domingo, 28 de setembro de 2014

A LÁ PUCHÁ! UMA COMÉDIA GAÚCHA (RS)


A lá puchá!Tradicionalismo em cena

"A lá pucha" Uma comédia gaúcha" já explicita no título a que veio: fazer rir construindo todo o seu enredo a partir da expressão "A lá puchá!" e tem o simples intuito de fazer comédia. Baseado nesta premissa o espetáculo cumpre muito bem o papel a que se destina. A dramaturgia de Rafael Barcellos se sustenta através de uma disputa entre Mariana e seus dois pretendentes que precisam passar pela aprovação de seu pai Juca das Flores para conquistar o coração da jovem. O espetáculo é essencialmente uma comédia de costumes, onde faz uma análise comportamental dos personagens focado nas relações humanas e no contexto social. Temos aqui tipicas figuras do imaginário gaudério: o pai extremamente conservador que cuida da filha que é frágil e sem voz ou autonomia, os dois pretendentes gaúchos que se utilizam de todas suas qualidades (ou não) para conquistar o coração da menina e até mesmo a presença de uma comadre fofoqueira, figuras pertencentes ao folclore dos pampas.
O elenco do espetáculo é desequilibrado, sendo que a força está centrada nas figuras masculinas, tanto nas atuações quanto na dramaturgia, pois a mulher no espetáculo está relegada a segundo plano, sendo que as interpretações de Analu Bastos e de Vianês Amaral está muito aquém do elenco masculino. E aqui cabe uma questão: porque tanto na dramaturgia e no trabalho de atuação está força é desequilibrada?   Pois a narrativa já reforça uma série de questões que não engrandecem a figura feminina e ainda por cima estas figuras são apagadas? Penso que poderia se subverter isso, repensando o papel das mulheres dentro do espetáculo, e fortalecendo esta relação.
Quanto ao elenco masculino, penso que conseguem criar um jogo muito interessante, ágil e que consegue comunicar muito bem. Destaque para a figura construída pelo ator Édi Terra na figura de Juca das Flores, uma figura forte e imponente. 
A direção de Rafael Barcellos é eficiente, e consegue articular todos os elementos da encenação, devendo atentar apenas para o uso excessivo da trilha sonora em alguns momentos e de repensar a função do cenário, cuidando para não ser apenas ilustrativo. 
Com tudo isso "A lá puchá!" é um espetáculo com um apelo popular muito forte, que consegue agradar em cheio a todos espectadores, pela identificação imediata que tem ao trazer a cena questões do tradicionalismo gaúcho, e acima de tudo com boas soluções cênicas. Vida longa ao espetáculo!

Diretor: Rafael Barcellos
Autor: Rafael Barcellos
Operador de Som: Rafael Barcellos
Criador da trilha sonora: Rafael Barcellos
Operação de luz: Léo Bizarro
Criador da iluminação: Léo Bizarro
Maquiador: Grupo
Criador da maquiagem: Grupo
Figurinista: Daniel Machado
Cenógrafo: Daniel Machado & Édi Terra
Elenco: 
Vianês Amaral
Analu Bastos
Léo Cardoso
Daniel Machado
Édi Terra





O CHAPELEIRO MALUCO (RS)



Equivoco em produção voltada aos pequenos

"O chapeleiro maluco" é uma produção do Grupo Teatral Leva Eu direcionada as crianças e é exatamente por aí que eu começo minha analise. Fazer teatro é uma responsabilidade muito grande, e quando direcionamos o fazer teatral ao público infantil esta responsabilidade tem de ser redobrada. O que eu percebo nesta montagem de "O chapeleiro maluco" é uma sucessão de equívocos, que podem e devam ser trabalhados para que esta experiencia possa ser potencializada. 
Quando o espetáculo inicia percebemos um palco com poucos elementos, uma limpeza na cena que poderia servir para a criação de imagens em ação, mas a medida que o espetáculo avança vem a tona uma série de esteriótipos do teatro infantil como o uso exagerado de intenções didáticas, que tem que se ter um pouco de cuidado, pois a criança é um ser dotado de inteligencia e que por isso não precisa ser tratada como não fosse inteligente. A criança tem a capacidade de interpretar o que vê, portanto não é saudável mastigar tudo e entregar ao público. A dramaturgia peca no sentido de explorar um moralismo, onde Aninha é boa/Juca é ruim e o professor é o espelho que tem que ser seguido. O texto poderia usar as contradições destes personagens, explorar melhor o universo dos sonhos que é o universo do Chapeleiro, explorar sensações diferenciadas que evidenciem este universo paralelo. 
Os figurinos tem uma preocupação em se comunicar com o espectador quando utiliza a mesma estampa para o figurino dos irmãos, até mesmo no inusitado figurino do Chapeleiro, mas penso que os demais elementos estéticos como a trilha sonora que em nenhum momento ajuda a encenação, a criar climas e tensões, pois são músicas conhecidas, mas que são deslocadas do contexto da narrativa e acabam se tornando clichês. As coreografias são muito bonitas, mas também não auxiliam, pois são apenas coreografias, sem sentido na encenação, assim como a iluminação que poderia ter papel fundamental aqui, mas é pouco explorada, poderia criar climas e suspensões na proposta. 
Tudo precisa ser repensado, até mesmo a relação com a platéia, pois nem sempre nas produções infantis é necessário esta relação, e aqui a relação é forçada. 
Sugiro então repensar o trabalho no sentido de aprofundar as personagens no sentido dramatúrgico e no sentido das atuações, no sentido das convenções e fugir dos esteriótipos e do politicamente correto, sujar mais as figuras, construindo uma dualidade inerte ao ser humano. 
Como já conheço outros trabalhos do diretor Igor e sei desta humildade e gana em trabalhar com teatro, sei que ele vai filtrar todas as questões e vai triunfar em seus novos projetos. 

Direção: Igor Ramos
Elenco: Gabriel Rocha, Giordano Freitas e Juliana Johan
Cenografia: O grupo
Figurinos, coreografia, maquiagem e trilha sonora: Juliana Johan
Iluminação: Igor Ramos

O AUTO DA COMPADECIDA (RS)


Arrebatador!

O espetáculo “O auto da compadecida” foi até aqui a grande surpresa do Montenegro em Cena, pois conseguiu me arrepiar desde a primeira imagem que vi do trabalho. Temos aqui um trabalho que acerta em tudo. Um trabalho com uma concepção apurada e com idéias muito claras e concisas. 
A encenação parte do texto de Ariano Suassuna, mas tem forte referencia na adaptação televisiva que mesclou a dramaturgia o cerne de dois de deus textos: “O auto da Compadecida” e “O santo e a porca”. Poderia ser um demérito esta referencia ao filme ou minissérie, porém o grupo se apropria muito bem de tudo isso e vai além, pois agrega a cena uma forte musicalidade. A trilha sonora é toda executada ao vivo pelos atores e isso é realmente fantástico, pois este elemento é um fator muito forte na encenação e que por isso se potencializa. Neste aspecto o grupo recria algumas canções do cancioneiro popular e contextualiza no enredo da peça, e isso faz com que a trilha se torne um forte elemento que não está apenas para criar climas e tensões, mas está ali para comunicar, para narrar e a musicalidade cumpre um papel fundamental. É lindo de se ver e ouvir um elenco afinado, cantando e se divertindo com tudo isso. 
Outro elemento estético que é muito favorável na peça são os figurinos assinados por Fabrizio Rodrigues, pois todas as peças comunicam por si só, dialogam com o todo e foram muito bem explorados em suas estampas, cores, cortes e tipo de tecido. Um visual que impressiona desde o primeiro momento. A iluminação também cumpre um papel fundamental pois além de iluminar os atores, cria jogos e espaços de criação que auxiliam na encenação. 
Os outros elementos estéticos foram muito bem pensados em seu minimalismo, como a maquiagem que não é exagerada, é no tom certo, exato que auxilia os atores a comporem suas figuras, assim como o cenário e os adereços, que são móveis, transformam-se e estão ali a serviço da cena. 
Saliento que o espetáculo foi aplaudido em cena aberta duas vezes, e isso deve-se ao equilíbrio alcançado pelo elenco e direção. O elenco é coeso, todos tem espaços para criação, com exceção de Ivan Lauermann, que faz o padeiro, e Leandro Lotermann que faz o cangaceiro, pois estes dois atores poderiam, com o auxilio de seu diretor de aprofundar um pouco mais seus personagens, a modo que possam crescer e aparecer mais em cena, não chegam a destoar do todo, porém podem conseguir resultados mais próximos aos demais atores. 
Quanto ao restante do elenco, conseguem imprimir aos seus personagens uma verdade e entrega, e tenho que destacar a Fabíola e Nicole Orth que fazem João Grilo e Chicó, pois conseguem imprimir uma verdade a estes personagens que já tem um registro televisivo muito forte no nosso imaginário e que por isso conseguem subverter esta lógica alcançando resultados ótimos. Ana Ledur, em minha opinião, é a que melhor se aproveita da sua personagem, conseguindo imprimir a sua personagem “a mulher do padeiro” um tom na medida exata, me ganha com sua malemolência e força, mas não apenas por isso, mas também pela personificação da figura do demônio, que com todos os adereços e figurinos Ana consegue criar uma figura grande, enorme que extravasa na cena, por isso merece meu destaque. 
Júlio Schuster é para mim uma revelação enquanto diretor, já conhecia seu trabalho de ator, mas na direção eu realmente me impressionei muito. O grupo dá a entender que se trabalha no coletivo, que não fazem nada sozinho, mas quem assina e quem trás propostas é o Júlio e por isso merece o meu respeito por nos apresentar um produto estético tão apurado, tão bem amarrado em todos os aspectos. Júlio foi feliz em todas as suas escolhas e isso é realmente maravilhoso quando acontece. Ou seja, temos aqui um grupo de jovens atores com uma maturidade incrível que às vezes não encontramos em coletivos profissionais. 


Diretor: Júlio Schuster
Autor: Ariano Suassuna Classificação etária: Livre
Contra-regra: 
Operador de Som:
Criador da trilha sonora: O grupo 
Operação de luz: Júlio Schuster
Criador da iluminação: Marcos Cardoso
Maquiador: O Grupo
Criador da maquiagem: Tuti Kerber
Figurinista: Fabrizio Rodrigues
Cenógrafo: Júlio Schuster
Elenco: 
Fabiola Orth
Nicole Orth
Isadora Dahmer
Samuel Vier
Ana Vier
Ana Ledur
Ivan Lauermann
Vanessa Hilgert
Leandro Lotermann















sexta-feira, 26 de setembro de 2014

OS DESCASADOS (RS)



“Os descasados” é uma comédia que trás a história de Mariana e Sezefredo, um casal que vive aos trancos e barrancos na vida conjugal. O espetáculo é nos apresentado como uma farsa e é perceptível alguns elementos muito forte deste gênero em cena como gestualidade grandiloqüente, enchimentos, maquiagem exagerada e uma corporalidade exacerbada. 
As figuras construídas por Everton e Gina chamam a atenção desde o primeiro momento que aparecem no lado de fora do teatro e começam ali a sua interação com a platéia, mas no palco penso que os dois atores poderiam apurar melhor o jogo e relação entre estas duas figuras, demasiadas vezes percebo que o jogo funciona muito mais com quem está assistindo (principalmente os que estão dispostos sobre o palco), do que interagindo entre eles. Penso que os atores poderiam exercitar uma escuta entre os dois, para que a cumplicidade entre eles possa se fortalecer e fazer o jogo efetivamente acontecer. Em alguns momentos isso acontece, é quando é gostoso de estar assistindo aquelas figuras, porém em outros momentos o jogo enfraquece e cria-se uma ampla abertura para o improviso, que se for utilizado de forma inteligente tudo bem, porém o resultado pode se dar de modo desastroso.
Na apresentação que o Grupo realizou no Festival o que percebi foi que por esta falta de escuta e interação entre a dupla, acaba ocorrendo uma sucessão de erros em cena, e estes erros são percebidos pela platéia. Muitos destes foram super bem resolvidos através do olhar apurado do Everton que se safou e muito bem de alguns destes imprevistos, porém outros não tiveram como serem corrigidos. Mas se o espetáculo tiver esta abertura para o improviso é aceitável, o que percebo é que “Os descasados” não é um espetáculo fechado, porém nem tão aberto para apenas ficar consertando cenas e improvisando. Por isso é extremamente importante exercitar sempre o estado de jogo e a escuta entre os atores, que pelo fato de estarem a muitos anos apresentando a mesma peça pode se desgastar.
Os elementos constitutivos da cena estão a serviço do trabalho, através de um cenário simples, uma luz básica sem grandes movimentos e uma trilha que auxilia a contar a narrativa. Os figurinos jogam com cores opostas o que contribui para a relação dos atores.
Quanto as atuações percebo o trabalho que Gina e Everton conseguem sustentar e se aproveitar muito bem, sendo que na maioria das vezes Everton consegue se sair melhor, justamente por ir ajustando tempo/ritmo durante o espetáculo, consegue ir da sutileza para o grandiloqüente, ao contrário de Gina que já imprime a sua personagem uma energia muito grande desde o inicio, chegando até mesmo a faltar o ar em algumas vezes. Gina poderia aproveitar mais sutilezas, jogar com o grande e o pequeno e crescer com isso. 
Contudo isso, “Os descasados” é um espetáculo que se centra na figura dos atores e quando estes estão fragilizados o espetáculo não se mantém, mas mesmo assim, não deixa de ser prazeroso assisti-los.   


DIREÇÃO GERAL: EVERTON SANTOS
ELENCO:
GINA SAMANTA
EVERTON SANTOS
OPERADOR DE SOM / LUZ: DAIANE CARDOSO / BIANCA FLORES
ASSESSORIA: JOSI AZEREDO / MATEUS FRENA / ANDRÉA LUCENA
MAQUIAGEM: GINA SAMANTA
TRILHA SONORA: EVERTON SANTOS
FIGURINO/CENÁRIO: RENASCENÇA


VALSA Nº 6 (RS)


OUSADIA NECESSÁRIA
“Assistir ao espetáculo “Valsa nº 6” no Montenegro em Cena desperta em mim um misto de alegria e satisfação. Primeiro destaco a qualidade que o Grupo Art in fato consegue alcançar com a sua produção. Segundo que vejo aqui neste coletivo a possibilidade da criação e pesquisa tão forte e ousada, onde jovens atores unidos a uma também jovem diretora conseguem alcançar resultados estéticos bastante apurados e equilibrados. 
Parto da premissa de que se trabalhar com textos conhecidos e clássicos sempre é um tabu, pois adaptar uma dramaturgia que já é carregada de significados e que no momento em que a adaptação é feita, corre-se o risco de traí-la, já é um desafio. Mas os jovens atores conseguem (e por sinal muito bem) vencer esta etapa, conseguindo utilizar o texto do Nelson Rodrigues como um pretexto para a criação de um espetáculo imagético, onde a figura da personagem Sônia (que no original é uma personagem única porém com uma personalidade esfacelada), aqui é diluída, dissecada, fragmentada, coletivizada e experimentada pelo grupo de dez atores, que trazem a cena, os fragmentos da mente atormentada de Sônia, assim como as figuras que permeiam a sua alucinação como o Pedro e o Dr. Junqueira. 
E é neste sentido que este Valsa nº 6 me surpreende, pois consegue colocar em cena uma gama de signos teatrais e metafóricos que faça com que o espectador se envolva com o trabalho, não por uma via racional, mas através de uma linha sensorial, até porque talvez quem não conheça o texto, não consiga se envolver aos pormenores da dramaturgia textual, mas consegue se envolver através da dramaturgia cênica, que é extremamente original e viva. 
Percebo a mão precisa da Bianca Flores enquanto diretora e as possibilidades que ela explora ao criar sua encenação. Bianca propõe e isto é muito saudável. Quando estamos dispostos a criar um trabalho coletivo e nos colocamos nele com disponibilidade de propor, de arriscar e de brincar com novas possibilidades. Quando isso acontece é louvável, pois neste caso a direção tem muito material, muitas possibilidades para se criar e jogar e aí chega o momento de potencializar certas escolhas, de ajustar tempos, ritmos, ocupação do espaço, evidenciar algumas cenas, trabalhar as sutilezas, enfim, amadurecer uma proposta que já se sustenta muito bem. 
O espetáculo em sua totalidade é extremamente lindo, repleto de ações físicas, de partituras cênicas e de um gestual que as vezes é coletivo, se utilizando muito da figura do coro, as vezes tem ênfase em uma atriz, enfim, o espetáculo consegue se comunicar muito bem com esta força imagética e poética. Destaque para a cena do estupro, feita com sombras, e da cena onde os rostos aparecem na parede, onde também se utiliza de um tecido que dá um efeito sensacional a cena. E o bacana de ver é que estas imagens se constroem e se diluem num ritmo alucinado. 
Penso que a direção poderia investir mais nas transições de algumas cenas, pois às vezes se constroem imagens belíssimas, porém são muito rápidas não dando tempo do espectador se deleitar. Outra questão a ser trabalhada seria a voz e articulação de todo o elenco, principalmente nas cenas coletivas, pois fragiliza quando não está equalizada e uníssona. A cena que atriz rompe com a quarta parede também não auxilia na encenação, pois a aproximação com a platéia fragiliza as imagens que estão sendo propostas no palco e fragiliza a relação da atriz com o espectador. 
Quanto ao elenco, percebo que é coeso, entregue e está muito disponível para experimentar, para arriscar-se e isso é muito bom, pois quando encontramos jovens disponíveis a criação teatral que parte de princípios e códigos que são experimentais na sua essência, vejo que temos aí, um terreno fértil para que esta parceria se aprofunde cada vez mais. Não destaco ninguém do elenco pois os atores estão num nível de representação muito coletivo, ninguém joga sozinho, todos estão a disposição do todo, e isso é que é bacana de se observar, quando todos estão jogando juntos. 
Por isso ressalto que o Grupo Art in fato foi realmente uma grata surpresa, pois soube utilizar muito bem um texto conhecido a seu favor, nos oferecendo um trabalho de qualidade e beleza. Parabéns a todos e que esta experiência possa ser um trampolim para novos vôos.

Direção: Bianca Flores
Autor: Adaptação da obra de Nelson Rodrigues, por grupo Art in Fato Classificação etária: 15 anos

Operador de Som: Aline Fetter
Criador da trilha sonora: O Grupo
Operação de luz: Bianca Flôres
Criador da iluminação: Fernando Tepasse
Maquiador: Maria Paula Correa
Criador da maquiagem: O Grupo
Figurinista: Shana Domingues
Cenógrafo: O grupo

Sinopse da peça:
O Grupo Art In Fato traz para a cena uma adaptação desafiadora da obra de Nelson Rodrigues, em que a história gira em torno de Sônia, uma menina assassinada aos 15 anos, que tenta montar o quebra-cabeça de suas memórias e reconstituir os acontecimentos de sua vida. 


Elenco 
01 Andressa Erbes
02 Mateus Frena
03 Jaqueline Rhoden
04 Maiara Schneider
05 Maiara Baumgarten
06 Cintia Orth
07 Ivan Käfer
08 Chrystian Arnhold
09 Ana Paula Ne











O MÉDICO QUE RECEITAVA LIVROS (RS)


Espetáculo didático sem ser panfletário

O espetáculo “O médico que receitava livros” é uma deliciosa comédia dirigida a todas as idades. Uma proposta que é didática, sem ser panfletária, traz em sua essência uma pedagogia sem cair na pieguice de ter um professor em cena ao invés de atores.
O espetáculo é centrado na força poética do texto de Totonho Lisboa, que é uma revelação enquanto dramaturgia e letrista da bela canção do inicio do espetáculo, pois consegue articular muito bem as referencias literárias dentro da narrativa, apostando num texto que provoque muito mais pelas situações e personagens bem delineados do que pelo riso ou propostas rasas. O riso acontece, mas de acordo com as situações propostas pela cena.
A encenação inicia com a entrada do médico Millor e sua movimentação inicial é suja, sem motivação, apenas para montar a cena, o que leva a crer que o entra e sai dos livros não passa de uma ação que serve para preencher a duração da canção inicial. Passado este primeiro momento, que poderia ser melhor decupado, o espetáculo vai ganhando força e ganhando a platéia através de sua poesia literária e cênica. O elenco é coeso e consegue equalizar muito nas interpretações, e o grande destaque da peça é a presença de Caroline Oliveira, que consegue criar uma personagem que tem uma empatia muito grande com o espectador, pois recheia suas ações de sutilezas numa interpretação arrebatadora. Carolina através de sua presença constrói ainda um novo personagem que não está em cena, porém a presença é forte, que é o porteiro. A sua relação com esse personagem fictício é de uma veracidade que acreditamos que este personagem irá adentrar na cena a qualquer momento. Samuel dos Santos consegue sustentar a figura deste Doutor maluco e visionário. Consigo embarcar na sua criação que pelo fato de ser ao mesmo ator e diretor poderia ser melhor apurada, mas esse fato não tira o frescor de seu trabalho. Já Alan Krug que faz três personagens tem a facilidade de construir tipos, auxiliados por figurinos que ajudam muito na composição, talvez o primeiro personagem pudesse ser um pouco mais explorado, para não ficar só na caricatura, mas com as demais participações consegue se mostrar a que veio. 
Penso que o grupo poderia investir na criação destes universos paralelos provocados pela leitura dos autores citados em cena, pois através disto poderia criar nuances necessária a cena, uma desconstrução da figura do Doutor investindo mais na criação de outros mundos, auxiliados pela iluminação que aqui é bastante neutra, mas que não compromete em nada a peça, assim como a composição dos figurinos. 
Outra aposta seria a do grupo investir mais nas convenções teatrais, como entradas e saídas dos personagens de cena, pois do modo como se apresentam são previsíveis.  
O espetáculo carece de ajustes que de maior coerência ao que já alcançam e o resultado alcançado é muito bom, através de um trabalho criativo e limpo. Portanto reitero que "O médico que receitava livros" é uma pedra preciosa que está em fase final de lapidação, pronta para brilhar... 

Diretor: Samuel dos Santos
Autor: Totonho Lisboa Classificação etária: livre
Contra-regra: Dani Reis
Operador de Som: Constantino Azevedo
Criador da trilha sonora: Gilnei Lucas
Operação de luz: Constantino Azevedo
Criador da iluminação: Samuel dos Santos
Maquiador: o grupo
Criador da maquiagem: o grupo
Figurinista: o grupo
Cenógrafo: Samuel dos santos


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

AS CINCO PONTAS DE UMA ESTRELA TORTA (RS)


Texto criativo em montagem destoante"

" As cinco pontas de uma estrela torta" trouxe poesia imagética para o palco do Montenegro em Cena. O inicio do espetáculo é de uma beleza extraordinária, assim como muitos momentos da peça. A direção do espetáculo consegue ser precisa, pois a peça tem ações e marcações extremamente limpas, num espetáculo belo, porém extremamente rígido em sua composição, a começar pela dramaturgia que em sua concretude não é de fácil entendimento. A narrativa se estrutura a partir da vida de Savine, e sua vida é contada através das três fases de sua vida: infância, adolescência e adulta, sendo que estas três facetas são colocadas em cena de modo separados e em outros momentos estão as três facetas em cena, evidenciando a reflexão poética a cerca da humanidade. O texto é muito bom, pois coloca no mesmo caldeirão reflexões acerca de filosofia, física quântica, ciência e arte. Os diálogos são ásperos as vezes, em outros momentos são depoimentos, contribuindo para a concretização de uma cena que pulveriza questões teatrais contemporâneas. 
A iluminação tem um papel fundamental, pois consegue ser um signo bastante presente na composição da cena, cuidando apenas para em determinados momentos dosar a sua utilização, assim como a trilha sonora, que é linda, porém utilizada de forma demasiada, faltando a peça, momentos de silêncio, onde a cena possa respirar e crescer com isso. 
Outra questão é a linearidade como são tratados os textos, falta criar cores, climas e intensidades diversificadas diferentes das que já foram atingidas. E elenco bom se tem para efetivar isso. Destaco no elenco a presença de Marta Brito, a Savine adulta, pois sua presença em cena é hipnotizante, com ações comedidas e sutis, tem força e presença cênica surpreendente. Ana Sphor e Bruna Johan também tem registros interessantes e Juliano Rangel enquanto urso é um pouco caricato, mudando quando entra como Cristovão. 
"As cinco pontas..." é tocante, bonito e complexo em sua essência e em seus textos bem estruturados, que consegue elevar a qualidade do festival, trazendo um espetáculo com uma outra linguagem, que não é a que estamos acostumados a ver em festivais. Que bom que temos grupos assim, que pesquisam e não se deixam levar por propostas fáceis e de resultados rápidos. 

Duração: 45min Diretor: Maurício Fulber
Autor: Maurício Fulber Classificação etária: 12 anos
Contra-regra: Claudir Fulber
Operador de Som: Maurício Fulber
Criador da trilha sonora: Maurício Fulber
Operação de luz: Casemiro Azevedo
Criador da iluminação: Casemiro Azevedo
Maquiador: o grupo
Criador da maquiagem: André Schenkartkzuk
Figurinista: Vergílio Lopes
Cenógrafo: Vergílio Lopes
Elenco 
Ana Spohr Savine Criança
Juliano Rangel Dante/Cristóvão
Martha Brito Savine Adulta
Bruna Johann Savine Adolescente



LA VITTA É VECCHIA (RS)


REMINISCÊNCIAS DE UMA VELHA SENHORA

"La vitta é vecchia" é um espetáculo solo onde Luise Scherer personifica a figura de Dona Firmina, uma velha senhora que vive solitária em sua casa e para passar o tempo trás a tona suas reminiscências.
Luise consegue sustentar sua figura durante todo o espetáculo, o que falta a montagem é a definição de uma dramaturgia que consiga amarrar as diversas histórietas que estão em cena. Em muitos momentos a narrativa se impõe através de uma descrição, por exemplo: quando ela diz, vou tomar vinho, e o mais interessante seria transformar essa descrição em ação. Outro problema é a direção de Régis D'ávila que tem um material potente em suas mãos, porém não consegue explorá-lo de modo a transformar a encenação em algo que consiga ao mesmo tempo divertir a platéia e mostrar a que veio a personagem. As cenas não conseguem criar uma dramaturgia que auxilie a mostrar as diversas facetas desta figura, são fragmentos soltos que muitas vezes não levam a nenhum lugar. 
Penso ainda que algumas cenas em que abre para a platéia o jogo se fragiliza e não se estabelece. A ideia de passar o biscoito aos seus visitantes é boa, porém dependendo do tipo de plateia o jogo pode não se efetivar, como acontece de certo modo em Montenegro.
As ações de Firmina não são orgânicas e muitas vezes tendem a colocar a figura no esteriótipo da velha. 
O cenário realista ao extremo prende um pouco a atriz, sendo que uma dica fosse o grupo apostar mais na teatralidade da cena, onde cenas como a do rádio possam ganhar mais espaço na peça.  
Penso que este espetáculo possa ganhar muita força ao investir primeiro numa dramaturgia mais redondinha, segundo numa direção que não deixe a atriz tão solta e terceiro que pudesse ser apresentado num espaço mais intimista, com uma platéia reduzida, para que a comunhão possa acontecer efetivamente.

Diretor: Régis D’Ávila
Autor: Luise Scherer e Régis D’Ávila
Classificação etária: 12 anos
Contra-regra: Luciano Gabbi
Operador de Som: Jeferson Ilha
Criador da trilha sonora: Folclore italiano
Operação de luz: Régis D’Ávila
Criador da iluminação: Régis D’Ávila
Maquiador: Camila Borges
Criador da maquiagem: Camila Borges
Figurinista: Cândice Lorenzoni
Cenógrafo: O grupo

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A MOÇA BONITA DA LINHA DO TREM (RS)


Megera domada dos pampas

"A moça bonita da linha do trem" é o espetáculo de abertura do 3° Montenegro em Cena, e na minha opinião começamos os trabalhos muito bem. O espetáculo traz a cena a história de amor de Maria Helena e Danilo, história essa que tem como pano de fundo a colonização da região de origem do grupo. 
O espetáculo é cheio de méritos a começar pela direção presente e eficiente de Marcos Cardoso, que consegue articular muito bem todos os elementos da encenação, assim como o elenco numeroso (14  jovens atores). 
Quando o espetáculo começa salta aos nossos olhos o imenso cenário, que além de ambientar a peça tem um papel fundamental no andamento da história. Ele auxilia nas trocas de ambientes e climas e tem um serviço de contra-regragem bastante eficiente e preciso, realizado pelos próprios atores. Esta contra-regragem é o momento onde a teatralidade aflora na cena, é o momento em que os atores despojam-se de suas figuras para brincarem de fazer teatro, é o momento da quebra da ilusão, e isso é bastante positivo. O cenário móvel valoriza as cenas de ação e joga com o poder da imaginação do espectador, pois sugere a presença de um trem, provocado apenas pelo movimento de vagões e lanternas, assim como as galinhas dentro da gaiola, ou seja, elementos que estão presentes, mas provocados pelo imaginário criado pelo espetáculo. 
Outro destaque é a dramaturgia que consegue criar uma narrativa que contemple tanto os elementos regionais que é um dos motes de pesquisa do grupo dentro de uma chamada Trilogia Campestre (esta é a segunda parte da trilogia), e consegue contemplar o elenco, distribuindo as figuras criadas, onde cada um tem um papel fundamental dentro da peça.
Como é bom ver um trabalho continuado com atores na faixa de 10 a 17 anos... É engraçado falar isso, trabalhado continuado com pequenos, mas neste trabalho percebemos no palco, as peculiaridades que são advindas desta prática.
A encenação é de uma limpeza na sua concretização, tudo está a serviço da cena conduzidos por um tempo-ritmo ideal para se contar a história. A iluminação é pontual sem grandes movimentações e trocas, assim como a trilha que tem o papel de pontuar as ações e trocas de cenas, as vezes utilizada de forma demasiada, as vezes para tentar provocar através da inserção sonora a emoção do público, fato que é desnecessário, senão vira melodrama, fica over, fato que não chega a comprometer, pois a ação já está me dando estes elementos direto na cena que não seria preciso de interferência sonora.
Os figurinos estão totalmente dentro da proposta da encenação, sem exageros, simples, porém conseguem dizer muito a respeito de cada figura representada. 
As passagens de tempo são de uma sutileza poética que pela forma como são executadas cativam o espectador e voltar com o casal de enamorados ao final do espetáculo dá uma sensação de circularidade, pois aquele casal do final pode ser o mesmo lá do inicio, ou até mesmo pode ser um novo casal, até mesmo seus filhos, pois histórias assim sempre costumam acontecer.
E quanto ao elenco, posso dizer que seguramente é coeso na sua totalidade, todos estão entregues, não há como dizer que ator A é o principal e o B é coadjuvante, pelo fato que a direção consegue equalizar muito bem o jogo e a construção destas figuras, evidenciando o que cada um tem de melhor, e isso é tão bom de se ver em cena, quando todos conseguem brilhar a serviço da encenação. 
O espetáculo está de parabéns, pela proposta de colocar no palco as suas histórias, seus dilemas, suas memórias construindo uma dramaturgia que se alimenta do seu chão, sua terra. O texto tem inspiração em "A megera domada" de Shakespeare, mas apenas parte de inspiração e motes, criando uma história totalmente original e bem diferente da do Bardo, conseguindo um resultado totalmente positivo. Está de parabéns por colocar em cena atores tão jovens (o mais novo tem 10 anos), e tão íntegros e entregues no seu ofício. 
Vida longa ao Deixa Quieto e viva a diversidade cultural e regional!!!
   
Diretor: Marcos Cardoso


Autor: Marcos Cardoso

Contra-regra: o Grupo
Operador de Som: Marcos Cardoso
Criador da trilha sonora: Marcos Cardoso
Operação de luz: Lenin Souza
Criador da iluminação: Dionatan Rosa
Maquiador: Mirella Renner
Criador da maquiagem: Mirella Renner
Figurinista: Marcos Cardoso
Cenógrafo: Marcos Cardoso