segunda-feira, 18 de setembro de 2023

UM FASCISTA NO DIVÃ (RS)

 



HIBRIDISMO ESTÉTICO ENTRE TEATRO, PERFORMANCE E CINEMA 

por Diego Ferreira*

 

O fascismo é um conceito que gera muito debate por sua complexidade, movimento político que se adapta a diferentes circunstâncias e apropria-se de ideais de diferentes ideologias. De toda forma, o fascismo, enquanto movimento político e social, possui uma retórica populista que explora assuntos como a corrupção endêmica da nação, crises na economia ou “declínio dos valores tradicionais e morais” da sociedade. Além disso, defende que mudanças radicais no status quo devem acontecer.

O fascismo é forma radical da expressão do espectro político da direita conservadora. Partindo desse movimento e conceito no campo da radicalidade política, o espetáculo “Um fascista no divã” radicaliza a estrutura teatral propondo um hibridismo cênico visceral no que tange a atuação do ator e também no apelo estético e político que a obra oferece.

Alexandre Dill é um dos diretores mais provocativos da cena gaúcha atual, juntamente com Camila Bauer do Coletivo Gompa justamente por suas criações que não encerram as narrativas em si mesmas, mas provocam instabilidades que tensionam a relação entre a obra e o espectador. O caminho autoral do GrupoJogo tem se firmado por meio da aproximação e experimentação com outras linguagens como dança, teatro, a música, artes visuais, digitais e audiovisual no que resulta em trabalhos com uma assinatura própria. E esse trabalho surge justamente pela parceria estabelecida entre o grupo, Reina Produções e o ator Vinícius Meneguzzi.

“Um Fascista no Divã” é experiência cênica que não faz concessões alguma, além da abordagem política extremamente necessária e atual sobre a ascensão de regimes totalitários no Brasil a partir do nebuloso período político que passamos e que ainda estamos mergulhados, de certo modo; aliados a um excelente trabalho do interprete Meneguzzi, que através de um diálogo direto com a plateia consegue criar um painel caustico em sua moldura e fervilhante no seu discurso. Vinícius cria três vias narrativas: a primeira é o ator em sua essência, dialogando com o espectador, evidenciando alguns conceitos e o que o levou a montagem da obra, a segunda é quando assume o papel de um psicólogo que tem o desafiador caso de um político com tendências e comportamentos fascistas (qualquer mera semelhança com a realidade é mera coincidência) . E a terceira é justamente quando performa o próprio fascista, criando uma instigante figura bestial, quase infantil que aos poucos vai desvelando o seu pensamento psicopata, sendo que essa figura é projetada através de vídeos, alias uma marca do grupo e que nesta produção merece grande destaque para Gabriel Pontes que faz a dramaturgia e  direção audiovisual, e na performance é um dos elementos que torna o espetáculo radical. O ator, a direção de Dill, e a direção audiovisual tem muito êxito em seus respectivos trabalhos justamente para ajustar os tempos e a relação do performer que dialoga grande parte com o audiovisual, e esta simbiose é perfeita e provocante. Assim como a música “Macho-Rey” de Ian Ramil que dá a tônica da performance, com ironia e humor que dialoga muito com a performance.

Nos últimos anos, aqui no Olhares da Cena sempre destacamos o trabalho do GrupoJogo que parte de uma pesquisa experimental séria e de investigação cênica. É notável a maturação do coletivo e o compromisso com a investigação cênica, a radicalidade nos posicionamentos e propostas, o engajamento em perguntas sintonizadas com nosso tempo.  

