domingo, 14 de abril de 2019

VAGA (RS)

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas andando e texto

DESLOCAMENTOS DE CORPOS POLÍTICOS

Por Diego Ferreira*

Corpos que vagam...
Corpos que suam...
Corpos em deslocamento
Corpos refugiados
Corpos imigrantes e migrantes
Corpos que vagam
Vaga
Vaga é um ato político desenhado nos corpos dos intérpretes
Vaga é forte
Vaga é macro e micro ao mesmo tempo
É geopolítico no que tange ao deslocamento e organização de povos e de indivíduos que carregam suas histórias que estão gravadas nos corpos
De onde venho e para onde vou...
Fico
Fica
Vaga é composto por uma grande diversidade de corpos, individualidades e subjetividades que se misturam e indicam caminhos para a própria formação do nosso país que foi formado por diversas etnias.
A GEDA cia de dança através da direção de Maria Waleska van Helden se apropria de um espaço não convencional localizado no Multipalco Theatro São Pedro e através de sua concepção Vaga consegue nos provocar desde os primeiros instantes como a entrada da mãe com sua filha no colo, partindo na seqüência inicial da marcha dos refugiados que se inicia no andar superior do espaço e que é de uma beleza extraordinária. As coreografias seguintes também provocam através dos discursos presentes nos corpos e na fala dos intérpretes. A GEDA está de parabéns por nos proporcionar outro olhar sobre um tema tão recorrente no Brasil como este. A iluminação do Casemiro Azevedo auxilia na criação e delimitação do espaço, assim como a vibrante trilha sonora ao vivo de Loua Oula Djembé, que contagia com seus tambores dando o tom a cena, mas não somente neste sentido, pois apenas a presença de Djembé já é um signo super importante e que dialoga muito com a questão da diversidade apresentada na cena. A canção - tema do Thiago Ramil é linda demais e soma - se junto a todos os acertos da produção.
Em suma, o espetáculo “Vaga” se propõe com êxito a discutir a concepção política que atravessa os discursos da dança contemporânea, a partir da contextualização e exploração das noções de política e estética presentes no pensamento acerca de migração e refugiados. Merece nosso aplauso pelas belas imagens, poesia e encantamento que um tema bastante duro consegue provocar nos corpos políticos dos bailarinos.
Ficha técnica
Direção e concepção: Maria Waleska van Helden
Intérpretes/criadores: Bodh Sahaj, Graziela Silveira, Geórgia Macedo, Priya Mariana Konrad, Consuelo Vallandro, João Lima, Clarissa Gomes, Felipe Suares, Carini Pereira, Morena dos Anjos, Danielle Costa, Marilice Bastos e Aline Karpinski.
Elenco de apoio: Nury Salazar, Juliana Nolibos, Natália Streb, Omara Longe e Perla Santos.
Assistente de direção: Luciana Dariano
Ensaiadora: Graziela Silveira
Trilha sonora: Thiago Ramil e Loua Oula Djembé
Iluminação: Carol Zimmer 
Operação de Iluminação: Casemiro Azevedo
Produção Executiva: Ana Paula Reis / Bendita Cultura
Duração: 40 minutos
Classificação indicativa: Livre
Realização: Kapsula Produções Culturais

*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. Foi jurado do Prêmio do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle. Diretor do Grupo Skatá de Canoas.