quinta-feira, 30 de maio de 2013

O REI DA VELA (RS)


“O Rei da vela” de Oswald de Andrade é um texto que faz parte da história moderna do teatro brasileiro. Texto enigmático, que começou a escrever em 1933 e editou em 1937, aborda questões que sintetizam a vida de um burguês dentro do sistema capitalista, dentro de um grande painel histórico, político e filosófico, para a criação paródica de “O Rei da vela”. 
O texto manifesta a imensa amargura de Oswald, forçado a percorrer infindáveis escritórios de agiotagem para equilibrar-se financeiramente. Esse seu contato forçado com agiotas foi, provavelmente, a causa da caracterização de um agiota como Rei da Vela. Mas o texto supera a experiência pessoal de Oswald: ele fornece, sem falsas sutilezas, os mecanismos da engrenagem em que se baseia o esquema sócio-econômico do país.
A preocupação de Oswald, por estar tão à frente da época, parecia nem pertencer à realidade do teatro brasileiro. Ligado a questões políticas, investigou a fundo a questão da antropofagia, que radicalizou o modo de pensar no teatro brasileiro.
Tudo isso, para chegar ao espetáculo apresentado pelo Grupo Pode ter inço no jardim, de Canoas, que trás a cena a história de Abelardo I, o dono de uma fábrica de velas que ganha um tostão a cada morto brasileiro. O único mérito do projeto é a escolha deste texto para a encenação, mas o espetáculo é irregular, pois direção e atores estão equivocados, pois perdem a principal motivação ao trazer a cena um texto como este, que é a sua força política, sua importância no contexto atual do Brasil. Falta uma compreensão do texto, e do contexto no qual está inserido. Falta uma apropriação e internalização dos atores com a narrativa dramatúrgica. Falta compreender quem foi Oswald de Andrade. Em algumas cenas o resultado chega a ser constrangedor, tamanha a falta de entendimento e pela forma a que foi traduzido cenicamente. 
O elenco é irregular, onde temos um Aberlardo I falastrão, que não propõe ações coerentes com a postura de um agiota, construindo uma figura que não convence, esquece textos, e que parece mais um mestre de cerimonias que um rei da vela, atualizando algumas passagens do belo texto de Oswald e improvisando, como quando toca o telefone de um espectador, o que é descabido numa proposta como esta. E as demais construções também vão para o mesmo caminho repleto de clichês, onde os textos são ditos de forma mecânica, faltando projeção de voz e a inserção de climas, pois todos os textos são ditos da mesma forma, faltando rechear o que é dito de intensões e isso tem a ver com o entendimento de cada vírgula do texto e com a direção. Falta mostrar a força destes personagens, porque estão ali, e não digo nem que as construções devessem partir do contexto psicológico, mas pelo contrário, de encarar estes personagens enquanto figuras pertencentes a um sistema, e como estas figuras se portam na sociedade. O ator que faz o Abelardo II e o Totó é o único que consegue se aproximar disso, mas que poderia extravasar ainda mais, para provocar através do humor Oswaldiano à crítica aos costumes da época.  
Outra questão é o tempo demasiado longo da peça, dividida em três arrastados atos, que torna a peça maçante. Isso é provocado pela falta de ritmo das cenas, do andamento que é dado ao espetáculo. Uma sugestão seria a de colocar os músicos que fazem a tímida trilha sonora da cabine, no palco. Isso poderia provocar outro ritmo ao espetáculo, mas tem que potencializar mais a trilha e efeitos musicais, tudo é executado de forma tímida e suas inserções não agregam nada a encenação, pois não reverbera nem nos atores, tão pouco no público, mas se ao contrário, os músicos estivessem agregados a cena, poderia criar mais climas e tensões necessárias ao bom andamento da peça. A iluminação também não auxilia na estética das cenas, pois há pouca variação, o que acaba não imprimindo climas necessários a cena. 
Enfim, “O Rei da Vela” é um espetáculo irregular que tinha tudo para ser um bom trabalho, porém precisa ser reestruturado partindo do entendimento do texto para que possa se comunicar com o público, sanar os problemas de ritmo e repensar também a questão quanto a sua duração, pois se o espetáculo é bom, o espectador consegue acompanhar a ação da peça por muitas horas, mas se não for, o espetáculo precisa adaptar-se e encontrar uma duração que seja na medida para não ficar tão cansativo e chato, o que é o caso desta produção. 


