DIMENSÕES ÍNTIMAS E SUBJETIVAS NO CENTRO DA NARRATIVA
por Diego Ferreira*
A peça-filme “Derrota” a partir do texto de Dimítris Dimitriádis evidencia aspectos subjetivos no embate das contradições humanas. Parte de um universo minimalista para dialogar com questões macro, principalmente neste momento que vivemos. E esta obra e texto serem trazidos a tona neste momento é um dos grandes méritos do projeto, principalmente por evocar dimensões íntimas e subjetivas colocando a palavra no centro da narrativa. A palavra enquanto possibilidade de comunicação, extremamente elaborada e materializada através do corpo e voz de Liane Venturella, o que produz no espectador uma espécie de catarse, como se fossemos voyeur da intimidade daquela mulher. Penetramos em “Derrota” através do mundo das palavras, e através delas empreendemos a própria metamorfose da narrativa. Através da palavra dita e internalizada, construímos e reconstruímos o universo daquela mulher que sozinha em seu quarto fuma e divaga sobre suas derrotas, desejos, perdas e sonhos e isso tudo nos conecta nos provocando a criar outras dimensões sobre limites e fronteiras psíquicas e emocionais que estamos sujeitos em nosso cotidiano. E se esse cotidiano for o Brasil atual essas palavras criam outras dimensões que potencializam o discurso do texto, pois parte da materialidade do texto de Dimítris para aprofundar temas que hoje no Brasil são extremamente caros a todos nós como o caos político e sanitário. É o momento perfeito para dar uma pausa e refletir sobre nossas precariedades. Esse diálogo é necessário, é salutar, é urgente, até mesmo como uma válvula de escape, uma fuga frente ao caos.
“Derrota” é uma
parceria do Coletivo Gompa e Cia Incomode-te e evidência o notável trabalho de
Liane Venturella como grande atriz que é, tendo como possibilidade de criação a
sua presença e toda sua capacidade de articulação através de pausas, silêncios
e uma apropriação do texto que a primeira vista parece simples, mas a simplicidade
nem sempre é algo fácil de acessar, e aqui sua atuação neste experimento é
magistral. Assim como o trabalho de Camila Bauer que a cada trabalho se
reinventa enquanto encenadora, seja na linguagem, poética ou estética, mas
sempre inovando e trazendo o novo para os palcos, ou para a tela como é neste
experimento. Uma produção intima, reveladora e instigante que provoca o nosso
imaginário através da ótima utilização da palavra materializada no corpo e voz
de uma grande atriz.
FICHA TÉCNICA
Texto: Dimítris Dimitriádis
Direção: Camila Bauer
Elenco Liane Venturella
Direção Sonora: Álvaro RosaCosta
Vídeo: Júlio Estevan
Fotos: Claudio Etges
Orientação de figurino: Fabiane Severo
Iluminação: Ricardo Vivian
Assessoria de Imprensa: Léo Sant´Anna
Produção: Letícia Vieira
Coordenação de Produção: Primeira Fila Produções
Realização: Projeto Gompa e Cia. Incomode-Te.
*Diego Ferreira é Dramaturgo, Diretor, Professor e Crítico Teatral. Graduado em Teatro UERGS/2009. Estudou Letras na FAPA/2002. Coordena o Núcleo de Dramaturgia do Espaço do Ator. Editor do blog Olhares da Cena. Participou do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É integrante da GiraDramatúrgica - Grupo de Estudos em Dramaturgia Negra coordenado por Carlos Canarin/UNESPAR. Professor do Espaço do Ator e da extensão na UNISINOS. Produziu “Três tempos para a dramaturgia negra no RS” contemplado no edital Diversidade nas Culturas da Fundação Marcopolo.