Foto: Guto Muniz |
ARREBATADOR JOGO DE TEMPOS E APARÊNCIAS
"Marcha para Zenturo" é um espetáculo arrebatador! Arrebatador e complexo em suas diversas interfaces. A começar pela dramaturgia de Gracê Passô, que mais uma vez impressiona pela qualidade e ousadia. O texto demostra que Passô segue sua inquietante pesquisa na dramaturgia contemporânea e aqui realiza um jogo onde evidencia a questão do tempo. Os personagens da narrativa não conseguem se comunicar, ao se encontrar após 18 anos para comemorar o réveillon de 2441. Poderíamos dizer que trata-se de um espetáculo futurista, com temática a frente do nosso tempo, porém o comportamento dos personagens detona que o enfoque é muito atual, pessoas que se encontram mas não conseguem se comunicar, conversam mas não se entendem, mas o texto vai muito além disso. Consegue articular elementos complexos e arrojados tratando-se de dramaturgia. Poderia dizer que o texto é o grande destaque da encenação, mas "Marcha para Zenturo" é um grande espetáculo em sua totalidade, a direção de Luiz Fernando Marques é magnifica, pois consegue articular diversos elementos contidos na dramaturgia e em virtude disso, a cena teatral pulveriza a percepção e dá ênfase a aspectos que no texto teatral seriam considerados irrelevantes. Informações desconexas, ações desencontradas, tempos e contratempos. Tudo isso é colocado em cena de forma teatralizada, articulada e inovadora, mostrando que o teatro para nos emocionar realmente é necessário que esteja ao mesmo tempo distante e próximo, assim como os personagens da trama, seja algo inesperado e esperado, e todo tempo isso é colocado em jogo.
Quanto ao elenco, é um coletivo tão coeso que é difícil destacar alguém. Mérito do diretor. Mérito dos atores que se colocam no tempo/espaço da narrativa, disponíveis e entregues ao projeto, ninguém destoa do todo. E isso é possível graças ao trabalho de grupo e aqui é o trabalho de dois grupos, dois dos mais inventivos do atual teatro brasileiro. O coletivo atravessa todo o trabalho e isto evidencia a qualidade da interpretação. Grace, Gustavo, Janaína, Juliana, Marcelo, Paulo, Rodolfo e Ronaldo tornam Zenturo um grande jogo de tempos e aparências em que o espectador tem que ter a disponibilidade de entrar e jogar. Um misto de angústias, revelações, metáforas e desencontros que me fazem pensar: é isto mesmo que estou assistindo ou meu relógio está errado?
O cenário evidencia estes aspectos acimas abordados, colocando todos num espaço reduzido, pois o palco delimita o espaço da ação, todos estão muito perto uns dos outros e ao mesmo tempo muito longe. A presença do elemento gelo em cena, além de ser um elemento esteticamente interessante, brinca com uma metáfora, pois o gelo é o estado sólido da água, sua densidade é inferior a da água, e seu ponto de fusão é de 0 ºC a uma atmosfera de pressão. A mesma massa de água em estado líquido ou sólido tem volume diferente. Ao meu ver, os personagens representam exatamente estes estados do gelo, mergulham em densidades diferentes, ora se diluem, ora se constituem, congelam aparências e se desmancham diante situações limites, e ao final o que resta são situações liquidas, diluídas onde não há espaços para se esconder, não há espaço para se desencontrar, afinal o tempo é o agora e não podemos fugir disso.
Tarefa difícil discorrer sobre este trabalho tão belo e tão complexo em sua essência. Espetáculo instigante e imperdível!
#palcogiratoriors
O cenário evidencia estes aspectos acimas abordados, colocando todos num espaço reduzido, pois o palco delimita o espaço da ação, todos estão muito perto uns dos outros e ao mesmo tempo muito longe. A presença do elemento gelo em cena, além de ser um elemento esteticamente interessante, brinca com uma metáfora, pois o gelo é o estado sólido da água, sua densidade é inferior a da água, e seu ponto de fusão é de 0 ºC a uma atmosfera de pressão. A mesma massa de água em estado líquido ou sólido tem volume diferente. Ao meu ver, os personagens representam exatamente estes estados do gelo, mergulham em densidades diferentes, ora se diluem, ora se constituem, congelam aparências e se desmancham diante situações limites, e ao final o que resta são situações liquidas, diluídas onde não há espaços para se esconder, não há espaço para se desencontrar, afinal o tempo é o agora e não podemos fugir disso.
Tarefa difícil discorrer sobre este trabalho tão belo e tão complexo em sua essência. Espetáculo instigante e imperdível!
#palcogiratoriors
Concepção: Grupo XIX de Teatro e espanca!
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Grace Passô
Elenco: Grace Passô (Nina), Gustavo Bones (Gordo), Janaina Leite (Noema), Juliana Sanches (Lóri), Marcelo Castro (Patalá), Paulo Celestino (Bóris), Rodolfo Amorim (Marco) e Ronaldo Serruya (Konstantin)
Iluminação: Guilherme Bonfanti
Projeto Áudio-visual: Pablo Lobato
Treinamento de View Points: Miriam Rinaldi
Oficina de Interpretação: Ana Lúcia Torre
Cenário: Luiz Fernando Marques, Marcelo Castro, Paulo Celestino e Rodolfo Amorim
Figurino: Gustavo Bones, Janaina Leite, Juliana Sanches e Ronaldo Serruya
Trilha Sonora: Luiz Fernando Marques
Técnicos e Operadores de Luz: Amanda Magrini e Edimar Pinto
Assistente de Ensaios: Thiago Wieser
Produção: Aline Vila Real (espanca!) e Graziela Mantovani (grupo XIX)
Duração: 90 min
Classificação: 14 anos
espetáculo realizado com recursos do projeto “Co-Habitação”, do Grupo XIX de Teatro – patrocinado pela PETROBRAS através do Programa PETROBRAS Cultural.