quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

EDWARD - O RETORNO (RS)



Nasce uma nova diretora!

Ontem, apesar do tempo feio, uma combinação de frio e chuva, fui ao teatro prestigiar o trabalho de Direção Teatral de Candida Santi Bazanella na Uergs em Montenegro. O clima chuvoso que perdurava do lado de fora do teatro tinha tudo a ver com a estética da peça "Edward - o retorno". O espetáculo é uma livre adaptação da obra "Crimes Delicados" de José Antônio de Souza e coloca em cena a absurda história do casal Hugo e Lila, colocando em cheque as relações de poder entre patrão versus empregado e uma reflexão sobre o modismo e suas consequências. É uma noite chuvosa na casa do casal. Uma onda de crimes assola a cidade, gerando mais uma moda: "matar". Lila entediada com sua pacata vida resolve seguir a moda, e começa agindo pelos animais, convencendo o marido a matar o seu empregado "Edward". E é justamente a partir daí que a peça tem o seu grande trunfo, pois nem tudo o que eles planejam sai conforme o esperado. A peça é recheada de situações absurdas num clima nonsense, lembrando a estética dos filmes de Tim Burton e dos filmes de horror, onde sua diretora conseguiu com maestria articular os diversos elementos da cena, como a direção dos atores, a concepção dos figurinos, cenários e elementos de cena, como as ótimas próteses de silicone (acho que é de silicone?), que representam as partes esquartejadas da vítima. Candida consegue uma encenação ágil, hermética, envolvente, engraçada, revelando uma sofisticação visual, dentro de uma poética própria.  Consegue também um ótimo resultado com as projeções e animações utilizadas na cena. Os atores estavam muito bem em cena, mérito também da diretora que conseguiu equalizar o seu elenco, onde os três conseguem se destacar em medidas iguais como acontece com a atriz Morgana Rodrigues, que cria um modo estilizado e melodramático para sua Lila, pontuando sempre seus gestos e ações físicas (como por exemplo, o gesto de arrumar o cabelo) criando assim uma atmosfera sarcástica e absurda, mas condizente com o universo de sua personagem. Rodrigo Azevedo consegue sustentar seu personagem através de sutilezas, que vai num crescendo, até chegar em ações amplas e melodramáticas, o que me chamou atenção no Rodrigo, foi o seu olhar, que em muitas situações falava muito mais que todo o seu corpo. Rodrigo Mello como Edward é surpreendente, pois vai desvelando seu personagem de acordo com as situações, se utilizando muito bem do seu potencial corporal. 
Este é um trabalho realizado em ambiente acadêmico, pois trata-se do resultado da Disciplina da Prática de Encenação Teatral do curso de teatro da Uergs, orientado pela Profª Jezebel de Carli, mas mesmo assim, não deixa de apresentar um resultado profissional, uma entrega de todos os envolvidos e espero que este trabalho possa ser apresentado outras vezes alcançando outros públicos fora da academia, Cândida e equipe, pensem nisso, siga trabalhando neste projeto, pois ele deve ser assistido por mais pessoas, pois vejo que teve um empenho muito grande e o resultado final foi muito feliz. Foi muito bom ver este trabalho da Cândida, já que eu acompanhei quase toda a sua trajetória dentro da Uergs e sei por quantas incertezas e dificuldades ela passou, mas aqui neste trabalho demostra que acertou o rumo e que futuramente poderia pensar em seguir nos trilhos da direção, sendo mais uma pupila da Jezebel. Eu sei que eu só elogiei, mas realmente gostei do trabalho. 
Parabéns!!!
PS: Meu filho Matheus, de cinco anos, adorou muito o trabalho, se divertiu bastante, coisa que as vezes ele não consegue fazer quando assiste trabalhos para a idade dele, portanto é um trabalho indicado para todas as idades.
Publicado originalmente no Blog Válvula de Escapeem  2 de Julho de 2011.

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