019

DAS CINZAS CORAÇÃO (RS)

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PEQUENA JÓIA RARA

por Diego Ferreira*

"Das cinzas coração" é daqueles espetáculos que são verdadeiras jóias raras nos palcos brasileiros e digo "pequena jóia rara". Me refiro ao espetáculo como "pequena jóia" simplesmente pela duração do espetáculo, que é curtinho, mas um grande espetáculo considerando sua magnitude e relevância dentro de uma pesquisa de linguagem. 
O espetáculo se pauta na utilização de linguagens como o circo, o cinema-mudo, o clown, a música executada brilhantemente ao vivo para mais uma vez trazer a tona histórias de opressão feminina que aconteciam (acontecem ainda!) no início do século passado. Durante muitos e muitos anos falar e até mesmo rir de situações que colocavam a mulher num nível inferior ao homem era muito comum, porém hoje a história mudou um pouco, avançamos um pouco com leis de amparo a mulher em situação de violência, porém temos muito a avançar. Mas o espetáculo trás a tona isso, mas de uma forma extremamente criativa e crítica, pois Aurora se coloca dentro deste jogo estabelecido pelo homem, porém não se deixa sufocar por completo, a perceber pelo final do espetáculo. A produção foi muito feliz em todas as suas escolhas conseguindo realmente transportar o espectador para o universo do cinema mudo. Iluminação pontual, figurinos, maquiagem jogam juntos com a produção.  Destaque para o cenário que é super funcional e que foi premiado na última edição do Açorianos e também para a magnífica presença e trilha sonora de Arthur de Faria que executa a trilha ao vivo, uma experiência sonora fantástica. 
A dupla de atores é de extrema competência, Valquiria Cardoso através de um corpo expandido e uma força na comunicação não verbal, pois estabelece este jogo diretamente com a platéia e Jéferson Rachewsky na figura do marido está simplesmente sensacional, pois domina com maestria a arte clownesca e faz rir com domínio como ninguém. 
E para finalizar o espetáculo é realizada a exibição de um filme em preto e branco fantástico que foi inspiração para a criação, realmente a cereja do bolo.
"Das cinzas coração" é uma celebração e união dos grupos Teatro Ateliê e Quimera e com certeza merece circular pelo Brasil inteiro mostrando um trabalho de alta qualidade produzido no Rio Grande do Sul. 

Direção: Jéferson Rachewsky
Elenco e dramaturgia: Jéferson Rachewsky e Valquíria Cardoso

Trilha sonora: Arthur de Faria
Concepção visual e figurinos: Valquíria Cardoso
Cenografia: Alex Limberger e Valquíria Cardoso
Adereços: Diego Steffani e Valquíria Cardoso
Criação de luz: Osvaldo Perrenoud
Operação de luz: Daniel Fetter
Operação de vídeo: Alex Limberger
Produção: Quimera Criações Artísticas e Teatro Ateliê


*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle. 

sábado, 1 de junho de 2019

WHATSAPP PARA SHAKESPEARE (RS)

