segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

TERRA ADORADA (RS)





DRAMATURGIA-TESTEMUNHO ou 
UM GRITO SOLTO NO AR
por Diego Ferreira *(Especial Festival Porto Verão Alegre)

“A visão que você tem de terra, é muito diferente da visão que a gente tem. Não dá para você olhar para nós, povos indígenas, e pensar que a gente tem o mesmo entendimento de território como o seu. Que é de exploração, destruição, pensando em lucro, pensando em dinheiro. Não é esse o entendimento nosso. Para nós, o território é sagrado. Precisamos dele para nós existir. E vocês olham para a terra indígena e chamam de terra improdutiva. Nós chamamos isso de vida. (…) Nós defendemos a vida, nós defendemos a nossa identidade. Nós vamos derramar até a última gota de sangue para defender nossos territórios, para garantir a existência de nossos povos. (…) A gente quer ter o território para a gente continuar com o nosso modo de vida. (…) Num é porque você tá na cidade, num apartamento, numa mansão, que a gente quer isso para a gente também não.” 
Sonia Guajajara (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), 2019

    “Terra Adorada” se define pela hibridez de linguagens  que se cruzam na performance, baseado em um processo de construção das corporeidades e sonoridades dos povos originários que dialogam com narrativas vivenciadas em terras indígenas guaranis e kaigang, somadas ao testemunho e as memórias da atriz no interior do Rio Grande do Sul. Destaco a relevância da dramaturgia (Vencedora do 11º Prêmio Olhares da Cena 2020/2021), construída coletivamente por Ana Luiza da Silva, Jezebel de Carli e colaboração de Vika Schabbach, mãos de mulheres que escrevem, constroem e reconstroem a narrativa da performance acerca de uma pauta extremamente urgente e necessária, principalmente agora quando a tragédia humanitária que ocorre na terra Yanomami invade os noticiários, pelo descaso e violências que esse povo tem sido acometido nos últimos anos, mas que infelizmente não é um caso isolado, nem tão pouco uma exceção a todas as violências que os povos indígenas tem sofrido ao longo dos séculos nessa “terra adorada” chamada Brasil. E esse Brasil que vira as costas para os povos indígenas e que comete uma série de violências que são vivenciadas na performance. Por isso é de tamanha importância a vivência de Ana Luiza somadas as mãos de mulheres como Jezebel, Vika e tantas outras para evocar episódios de um país parido por mulheres.     O trabalho tem uma força tamanha que perpassa palco e platéia, como a cena da demarcação, onde a atriz/performer vai aos poucos isolando o pequeno espaço do Teatro de Arena, mas que ao mesmo tempo vai provocando o espectador, colocando uma pedrinha no calçado,  evidenciando uma metáfora de demarcação de território.  Assistimos uma série de cenas, irrupções, explanações, que não conseguem abarcar a dimensão dos povos indígenas em sua totalidade, mas o que assistimos representa com força e dignidade uma parcela que está sendo dizimada a muito tempo. A desconformidade na "dramaturgia-testemunho" provoca encontros entre discursos que, na divergência, dão tom de ironia à peça, expondo as tensões político-ideológicas entre as figuras construídas. O texto ganha complexidade no corpo/voz da atriz, mas também nos outros elementos da performance, como a projeção que trás uma série de vídeos que ajudam na tessitura da narrativa, assim como os elementos cênicos que são em sua maioria simples, mas que ganham grandes dimensões justamente por evocar situações no espaço que ajudam o espectador a embarcar na cena,  assim como o símbolo máximo do país, a bandeira nacional extremamente representativa nos últimos anos, já que assim como as terras indígenas foi apropriada de forma indevida. Violações demarcam os olhares externos à presença indígena, que segue resistindo dentro dessa terra pátria adorada inventada que é o Brasil. País nomeado pela presença de outrem. Desde a invasão portuguesa, o projeto de colonização se estruturou desprezando os corpos aqui presentes, inferiorizando experiências que eram distintas ao que entendiam como “normal”. Quando pensamos em lugar de fala e representatividade, parece que qualquer discussão nos leva a diagnosticar quem está apto ou não a falar sobre determinados sujeitos, subjetividades, saberes, culturas e vivências de outros grupos sociais. Nesse sentido "Dramaturgia-Testemunho" trás a cena essa narrativa pautada pela consciência, por um grito solto no ar, aliado a relatos de experiências vivas e vivificadas no tempo e no espaço, uma dramaturgia que grita ao evocar violências, genocídios, depredações, colonizações, explorações de territórios e vidas que há mais de 500 anos estão sendo dizimadas. 
 Sendo assim, é preciso dizer que “Terra Adorada” se coloca na cena com o desejo de legitimar um discurso muitas vezes abordado apenas nas aulas de história, de modo rápido e panfletário, mas aqui, diferente das abordagens escolares  o corpo e o discurso indígena está vivo, presente e com um discurso urgente. E essa vivacidade é materializada em cena pela pesquisa e atuação de Ana Luiza da Silva através de uma performance arrebatadora. Daquelas que ao mesmo tempo faz pensar, refletir através do dedo na ferida, mas ao mesmo tempo dizer que projeto sensacional. 
    "Terra Adorada" é ao mesmo tempo um sopro de vida, um alento e um soco no estômago. Uma força cênica contemporânea cheia de cruzamentos e entrelaçamentos e linguagens, mas diferente de outras experiencias modernas aqui, o resultado não fica apenas na forma justamente pelo discurso potente que a narrativa carrega consigo. E esse discurso não é uma fábula ou historinha qualquer, é ficção, é teatro, é performance, mas é real. É urgente. É já!