 

 

FICHA TÉCNICA 

ATUAÇÃO
VINÍCIUS MENEGUZZI

DIREÇÃO
ALEXANDRE DILL

PRODUÇÃO EXECUTIVA
SOFIA FERREIRA

DRAMATURGIA E DIREÇÃOAUDIOVISUAL
GABRIEL PONTES

MUSICA
IAN RAMIL

ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
JEFERSON SILVA

DESENHO DE MOVIMENTO
GUILHERME CONRAD

ORIENTAÇÃO CORPORAL
NATÁLIA KARAM

TÉCNICO DE LUZ
LUCCA SIMAS

TÉCNICO AUDIOVISUAL
HENRIQUE STRIEDER

ASSESSORIA DE IMPRENSA
BEBÊ BAUNGARTEN

FOTOS
JÚLIO APPEL

 

*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Integrante da Comissão do Prêmio Tibicuera de Teatro Infanto-Juvenil 2023. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS." Colunista da Revista Brasa. Integrante do CEN – Coletivo de Escritores Negros do RS.


sábado, 19 de agosto de 2023

ESPERANDO GODOT (RS)


TRADIÇÃO versus CONTEMPORANEIDADE EM ESPERANDO GODOT

por Diego Ferreira*


“Esperando Godot”, uma das mais desconcertantes obras literárias do século XX, aponta, de maneira incontornável o paroxismo da modernidade: os sintomas de uma cultura que manifesta, do modo mais agudo a sua crise, o seu limite. Clássico moderno que é, permanece e se renova sempre. O lugar central de Beckett no teatro está longe de ser capítulo encerrado na reflexão contemporânea. Por isso segue sendo encenado mundo afora. E seguirá sendo.  Esperando Godot é uma grande parábola da sociedade moderna. É o testemunho do um fim de uma época, do esgotamento de uma sociedade, do esgotamento da possibilidade de ação humana na medida em que perdemos a noção da nossa existência.

Me parece que evocar Beckett na atualidade acontece justamente quando nossas linguagens parecem já não dar conta de um mundo tão fragmentado, convulsionado e caótico. Quando as palavras e as imagens já não conseguem tranquilizar nossa insegurança nem remediar uma realidade desprovida de sentido. É como se Beckett ainda nos questionasse: como representar o irrepresentável? Como dar uma cena, um quadro simbólico para aquilo que foge aos marcos da razão? Como explicar o inexplicável de um cotidiano insensato e amnésico, repetitivo e ausente?

E algumas dessas reflexões estão no cerne da encenação proposta por Luciano Alabarse, que acerta justamente em evidenciar aspetos humanos aliados a um forte apelo estético que impacta o espectador desde o início da produção. E a proposta estética evidenciada pelo espaço cênico; um cenário de restos, escombros, ruínas de lixo; já é uma metáfora que coloca Beckett na atualidade, pois situar “Esperando Godot” no meio do lixo é também olhar para o hoje, para o mundo em que a sujeira nos cerca e impacta em tudo na vida contemporânea. E em meio a esses escombros repleto de lixo que surgem as figuras beckettinianas: Estragon, Vladimir, Pozzo, Lucky e o Menino. Outro trunfo da produção foi o elenco encabeçado apenas por atrizes, o que não é nenhuma novidade tratando-se de “Esperando Godot”, mas aqui o mérito é a  reunião no palco do que há de melhor do teatro gaúcho tratando-se de atuação, mesclando gerações diferentes, mas que nessa produção as atuações convergem para o mesmo caminho. Sandra Dani e Janaína Pellizon são respectivamente Estragon e Vladimir, responsáveis por conduzir a peça de longa duração e em nenhum momento perdem o vigor e a vitalidade dos personagens. A dupla funciona muito bem através da construção de jogos de palavras, falas sem sentido, diálogos e personagens que mudam abruptamente de emoções e esquecem tudo, desde as suas próprias identidades até o que aconteceu no dia anterior. Tudo isso contribui para o humor absurdo ao longo da peça. E Sandra Dani e Janaína Pellizon através de suas construções submergem em subjetividades para a partir disso construir a humanidade necessária que faz com que acreditamos nessas figuras niilistas.    