Direção João Máximo

Elenco Bruno Prandini, Duli Borges, Eduarda G. Máximo, Elisama Porte, Janete Costa, Jéssica Rodrigues, João Máximo, Joise Pirolli, Lucas Gheller, Luís Henrique Ponsi, Raquel Amsberg.
Produção Bruno Prandini
Projeto Gráfico Lucas Gheller     
Figurinos Maria Prandini
Iluminação Grupo CARAPATICUM


domingo, 26 de maio de 2013

TOMBÉ (BA)


“Tombé” foi um dos melhores espetáculos que assisti dentro da programação do Palco Giratório/Porto Alegre. O que me levou ao teatro para assistir a proposta do Grupo Dimenti de Salvador/Bahia foi para tirar a má impressão que fiquei em relação ao grupo. Já havia assistido a outro espetáculo do coletivo, “Batata” inspirado livremente na obra de Nelson Rodrigues, que esteve anos atrás dentro da programação do Porto Alegre em Cena, e que sinceramente saí decepcionado, e que não cabe aqui esmiuçar os motivos, mas ainda bem que pude conferir a este trabalho e desconstruir esta impressão, e aplaudir em pé a esta nova proposta. 
Tombé é simples e complexo ao mesmo tempo. É hibrido, pois mescla teatro, dança, performance, artes plásticas (como é citado no discurso do espetáculo) e politica. Sim, pois uma das discussões que o espetáculo trata é a questão de um corpo político, um corpo social, a política presente na pedagogia da dança. O modo de ensinar, o modo de transmitir, internalizar e (re) significar a dança no contexto atual. E tudo isso é realizado de uma forma apropriada e divertida. Pode-se dizer que o Dimenti cria uma tese e subverte essa, ao criar uma obra recheada de conceitos, que são apresentados de forma divertida, aberta, escancarada, com um humor sarcástico e inteligente. O espetáculo é recheado de méritos, e um deles ó de trazer a comicidade para a dança, rir do outro e ao mesmo tempo rir de si mesmo. 
Tombé parte de uma explanação sobre o fazer dança e suas diferentes facetas. Em cena, assistimos um grupo de bailarinos que exibem variados estilos de dança: clássica, hip-hop, moderna, jazz, contato-improvisação (hilária esta cena), entre outras, de modo caricato. Em cena a personificação da professora de dança trás ao foco o arcaico se confrontando com o contemporâneo, e eis que surge justamente a questão: o que é dança contemporânea? Esta questão permeia todo o trabalho que não fornece uma resposta, porém vai muito, além disso, pois ao mesmo tempo em que diverte, trás uma reflexão sobre criação e sobre como está se produzindo dança atualmente. Será que há avanços? Retrocessos? Como se dá a relação da academia com a dança? 
Muitas questões formuladas, muitas sem respostas, porém o que fica do espetáculo do Dimenti é a qualidade e inteligência empregada na cena. O espetáculo desmitifica e critica os códigos da dança. Quatro bailarinos-performers-atores, incluindo o diretor, somando a eles um técnico, que na verdade é um ator, bailarino-performer cria o ambiente despojado e envolvente de Tombé. A performance do elenco é louvável, todos disponíveis e entregues a proposta, inclusive na segmentação da fronteira entre as linguagens, pois poderíamos nos questionar: mas isso é teatro ou dança? É teatro. É dança. E o trabalho dos bailarinos é incrível, com um corpo preparado e treinado. E o trabalho dos atores é admirável, criando tipos críveis e engraçados. Acredito na bailarina fanha, acredito na professora, acredito nos conflitos dos bailarinos. E me divirto muito com as tiradas e inserções do técnico de som que interfere a todo o momento, ganhando a cena. 
Parabéns ao Dimenti pelo trabalho que demostra sua seriedade e pesquisa que desenvolvem em Salvador, demostrando que o oficio pode e deve ser a todo tempo ser colocado em cheque, para não estagnar, para criticar, para movimentar, e isso o Dimenti consegue provocar no público. Qualidade e ousadia num espetáculo para quem gosta de dança e para quem não sabe nada de dança. 

