quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O MÁGICO DE ÓZ (RS)


Quando adentro numa sala de teatro e vejo o espaço vazio, sem cenários, primeiro vem um certo alivio, (não que eu não admire cenários, mas pela sugestão de limpeza do espaço) e depois me questiono: será que um espetáculo voltado para a infância precisa de cenários?
Quando se tem um bom elenco não precisa. E o Grupo Leva Eu tem um bom elenco e comprova que para se fazer bom teatro precisa apenas de bons atores.  
O espetáculo "O Mágico de Óz" que ficou em cartaz na sala 505 da Usina do Gasômetro é bastante simples e eficiente dentro de sua proposta. 
Conseguimos embarcar na história de Dorothy e seus amigos justamente pelo teatro minimalista apresentado pelo Grupo Leva Eu. A história da jovem que é levada por um furacão é encenada por um grupo de jovens que demostram ser apaixonados pelo teatro. A dramaturgia do espetáculo consegue adaptar o livro e deixar em cena apenas o que é realmente importante para a compreensão do enredo da peça. A direção de Igor Ramos é precisa e limpa, pois se utiliza de poucos recursos, a marcação é clara e eficiente e os elementos estão todos bem equalizados. 
Os figurinos são bonitos e alguns se utilizam de materiais bastante simples, como no caso do cachorro e Homem de lata, porém cumprem sua função de presentificar os personagens que já fazem parte do imaginário de todos, e os figurinos de Igor seguem essa tendência, de ilustrar através das vestimentas a quem veio cada personagem inspirados pelas montagens já realizadas e pela versão cinematográfica, claro que aqui as proporções são em uma escala menor, porém não menos criativa. Cabe salientar nos figurinos a boa paleta de cores utilizada pelo criador, pois temos um equilíbrio que vai do azul ao lilás, do cinza ao preto, brincando com as cores que dão a cena um efeito colorido.  
Uma sugestão para o diretor seria arriscar mais na utilização de imagens durante o espetáculo, um belo exemplo é a cena em que a bruxa é arrastada para fora de cena e apenas seus pés ficam a mostra. Além de ser esteticamente bonito, flerta com a teatralidade,  com o jogo teatral, detonando um outro clima e a abertura de novas possibilidades de leitura para a cena, onde nem tudo será explicito, deixando algumas informações suspensas. 
A trilha sonora pesquisada é pontual, mas segue os moldes do filme, o que na minha opinião não engrandece o espetáculo, ficando apenas no senso comum, talvez apostar numa trilha original ou algo fora dos padrões midiáticos tornaria a montagem mais atrativa e empolgante e traria também um elemento que senti falta, que é a "surpresa". Pois quando adaptamos uma obra literária que já foi transformada em filme, musical, teatro, enfim, o espectador já sabe de antemão o que lhe aguarda, e então é aí que entra o elemento surpresa, aquela carta na manga que o diretor e grupo decidem utilizar para surpreender seu público sem fugir do enredo. E penso que a trilha empobrece o espetáculo em questão, até mesmo com a conhecida canção final, que traz certa melancolia a cena, mas me parece que esta trilha não pertence a este espetáculo, mas sim ao filme, e isso me afasta de certo modo. Gostaria de ver algo que tivesse mais a cara do espetáculo do Grupo Leva Eu ao invés de apenas me remeter ao filme. Mas felizmente a trilha não chega a atrapalhar a fruição do espetáculo.  
Quanto ao elenco, apesar de jovens, conseguem construir personagens coesos e equilibrados. Destaco o trabalho de Gabriel Rocha, pois seu Homem de Lata é o que consegue ter uma presença   mais visceral, viva e verdadeira, uma energia que erradia através do seu olhar, demostrando que para acreditarmos em seu personagem não é preciso fazer muitas movimentações no palco e Gabriel agrada por sua presença contida e vibrante. 
Larissa Schneider é segura e imprime uma corporeidade bastante interessante ao seu espantalho. Thaina Rocha me lembrou a atriz Ruth de Souza pelo seu olhar e vivacidade, consegue através da emoção criar uma Dorothy forte e orgânica, que consegue fluir durante toda a peça, e está de parabéns pela desenvoltura. Na cena final quando a personagem (ou atriz?) vai as lágrimas, e como espectador sinto uma verdade e gostaria de compartilhar o choro juntamente com ela.
Gabriela é graciosa com seu Totó, mas creio que poderia ousar mais, Luisa na pele do Leão as vezes titubeia e percebo a verdade do ator através do olho, e o olho de Luisa as vezes vagueia, e em cena é preciso estar sempre presente e não apenas quando se diz um texto, atente-se a isso, pois em cena se está "sempre" no foco. Milena e Suelen tem boas participações e construções, mas por presentificarem figuras fabulosas (Bruxa e Mágico) poderiam extravasar mais em suas criações, para criar uma tensão dramática maior em relação aos demais personagens.  
Tudo isso para falar que "O Mágico de Óz" é um espetáculo simples que consegue tocar e encantar a platéia presente no teatro. Igor Ramos e seu grupo estão de parabéns pelo resultado alcançado e por toda a produção que é manter um espetáculo vivo em temporada. Vida longa ao Grupo Leva Eu e ao teatro produzido no interior do estado. 

Ficha Técnica:
Elenco: 
Thaina Rocha - Dorothy
Gabriela Schneider - Totó
Larissa Schneider - Espantalho
Luisa Ribeiro - Leão
Gabriel Rocha - Homem de Lata
Milena Pauli - Bruxa do Leste
Suelen Pereira - Mágico de Oz
Direção: Igor Ramos
Figurinos: Igor Ramos
Iluminação - Douglas de Lima
Maquiagem - Fernanda de Menezes

Acesse o blog do Grupo Leva Eu. 

Diego Ferreira - Graduado em Teatro/ UERGS, comentador crítico nos blogs Olhar(es) da Cena e Válvula de Escape.