Superficialidade diante de tema tabu
"Eros Impuro" antes de ser um espetáculo que trate da questão do abuso sexual infantil, trata da questão ética na arte e seus desdobramentos acerca da relação que norteia criação e criatura, e isso é interessante na peça.
A sexualidade é abordada de forma escancarada, mas parece que o discurso do espetáculo tem a pretensão de provocar o espectador, digo "pretensão", pois não consegue me provocar ao ponto de mergulhar na história de Andrei, um pintor que traz em si uma série de complexos. A encenação tem um rico cenário, uma iluminação funcional, um diálogo interessante com o vídeo, até mesmo com as cenas desnecessárias de sexo projetadas, pois penso que teriam como abordar o assunto de outra forma, o vídeo surge como uma alteridade desnecessária, pelo simples fato de chocar, mas acaba se tornando extremamente de mau gosto.
A ator Jones de Abreu não consegue atingir um trabalho de interpretação que de conta da complexidade do personagem. Sua criação evidencia uma superficialidade que não auxilia na construção da narrativa. Tem bons momentos, mas fica frágil principalmente quando ocorre a troca de personagens, se utilizando de tipos rasos, marcados por reações previsíveis. Sua respiração ofegante e sua gargalhada me remetem a caricatura.
Sérgio Maggio consegue criar uma encenação atraente e rica esteticamente com ótimas soluções e surpresas, porém peca na condução do ator e a dramaturgia que se apresenta como mote principal a questão do abuso sexual infantil, mas que durante grande parte da narrativa apresenta divagações sexuais do personagem central divididas em níveis de alucinação e realidade, o que acaba confundindo a fruição do espectador.
DIREÇÃO E TEXTO – SÉRGIO MAGGIO. COM JONES DE ABREU. PRODUÇÃO EXECUTIVA: CLAUDIA CHARMILLOT. ILUMINAÇÃO: VINICIUS FERREIRA E JULIANA DRUMMOND.