Direção: Jorge Alencar
Intérpretes-criadores: Daniel Moura, Fábio Osório Monteiro, Jorge Alencar, Márcio Nonato, Vanessa Mello
Tema original: Tiago Rocha
Projeto de luz: Ellen Mello e Márcio Nonato
Direção de Produção: Ellen Mello
Produtor assistente: Fábio Osório Monteiro
Fotos: Mariana David
Logomarca: Moisés Garcia

SINFONIA SONHO (RJ)


O espetáculo “Sinfonia Sonho” é nos apresentado como uma tragédia contemporânea, trazendo a tona uma narrativa que parte do massacre de crianças na Escola Tasso da Silveira, em Realengo e que também dialoga com outros referenciais para a construção da dramaturgia. Em cena, uma criança de nove anos, Kevin (interpretado magistralmente pelo ator Márcio Machado), é tomado pelo desejo de se tornar música, por conta de uma peça teatral que está ensaiando em sua escola. 
A narrativa que parte deste mote, teria muitos motivos para cair na obviedade, o que o Teatro Inominável consegue subverter através da proposta do espetáculo, em falar de uma tragédia brasileira recente, contemporânea, mas que se utiliza apenas como pano de fundo para recriar a história que já conhecemos. O espetáculo tem a sua disposição poucos elementos cênicos, contando apenas com algumas cadeiras e um linóleo verde-limão no chão (que por sua cor berrante e cítrica carrega a acidez e o estranho provocado em cena), e uma iluminação básica que tem alguns recortes para potencializar algumas cenas. A trilha sonora pontua a cena de modo a criar climas e tensões às cenas, assim como os figurinos, que são cotidianos, servindo para identificar os tipos presentes: pai, mãe/diretora, filho, filha, vizinho, grávida, ... 
A encenação tem muitos fatores que a tornem interessante, além do belíssimo texto e do elenco, mas penso que o que confere qualidade é o modo que o grupo empreendeu na realização, fugindo do teatro realista, construindo um espetáculo que se calca na fisicalidade e teatralidade, as ações partem de partituras físicas que leva o espectador para longe do realismo e pieguice que poderia ser “Sinfonia Sonho”, se fosse construído da forma tradicional. Além de ser um espetáculo físico, também se utiliza de outros mecanismos que provocam um estranhamento a primeira vista. E por falar em estranhamento, Diogo Liberano me leva a lembrar de Brecht, justamente através de sua ação de ler as rubricas da peça durante a sua realização, a sua figura materializada no palco e interferindo na ação, e essa interferência às vezes ou quase sempre é negada pelos personagens, o que torna toda a ação mais interessante ainda. Outra referencia que me lembra de Brecht é a questão do metateatro, da representação do teatro dentro do teatro, a representação de arquétipos, das peças didáticas, encharcando a encenação de méritos. O texto, assim como toda a encenação me fornecem uma série de códigos e signos que me levam a muitos e muitos significados e leituras, mas são signos palpáveis, nem tão subjetivos, nem tão literais, signos coerentes com a proposta. 
Outro destaque é o elenco jovem e disponível, que conseguem construir um espetáculo que é cômico ser cômico, um drama ser precisar mergulhar nos clichês melodramáticos, uma narrativa que emociona e surpreende pela forma como foi traduzida cenicamente. Direção e elenco afinados para oferecer ao público um espetáculo embasado e emocionante. O elenco é coeso, mas destaco o casal de irmãos, interpretados por Adassa Martins e Marcio Machado que conseguem fugir dos clichês em se interpretar uma criança, e passam uma verdade e coerência em suas construções. Os demais atores são muito competentes e estão a serviço da cena. 

sinfonia sonho

direção e dramaturgia: diogo liberano 
orientação de direção: eleonora fabião 
assistência de direção: thaís barros 
direção de movimento: caroline helena 
elenco: adassa martins + andrêas gatto + dominique arantes + gunnar borges + laura nielsen + márcio machado + natássia vello + rodrigo vrech + virgínia maria/marcéli torquato 
direção musical: philippe baptiste 
cenário: leandro ribeiro 
orientação de cenário: ronald teixeira 
figurino e visagismo: isadhora müller + marina dalgalarrondo 
orientação de indumentária: desirée bastos 
iluminação: davi palmeira + thaís barros 
orientação de iluminação: josé henrique moreira 
registro fotográfico: thaís grechi 
registro audiovisual: thaís grechi + pedro bento 
preparação vocal: verônica machado 
design: diogo liberano + gunnar borges 
ilustrador: lucas canavarro 
assessoria de imprensa: bruno pacheco 
marketing cultural: davi palmeira 
produção executiva: adassa martins + gunnar borges 
direção de produção: diogo liberano 
realização: teatro inominável + universidade federal do rio de janeiro (ufrj)

domingo, 12 de maio de 2013

ZUCCOS (RS)


