domingo, 29 de julho de 2012

O MENINO DO DEDO VERDE (RS)



" O menino do dedo verde" é o espetáculo que me fez conhecer o trabalho do Grupo Ritornelo de Passo Fundo. Mais uma vez os grupos do interior do estado vem comprovar a qualidade dos trabalhos produzidos longe da capital. 
Com seu dedo verde, Tistu carrega a certeza de que tudo pode mudar. Este é seu objetivo, transformar a triste  realidade dos espaços sem vida num ambiente vivo, harmônico e multicolorido. Com essa bonita metáfora o Grupo Ritornelo consegue criar e oferecer ao público um espetáculo repleto de acertos, desde o lindo programa que recebemos na entrada, estendendo aos demais elementos do trabalho. 
A adaptação do livro de Maurice Druon realizada por Yuolo Cezzar é bastante feliz  pois consegue a proeza de transformar o livro em dramaturgia, sem perder a essência, e isso nem sempre é fácil, pois dar conta de demasiados detalhes, cortar, adaptar, reduzir a serviço do espetáculo é bastante complexo, mas o resultado final é bastante satisfatório. 
Os cenários, adereços e bonecos de Patrícia Preiss e Maíra Coelho são estilizados e adequados a proposta da encenação, funcionais dentro do contexto, e esteticamente belos, conseguindo através de sua manipulação, cenas altamente poéticas. A simples presença da lua suspensa trás consigo uma carga dramática a cena. A construção do pônei Ginástico também é outro exemplo de funcionalidade da cena, com este boneco o espetáculo ganha um novo personagem na cena, encantador e lúdico. Não posso esquecer dos painéis, malas e dispositivos da cena criados por Juliano Rossi, lindos e eficientes, conferindo a encenação um tom mágico e de ilusão. 
E por falar em ilusão, a mesma as vezes é rompida, através na narração em primeira pessoa pelos atores-narradores, realizando um comentário da ação dos personagens, retornando logo em seguida ao enredo da peça, uma espécie de fuga, um modo brechtiano de comentar a ação dos personagens, e que funciona muito bem dentro da proposta da encenação. 
A direção de Marcio Bernardes é precisa e altamente criativa, potencializando cada detalhe da cena, exprimindo de cada elemento o máximo de teatralidade. Marcio soube conduzir o brilhante elenco de forma coerente, e seria injusto destacar algum ator, pois todos conseguem alcançar grandes momentos através da construção de diversos tipos e figuras engraçadas, com exceção do papel título que consegue se afastar dos tipos, mergulhando mais a fundo na construção humana do personagem, que toca a fundo no espectador. Mas é claro que as demais construções se destacam pelo carisma que cativa muito, desfilam personagens como Sr. Papai e Dona Mamãe, o jardineiro Bigode, o Sr. Trovões. Outro destaque é a trilha sonora executada ao vivo por Tarso Olivier Heckler e pelo elenco dando um colorido especial a toda ação. 
Um único porém que observei foi a iluminação, sendo que determinadas cenas ficavam pouco iluminadas, alternando momentos belos, com projeções de sombras, a outras cenas que poderiam ser melhor aproveitadas. Fato que não chega a atrapalhar a fruição do espetáculo. 
Um dos grandes méritos do projeto foi o de se cercar dos melhores profissionais das artes cênicas do estado, o que resultou num dos melhores espetáculos dedicados ao público infanto-juvenil apresentados neste ano na capital. Parabéns a toda equipe técnica. E vida longa a este inesquecível trabalho. 


Mais sobre o Grupo Ritornelo em BLOG e SITE.


Diego Ferreira - Graduado em Teatro/UERGS.
Escreve para o blog OLHAR(ES) DA CENA e VÁLVULA DE ESCAPE

PS:Não posso deixar de mencionar também o patrocínio dos Correios, que viabilizou o projeto e quando visualizei a chancela da empresa fiquei bastante feliz, pois além de trabalhar na área teatral também sou funcionário público dos Correios e é bastante gratificante saber que a empresa na qual trabalho ajuda na viabilização de projetos com méritos como este.