sábado, 24 de agosto de 2019

O GATO DE BOTAS E BOMBACHAS (RS)



CUIDADOSA PRODUÇÃO DEDICADA AOS PEQUENOS (E AOS GRANDES TAMBÉM)


por Diego Ferreira*


O espetáculo "O gato de botas e bombachas" da Cia Vento Minuano é surpreendente pelo cuidado e zelo em todas as etapas da produção, desde a divulgação até a estética da proposta. A obra que assistimos é uma adaptação do famoso conto de Charles Perrault numa dramaturgia original de Charles Ferreira que revela um texto todo construído em rima para contar a história de um gato de estimação que usa botas e bombachas e mora no interior do Rio Grande do Sul. A narrativa do espetáculo é cheia de trapalhadas para desvendar uma série de roubos de gados de um fazendeiro gaúcho, e é rica em detalhes e se utiliza de humor e musicalidade para se comunicar com o espectador. 
A produção está impecável e como é bom assistir ao bom teatro dirigido a infância, pois auxilia muita na formação das platéias futuras. Airton de Oliveira foi muito feliz ao escolher sua equipe técnica pois se cercou de profissionais que souberam explorar o melhor de cada unidade da produção. Airton na direção consegue explorar o melhor de um elenco redondo com um naipe de atores que sabem cada qual utilizar suas melhores potencialidades em cena e a direção também tem êxito em articular todos os elementos estéticos que consegue traduzir de ótima forma as cores e sons do interior do Rio Grande do Sul sem cair em clichês. 
O cenário de Marcos Buffon e todos elementos são belíssimos e funcionam muito bem em cena, associados a iluminação de Nara Lucia Maia que consegue imprimir na cena uma paleta de cores que parece uma tela de pintura, assim como os belos e funcionais figurinos de Claudio Benevenga que agregam muito na produção. Por se tratar de um musical a trilha sonora é destaque e muito bem executada ao vivo pelos atores, e por ser muito bem executada gostaria de ver o elenco tocar mais em cena, ao invés de passagens onde música de estúdio são executadas, talvez essa seja a única exceção do trabalho, de valorizar ainda mais este elenco que domina o canto e os instrumentos, sendo que a trilha gravada não atrapalha a produção, mas por se tratar de um musical poderia privilegiar ainda mais a execução ao vivo. 
O elenco foi escolhido a dedo e está ótimo formado pelos atores Dejayr Ferreira, Fabrizio Gorziza, Luciano Pieper, Rodrigo Waschburguer e Tom Peres e estão muito bem em cena, cantando e representando esta história campeira. Todos, sem exceção, estão entregues e inteiros em cena, um elenco coeso e dentro do jogo e da proposta creditando o mérito disso a direção de Airton que tem um grande aproveitamento dos atores. 
É muito bom ver um espetáculo com a temática regional ganhar um status de bom teatro principalmente por valorizar e resgatar nossa cultura através das músicas e vestimentas e por nos fazer rir de um gato trapaceiro que ganha os nossos corações. Que a produção tenha uma longa trajetória e possa ganhar a estrada de outras paragens para que conheçam o bom trabalho produzido no estado. 

Ficha técnica:


Elenco: Dejayr Ferreira, Fabrizio Gorziza, Luciano Pieper, Rodrigo Waschburguer e Tom Peres
Texto: Charles Ferreira
Direção: Airton de Oliveira
Assistente de direção: Sandra Loureiro
Direção musical e trilha sonora gravada: Arthur Barbosa
Músicos na trilha gravada: Arthur Barbosa (violino e regente), Dhouglas Umabel (viola e violino), Diego Silveira (percussão e bateria), Eduardo Knobe (piano), Henrique Amado (flauta e flautín), José Milton Vieira (trombone), Matheus Kleber (acordeon) e Rafael Honório (violoncelo).
Gravação da trilha sonora: Estúdio Porta da Toca
Técnico de gravação: Bruno Klein
Trilha sonora acústica: Dejayr Ferreira (percussão), Fabrizio Gorziza (acordeon), Luciano Pieper (violão), Rodrigo Waschburguer (violão e bombo leguero) e Tom Peres (violão e percussão)
Criação do figurino: Claudio Benevenga
Criação e execução do cenário: Marcos Buffon
Criação de luz: Nara Lúcia Maia
Coreografias: Sayonara Sosa
Preparador vocal: Márcio Buzatto
Programação visual: Bento Abreu
Confecção de figurino: Naray Pereira
Administração e produção executiva: Marcos Buffon
Diretor de produção: Airton de Oliveira
Montagem: Cia Vento Minuano
Realização: Telúrica Produções

*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.