Ontem fui conferir "Ópera Monstra" da Cia. Stravaganza de Porto Alegre. E como esta montagem é dirigida aos pequenos levei comigo o meu filhote Matheus, que ficou vidrado com o espetáculo.
O musical da Cia. Staravaganza é um espetáculo repleto de acertos, pois tratando-se de um melodrama consegue criar um enredo simples, repleto de reviravoltas cheias de ritmo e interpretações calcadas na grandiloquência e no exagero, natural ao melodrama. São muitos os méritos da produção, pois além de ser um musical dirigido as crianças, além de ser um melodrama (que quando bem feito não é fácil de ser executado), ainda se utiliza de uma série de recursos tecnológicos como projeções impecáveis e precisas. No melodrama as personagens recebem um tratamento moralista e maniqueísta - existe o grupo dos bons e dos maus, dos heróis e dos vilões – e o senso de justiça é exacerbado – o vício será punido e a virtude recompensada. E aqui não é diferente, existem os personagens bons e os maus, neste caso o mau é representado pela múmia Dom Skelector, que ao final será punido, mas também recompensado com o casamento com a Mama Lupina. Mesmo acontecendo este embate entre o bom e o mau, a figura do mau é representada de modo exagerado que acaba se tornando uma figura simpática que não chega a causar MEDO (ahhhhh!). A idéia era justamente a de desmitificar o medo, e conseguem e vão um pouco além, pois apresentam uma trama divertidíssima, cheia de idas e vindas, reviravoltas e revelações de mistérios. Parabéns ao Ricardo Severo, autor e diretor musical do espetáculo.
A encenação prima pela qualidade em todos os aspectos, desde a concepção do cenário, aparentemente simples, uma espécie de um palco dentro do palco separado por uma tela de filó, onde são projetadas as animações, contando ainda com a entrada de uma mesa para a cena do banquete (linda a cena!) e de outros adereços, tudo muito bem utilizado e empregado a serviço da cena. Os figurinos são belíssimos, além de serem muito funcionais e auxiliar na imersão dos espectadores ao mundo cheio de ilusão e terror, juntando a caracterização principalmente dos personagens "Frank", com seus mega-sapatos mirabolantes e seu aspecto monstruoso, e a composição de "Kastorf", que é excelente. A caracterização da múmia é outro destaque, pois dava a impressão de que realmente estava em decomposição, num figurino com efeitos belos.
Os atores formam um elenco coeso e brilhante, mas tenho que destacar o ator Rodrigo Mello (Franky), pelo virtuosismo (característica melodramática), e disponibilidade corporal empregada ao personagem, sua figura chama muito a atenção não somente pela a altura, mas pela desenvoltura empregada em cena. Outro destaque é o criado mudo (Kastorf), interpretado pelo ator Duda Cardoso, que ofusca nossos olhares com sua presença, (para que texto se temos "presença"?), uma presença recheada de intenções que ecoam através dos olhos e do corpo expressivo do ator, adorei a forma como o personagem transita em cena, tarefa difícil quando vivemos numa tradição da oralidade e verbalização. Cito estes dois, mas é lógico que não posso desmerecer os demais atores que estão ótimos em cena como o Lauro Ramalho que constrói uma múmia vilã extremamente engraçada e que por isso cativa aos espectadores, a cena em que a múmia dança interagindo com suas próprias imagens projetadas e um dos pontos altos da peça, adoro o trabalho do ator Lauro Ramalho, que consegue sempre trazer as suas criações boas doses de humor sem cair nos clichês, sinônimo de um profissional inteligente como é. E a presença das atrizes não desaponta em nenhum momento, Janaína Pelizon com sua potência grandiosa é fundamental para o sucesso deste trabalho, além de ser muito carismática e competente. Sofia Salvatori como "Condessa Valéria Dracul" é a que mais consegue presentificar o tom melodramático em cena, até pelo fato de ser a mocinha da trama, mas seus gestos são grandes e exagerados, assim como toda a sua performance, destacando sua linda e afinada voz.
Por falar em voz, destaque para toda a trilha sonora que trabalha com bases de guitarras, tornando as canções com uma levada pop, com melodias alegres e envolventes e dançantes. Saí do espetáculo com a música "A dança da Skelectite" na cabeça e na ponta da língua que minha esposa que adorou as músicas e adquiriu o CD com a trilha do espetáculo que é maravilhosa. Uma única ressalva ao espetáculo é a utilização de microfones e trilha sonora com os atores dublando as cantigas, lógico que entendo que é necessário pela amplitude vocal e adaptação ao grande espaço, mas no inicio me incomodou, mas ao final vi o quão necessário foi, e a participação da platéia durante a peça, que se fosse feita por um elenco despreparado poderia ser prejudicial, o que não é este caso.
Adriane Mottola é quem dirigi este trabalho e a CIA STRAVAGANZA, com sucesso e dedicação incrível, e que empregou nesta encenação uma linguagem inovadora, repleta de criatividade e tecnologia que sustenta o trabalho. Mottola demostra que é preciso inovar sempre, não se acomodar a estabilidade de uma cia. conhecida e propor sempre novidades, que é o que acontece com os trabalhos que já acompanhei do Stravaganza.
Parabéns a toda a ficha técnica que contribuiu para o sucesso do trabalho. E parabéns a Fundarte que ao comemorar seus 38 anos dando a população mais este presente.
Agora fico aqui curtindo a deliciosa trilha sonora de "Ópera Monstra".
Publicado originalmente no Blog Válvula de Escape em 9 de junho de 2011.
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