“Zuccos” é a adaptação de texto “Roberto Zucco” de Bernard-Mariè Koltès e trás a tona o tema da violência presente na sociedade moderna. O título do espetáculo “Zuccos” no plural, já detona que a cena explorará não apenas o cerne do texto de Koltès, mas toma este como base e amplia as possibilidades de leituras acerca do tema, transformando a cena num grande painel fragmentado que trata da violência de forma nua e crua, mas sem perder a poética e estética.
É a segunda vez que assisti ao trabalho e pude vislumbrar o amadurecimento da proposta inicial, do elenco original apenas uma alteração, a entrada do ator Frederico Vittola, que em minha opinião acrescenta muito ao trabalho. Outro fator que me faz crer que engrandece o trabalho, é a proximidade com o espectador, já que a cena é recheada de signos, de uma estética que requer uma atenção do espectador, ações simultâneas, textos ditos em primeira pessoa, narração, creio que esta aproximação cria uma comunicação maior e direta com o público.
As cenas fragmentadas estão bem amarradas, num fluxo intenso e vivo, assim como a dramaturgia que estabelece uma tensão crescente e potente. A contradição entre o corpo e a palavra é uma qualidade do trabalho, pois não sublinha o que o texto já está dizendo, mas sim propondo outros signos para a encenação. Os diálogos com as lanternas próximos a plateia são ótimos, carregados de intensidade, assim como os depoimentos (reais!) dos atores. A cena com os balões vermelhos é de uma sensibilidade extrema, colocando a mãe no foco da discussão.
O elenco é coeso, intenso e entregue, mas destaco Aline Jones que com sua presença hipnotiza e encanta com suas criações. Aline simplesmente arrasa na cena do roubo do carro e também como a prostituta. Realmente uma grande entrega. Catharina Conte também é forte principalmente na cena em que faz a mãe e no depoimento com o balão. Frederico Vittola acrescenta muito com sua entrada no elenco, constrói uma figura contida, porém sua verdade está no olhar, conseguindo com isso um Zucco mais forte e crível. Anna Júlia Amaral e Isadora Pillar tem boas participações, estão entregues, porém não conseguem atingir a mesma intensidade de seus colegas.
Iluminação e trilha estão ajustados, dentro da proposta e fogem um poucos das convenções, o que é mérito do projeto, assim como o figurino despojado que auxilia na encenação.
“Zuccos” é um grande experimento que provoca muito o espectador, saí do teatro incomodado com toda aquela violência, que é real e está presente no palco e ali fora, na porta dele e nas ruas da cidade. E isto quando acontece é muito bom, pois o bom teatro provoca, incomoda e emociona. “Zuccos” é um misto de teatro, que se utiliza de uma abordagem contemporânea, de inserções de performance art, projeção de vídeos e depoimentos dos atores, borrando a fronteira entre linguagens, e através desta linguagem oferece ao espectador uma série de elementos, de signos e uma estética contemporânea, que consegue apropriar-se destes elementos e potencializá-los teatralmente, mas dentro deste contexto ainda fiquei sem entender e localizar na própria encenação a utilização de farinha, ovos e tintas, na cena em que as atrizes entram com vestimentas brancas e se encharcam com estes elementos. Esteticamente é lindo e provocante, porém não consegui traçar relações dentro do contexto da peça, mas isso é apenas meu ponto de vista, e que acaba não comprometendo a potencia deste “Zuccos” renovado que eu espero que tenha vida longa.