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TRADUÇÃO PALATÁVEL AO ESPECTADOR CONTEMPORÂNEO

Especial 14º Palco Giratório

                                                                                                por Diego Ferreira*

"Whattsapp para Shakespeare" é uma grata surpresa em nossos palcos. Primeiro por trazer Shakespeare a tona, porém desta vez de um modo bastante particular. A escritura do Bardo foi traduzida e marcada nos corpos dos bailarinos/intérpretes da Canoas Cia. de Dança, e o espetáculo acerta em cheio, pois Shakespeare é demasiadamente encenado (graças aos deuses!), porém muitas vezes os caminhos não são os melhores. Mas o espetáculo dirigido por Carlota Albuquerque vai na contramão disso e transborda o palco de criatividade e inventividade. Trata-se de um espetáculo híbrido que mescla diversas linguagens como o teatro, a dança, a música e as artes plásticas, que consegue unir o contemporâneo com o universo clássico de Shakespeare. A estética da produção enche os olhos, pois os figurinos de Fabrizio Rodrigues são belos e eficientes em cena, pois se utiliza de materiais como jeans aliados a gola rufo, reutilizando peças de uso cotidiano, transformando em peças cênicas de modo bastante peculiar já característico no trabalho de Fabrizio. 
O coletivo apropria-se de Shakespeare para falar do mundo e das relações hiperconectadas e desencontradas inerentes ao ser humano, o uso de aplicativos e redes sociais que aproximam e ao mesmo tempo afastam e esfriam as relações. A estética da produção enche os olhos, pois mescla imagens oníricas e fantásticas e que para isso funcionasse em cena, foi fundamental a equipe técnica de luxo que a produção tem, como os já citados figurinos de Fabrizio Rodrigues, a iluminação de Guto Greca que pincela e tinge a tela branca com as cores e texturas que são belíssimas demais. Na equipe também Alvaro RosaCosta que assina o desenho de som e é mestre em traduzir em experiências sonoras as sensações corpóreas do trabalho. Outro ponto positivo é a presença do ator Tom Peres que faz este elo entre a narração e a presentificação do autor em cena, dando um tom cômico e aos mesmo tempo situando o espectador no tempo/espaço atemporal da obra. Creio que com este espetáculo Carlota Albuquerque consegue encontrar neste jovem coletivo uma afirmação do seu trabalho e por que não uma renovação de seu próprio trabalho, que acompanho em espetáculos como "E lá na ve no vá", "Mulheres Insones", "Ditos e Malditos", "Piazzolla Coreografo", "O banho", entre outros. 
Diante de tudo isso, é louvável o surgimento e a criação do Canoas Coletivo de Dança que carrega consigo o nome de uma cidade e espero que o município apoie e valorize este e tantos outros grupos da cidade. Mas é importante pelo fato de revelar mais um coletivo forte e vigoroso em cena, onde todos os bailarinos/intérpretes são qualificados e demonstram em cena grande potencial criativo e de internalização das propostas da direção. O coletivo através de seus corpos e suas presenças conseguem o milagre de traduzir o clássico e deixá-lo palatável ao espectador contemporâneo. Realmente um trabalho fantástico.

Ficha técnica:
Concepção e Direção: Carlota Albuquerque
Intérpretes criadores: Carini Pereira, Caroline Fossá, Danielle Costa, Leslie Taubê, Leonardo Patro, Roberto Mendes, Tiago Ruffoni e Tom Peres 
Artista colaboradora: Joana Wiladino 
Produção: Cristina Colares Pereira
Figurino: Fabrízio Rodrigues 
Iluminação: Guto Greca 
Desenho de som: Álvaro Costa 
Vídeomaker: Ricardo Vivian

*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle. 

FÁBRICA DE ROBÔS - CRÍTICA

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TRABALHO INVENTIVO E RIGOROSO