FICHA TÉCNICA
Direção: Jezebel de Carli e Ana Luiza Silva
Dramaturgia: Jezebel de Carli, Ana Luiza da Silva com colaboração de Vika Schabbach
Elenco: Ana Luiza da Silva
Trilha Sonora Pesquisada: Ana Luiza da Silva
Iluminação: Carol Zimmer


*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS."


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

VENCEDORES DO 12º PRÊMIO OLHARES DA CENA

 


VENCEDORES DO 12º PRÊMIO OLHARES DA CENA 2022


TEATRO DIGITAL


*TENTILHÃO



TEATRO ADULTO



MAQUIAGEM


*Cia Teatro ao Quadrado – O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


DESIGN GRÁFICO/IDENTIDADE VISUAL


*Giovana Nogueira e Pamela Manica - BRANCO


FOTOGRAFIA DE CENA


*Júlio Appel – PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS 


TRILHA SONORA


*Grupo Cerco e Banda - TRAGO SORTE MENTIRA E MORTE


ILUMINAÇÃO


*Ricardo Vivian - SOBREVIDA


CENÁRIO


*Alexandre Dill - PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS


FIGURINO


*Antonio Rabádan - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


ATRIZ COADJUVANTE

*Margarida Peixoto - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


ATOR COADJUVANTE


*Anildo Böes - TRAGO SORTE MENTIRA E MORTE


ATRIZ 


*Arlete Cunha – GABINETE DE CURIOSIDADES


ATOR 

*Marcelo Ádams - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


DRAMATURGIA


*Gabriel Pontes - PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS


PRODUÇÃO


* Jaques Machado e Lincoln Camargo - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


DIREÇÃO


*Alexandre Dill - PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS


ESPETÁCULO


* O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III



TEATRO INFANTIL


MAQUIAGEM


*Tuti Kerber – OS SALTIMBANCOS – EM BUSCA DA LIBERDADE


DESIGN GRÁFICO/IDENTIDADE VISUAL


*Gianna Soccol – AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


FOTOGRAFIA DE CENA


*Claudio Benevenga – BICHOLÓGICO


TRILHA SONORA


*Guilherme Ferrêra e Suzi Martinez - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR



ILUMINAÇÃO


*Roger Santos - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR



CENÁRIO


*Diego Steffani – BICHOLÓGICO


FIGURINO


*Guilherme Ferrêra e Suzi Martinez - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


ATRIZ COADJUVANTE


*Clarissa Siste - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR

ATOR COADJUVANTE


*Guilherme Ferrêra - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


ATRIZ


*Débora Rodrigues - BICHOLÓGICO

ATOR 


*Henrique Gonçalves - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR

DRAMATURGIA


*Guilherme Ferrêra - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


PRODUÇÃO


*Rococó Produções Artísticas e Culturais - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


DIREÇÃO


*Suzi Martinez - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR

ESPETÁCULO


* AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR