DRAMATURGIA-TENTÁCULO DESTAQUE NA CENA GAÚCHA
por Diego Ferreira
"O POLVO" é um espetáculo oriundo do Curso de Teatro da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e se destaca primeiro por sua dramaturgia tentáculo, uma metáfora ao polvo que possui oito tentáculos assim como a estrutura do espetáculo, que é dividida em quadros com cenas curtas e aparentemente banais e cotidianas, mas que ao refletir sobre tais cenas, percebemos camadas profundas (talvez a mesma profundidade que o animal polvo alcança no fundo do mar), que refletem o lugar do homem na atualidade justamente por trazer a tona temas urgentes que dialogam com o homem contemporâneo. Só aí já temos uma excelente utilização deste novo termo de "dramaturgia-tentáculo", onde a partir da imagem do polvo conseguimos vislumbrar várias possibilidades metafóricas e estéticas e como casou muito bem este termo utilizado, pois temos oito tentáculos, e o animal pode ser observado tanto na superficie como em lugares mais profundos e por isso tem tudo a ver com o espetáculo apresentado. Nesta acepção, a dramaturgia de Marcelo Ádams abrange tanto a superficialidade de temas que de tão cotidianos poderiam não provocar o espectador, mas ao mesmo tempo abrange a profundidade no desenrolar dos acontecimentos e juntamente com isso os meios cênicos empregados na encenação, que no detalhe parte de elementos muito simplórios, mas na totalidade se tornam arrojados. Por tudo isso, a dramaturgia de "O polvo" torna-se um dos grandes destaques da encenação, juntamente com a direção também de Marcelo Ádams que consegue explorar toda essa densidade do texto e traduzir em cenas curtas e muito bem articuladas num espetáculo que consegue tocar o espectador de um modo diferenciado. O grande elenco também é outro destaque pois todos os atores, eu disse todos os atores, tem de certa forma o seu destaque projetando nos seus personagens uma carga dramática que é na medida, sem esbarrar em interpretações exacerbadas ou clichês, como poderia acontecer com a cena inicial do casal e a cena de separação do casal homoafetivo, duas possibilidades que se não forem trabalhadas na medida poderiam caminhar para outros caminhos, mas que torna-se super acertada na forma como foi conduzida, assim como todas as cenas. O elenco também e o responsável pela execução da trilha sonora ao vivo construindo boas soluções sonoras e que contribuem muito para o clima das cenas e também para a costura das cenas fragmentadas. Outro destaque é a iluminação que é bela e pontual criando espaços poéticos na cena. Enfim, "O polvo" é um trabalho profissional que emociona justamente por ter sido gestado dentro de um curso de teatro de uma universidade pública, a UERGS, e que merece ser louvado por isso e por sua qualidade.
Bravo!!!
|| FICHA TÉCNICA ||
TEXTO E DIREÇÃO: Marcelo Ádams
ELENCO: Ândy, Caroline Costa, Denise Cruz, Eduardo
Fronckowiak, Evandro Samuel, Gabriele Manteze, Jaqueline Mayer, João
Pedro Corrêa, Luana Corrêa, Mari Mü, Maria Carolina Aquino, Matheus
Ramires, Tiago Bayarri, Yuri Niederauer
CONCEPÇÃO DE LUZ: Rodrigo Waschburger e Tiago
Bayarri
OPERAÇÃO DE LUZ: Rodrigo Waschburger
PRODUÇÃO: Eduardo Fronckowiak, João Pedro Corrêa,
Maria Carolina Aquino, Matheus Ramires e Tiago Bayarri
CENOGRAFIA, FIGURINOS E TRILHA SONORA AO VIVO:
Po(l)vo do Teatro
FOTOS DE DIVULGAÇÃO: Gabriele Manteze e Victoria
Sanguiné
ARTE GRÁFICA: Letícia Schmitt e Eduardo Fronckowiak
*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.