por Diego Ferreira*

"Fábrica de Robôs" é um espetáculo ousado em sua concepção. Resultado do Curso de Formação de Atores da Casa de Teatro ganha tratamento profissional ao participar do projeto Novas Caras. Os diretores souberam explorar muito bem a questão da humanidade ou a falta dela através da narrativa baseada na obra de Karel Tchápek que apresenta o cotidiano de uma gigantesca empresa de tecnologia responsável pela criação de máquinas tão perfeitas que seriam capazes de substituir o ser humano em todas as suas funções. Entre arquivos corrompidos, falhas no sistema e respostas automáticas, a peça questiona os limites da humanidade. Chama atenção a questão estética bem explorada em todos os detalhes, desde a grande estrutura cenográfica, que os atores exploram de forma bastante criativa e eficiente, até a iluminação perfeita de Ricardo Vivian, que além de auxiliar no apelo visual e estético da obra consegue extrair nuances, texturas e plasticidade em todas as cenas. Os figurinos de Titi Lopes também tem uma sacada genial, que traz elementos que identificam os robôs e os demais personagens, além de brincar com a desconstrução de peças, sobreposição de texturas, cores sóbrias e estampas, que levam para a cena uma paleta de cores que traduzem muito bem a proposta do espetáculo. A trilha sonora e principalmente a emissão vocal dos atores estão super alinhados graças ao trabalho de Everton Rodrigues. O elenco é numeroso e coeso e joga o tempo todo junto, e o grande destaque do trabalho é o coletivo, onde ninguém destoa de ninguém ou sobressai aos demais atores, sendo este um dos muitos pontos positivos do trabalho, assim como a direção de Camila Bauer que mais uma vez coloca em cena um trabalho inventivo e rigoroso, conseguindo extrair o que há de melhor dos atores. 
O único aspecto negativo do trabalho é a virtuose exacerbada de alguns atores, pois o trabalho tem uma disposição bastante física do elenco, e esta disponibilidade é fantástica, porém alguns atores extrapolam e é justamente onde a virtuose aparece além da conta, exatamente onde ações são executadas apenas demonstrando o quanto determinado ator sabe dominar seu corpo, mas a sua ação está fora do contexto da cena. A dramaturgia de Pedro Bertoldi, Camila Bauer e Carina Corá traz um texto político e atual e consigo traçar um paralelo com o (des)governo brasileiro, que ao focar sua gestão apenas em questões ideológicas, retira verbas de areas extremamente importantes como a educação, cultura, filosofia e sociologia, areas que tem a função de estimular a troca de saberes e fomentar o pensamento critico, e o paralelo é justamente  que um tipo de (des)governo como este é o de transformar os homens em robôs, extraindo das pessoas/máquinas apenas o que lhe convém. E por isso é muito pertinente a dramaturgia do espetáculo por lidar com metaforas inerentes ao homem contemporâneo. 

Ficha Técnica: 
DIREÇÃO: Camila Bauer.
DIREÇÃO COREOGRÁFICA: Carlota Albuquerque.
DIREÇÃO MUSICAL: Everton Rodrigues.
DRAMATURGIA: Pedro Bertoldi, Camila Bauer e Carina Corá, escrita colaborativamente a partir de textos do elenco e da obra Fábrica de Robôs, de Karel Tchápek.
CRIAÇÃO E OPERAÇÃO DE LUZ: Ricardo Vivian.
CONCEPÇÃO DE CENÁRIO E FIGURINO: Turma design cênico da Casa de Teatro (Fábio Moreno, Giovana Dotto, Júlia Lopes, Márcia Lopes, Pedro Freitas e Walter Diehl).
CENOTÉCNICOS: Paulo Ricardo de Oliveira, Gabriel Martins e Carlos Ramiro Fensterseifer.
CONFECÇÃO DE FIGURINOS: Titi Lopes.
COORDENAÇÃO DA EQUIPE DE CENÁRIO E FIGURINO: Carlos Ramiro Fensterseifer e Nara Lucia Maia.
CONCEPÇÃO DE MAQUIAGEM: Leandra Kruger.
MAQUIAGEM: O elenco.
TÉCNICO E OPERADOR DE SOM: Vitório Azevedo
DESIGN GRÁFICO: Henrique Lago
ARTE: Artur Luzardo
TEASER E VÍDEOS DO ESPETÁCULO: Pedro Martins Spieker, Renata Lorenzi e Rafael C. Dornelles.
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Ewillyn Lopes
ELENCO: Alexei Goldenberg, Artur Luzardo, Cristiano Nascimento, Ewillyn Lopes, Franco Mendes, Gabriel Martins, Helena Sá, Henrique Lago, Leandra Kruger, Luiza Waichel, Natália Ferreira, Rafael Dorneles, Renata Lorenzi, Yuri Amaral, Zé Passos.

*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.