Elenco Aline Jones, Anna Júlia Amaral, Catharina Cecato Conte, Frederico Vittola e Isadora Pillar
Direção coletiva
Orientação Adriane Motolla
Trilha Sonora executada ao vivo Flavio Aquino
Operação de luz Silvana Rodrigues
Iluminação Aline Jones
Produção Catharina Cecato Conte




domingo, 5 de maio de 2013

VIDA ALHEIA (RS)


Assistir “Vida Alheia” dentro do projeto Novas Caras da Prefeitura foi uma grata surpresa. Trata-se de um espetáculo simples em sua essência, porém muito potente em sua realização. 
Os méritos do projeto começam na escolha do Grupo Artes e Letras, que tem quinze anos de existência, em levar aos palcos grandes clássicos da literatura. E neste projeto Arthur de Azevedo foi à escolha, onde a cena estruturou-se através de cenas curtas que tem em comum, uma série de personagens e tipos que possuem o hábito de falar da vida alheia da sociedade onde vivem. E Arthur através disso constrói um texto embasado para criticar os costumes cariocas da época. 
A encenação parte do pressuposto de que o menos é mais, economiza nos cenários, utilizando apenas duas cadeiras e poucos objetos, para potencializar o trabalho dos atores. Os figurinos de J. Alceu são muito bem elaborados, e condizentes com a proposta de construir um teatro de época, além de belo, auxiliam muito na construção das figuras e personagens. A iluminação é simples e está a serviço da cena. 
Direção e elenco são os grandes responsáveis pelo sucesso desta peça, pois o diretor conseguiu exprimir tudo o que não era necessário e deixou apenas o essencial para tornar a narrativa atraente, porque nem sempre espetáculos de época conseguem ser interessantes, e também consegue conduzir seus atores com grande competência, tirando de cada interprete o seu melhor. Um único ponto negativo, é a narração em off contando passagens da biografia do autor, penso que para a proposta inicial de levar o trabalho até as escolas, essa inserção é bastante positiva e cabível, porém quando esse trabalho ganha um espaço na grade de um teatro, penso que é desnecessária esta inserção, senão o espetáculo acaba tornando-se demasiado didático, o que não é ruim, mas que incomoda pelo fato de o espectador querer ver a narrativa da peça e não a vida do autor. 
O elenco está afinadíssimo, coeso e entregue. Destaque para o modo como o texto é dito, bem articulado, limpo, imprimindo uma musicalidade textual. As atrizes Ana Paula Aguiar e Kariny Schoenfeldt são boas e estão à vontade e tem presença de destaque, mas a dupla de atores Gabriel Motta e Julio Lhenardi, conseguem através de suas construções uma maior profundidade e um maior destaque. Um bom exemplo é a cena da nomeação do funcionário público, onde a dupla de atores desfilam construções de figuras muito bem delineadas e diferentes uma das outras, demostrando os bons interpretes que são. 
“Vida Alheia” é um espetáculo curto, na medida, que quando retornar a cartaz deve ser assistido por quem gosta de ver bom teatro, independente dos rótulos que são colocados, embora esta peça possa ser considerada de teatro escola, mas para mim não é isso que importa, o que me interessa é que a obra tem qualidade e ponto final. E “Vida Alheia” tem qualidade e méritos de sobra. 

Elenco Ana Paula Aguiar, Gabriel Motta, Julio Lhenardi, Kariny Schoenfeldt 
Concepção e Figurinos J. Alceu             
Iluminação e Trilha Sonora Uecla Oiluj
Operação de Som e Luz Leo Nardi         
Dramaturgia e Direção Gabriel Motta



PADOX DANS LA CITÉ (FRANÇA)



O que é ser Padox? Padox é ser estranho e belo ao mesmo tempo. É exótico e tenro. Padox através de um trajeto pelo Parque Farroupilha, levou os transeuntes a acompanharem seus movimentos sutis e encantou quem estava por lá.  São criaturas, com corpos desproporcionais, e um rosto que remete ao passado, aos ancestrais, a outro mundo. As figuras interagem com o público, mas somos nós que somos convidados a adentrar no mundo deles, um mundo onde a natureza e o outro são importantes. 
Creio que o que mais me cativou, foi à ternura do olhar destes seres, do diferente, e da paz de espirito que eles passam através de suas ações.
Padox provoca um contraste no espaço urbano, sob uma perspectiva que coloca estes seres num espaço de destaque na cidade, justamente por destoar do comum, do cotidiano, provocando cada espectador a criar a sua relação com estes seres, e a partir disso remeter a uma linguagem universal. 
Diferente. Cativante. Feio. Belo. Estranho. Provocador. Alienígenas. Amorosos. Uma série de adjetivos que pude escutar durante o trajeto destes Padox que povoaram o nosso imaginário durante o compartilhamento desta performance que encantou os espectadores destes seres encantados.