É sempre um deleite assistir Sandra Dani nos palcos com tamanha força e dignidade em cena, uma verdadeira aula que todo artista em formação deveria obrigatoriamente assistir para aprender com quem dedica uma vida inteira de forma ética a arte de interpretar. Arlete Cunha também é do mesmo patamar de Sandra Dani e impressiona como Pozzo, empregando uma força tamanha que nos arrebata. Sua construção é enérgica fazendo um contraponto a dupla central. Valquíria Cardoso interpreta o Menino e trás leveza e poesia nos breves momentos que aparece em cena. Mas é em Lisiane Medeiros a grata surpresa da produção, por sua construção sanguínea de Lucky, figura meio bicho/homem, que é dominado por Pozzo. Mesmo sendo uma figura animalesca, que se comunica por uma via não verbal, cria uma dimensão humana através de um corpo presente, um corpo explorado, que se move pelo espaço e mesmo em momentos em que está deitado num canto do espaço chama atenção do espectador pela força poética que sua figura exprime. Uma das cenas mais impactantes da montagem é justamente aquela em que Lucky assume o microfone e exprime todas a vozes do mundo, e é justamente aqui que Luciano Alabarse articula a tradição do texto versus a contemporaneidade da encenação, fincando o clássico na atualidade. Presentificar essa figura hibrida que é Lucky não é tarefa fácil, porém Medeiros através de sua construção nos presenteia numa interpretação arrebatadora.  

“Esperando Godot” na visão de Alabarse é teatro de qualidade, poético e teatral, com uma grande equipe técnica que demostra o quão Beckett ainda precisa ser encenado pois segue nos provocando reflexões acerca da nossa existência. 

FICHA TÉCNICA: 

ESPERANDO GODOT 

Texto de SAMUEL BECKETT 

Direção de LUCIANO ALABARSE 

 Elenco: 

SANDRA DANI (Estragon) JANAÍNA PELLIZON (Vladimir) 

ARLETE CUNHA (Pozzo) LISIANE MEDEIROS (Lucky) 

VALQUÍRIA CARDOSO (Menino) 

Diretora Assistente ÂNGELA SPIAZZI 

Cenografia e Trilha Sonora LUCIANO ALABARSE 

Figurinos ZÉ ADÃO BARBOSA 

Iluminação MAURÍCIO MOURA E JOÃO FRAGA 

Construção Árvore RODRIGO SHALAKO 

Preparação Corporal ÃNGELA SPIAZZI 

Design Gráfico JAQUES MACHADO 

Operação de Som MANU GOULART 

Operação de Luz JOÃO FRAGA E MAURÍCIO MOURA 

Assessoria de imprensa AGÊNCIA CIGANA – CÁTIA TEDESCO E MAUREN FAVERO 

Produção Executiva JAQUES MACHADO 

Adaptação Texto LUCIANO ALABARSE 

Uma produção ALABARSE PRODUÇÕES CULTURAIS ME 

 

*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Integrante da Comissão do Prêmio Tibicuera de Teatro Infanto-Juvenil 2023. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS." Colunista da Revista Brasa. Integrante do CEN – Coletivo de Escritores Negros do RS.


sexta-feira, 30 de junho de 2023

AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR (RS)

    


POTÊNCIA CRIATIVA EM PRODUÇÃO DIRIGIDA AOS PEQUENOS

por Diego Ferreira*

     Vivemos num tempo onde tudo é muito rápido, onde nossa vida é mediada o tempo todo por tecnologias, imagens, sons, barulhos, streamings, fluxos e ritmos alucinados. Vivemos num tempo onde é difícil ousar parar o tempo, afinal de contas tempo é dinheiro.   E imagina ser criança nesse universo veloz com uma grande oferta de jogos, telas, séries e quase sempre com um acesso diretamente na palma da mão?

O universo do teatro infantil está carregado de desafios e preconceitos. A partir deles, é possível compreender as concepções de infância atual, desvelando as formas como a sociedade contemporânea vê a infância e, o trabalho analisado aqui propõe uma abordagem que dialoga justamente com a infância do hoje, mas resgatando elementos de infâncias de outros tempos.

Diante disso, no panorama do teatro produzido e pensando para a(s) infância(s) segue sendo uma resistência até política frente a grande oferta tecnológica. Produzir teatro para os pequenos sempre foi mais difícil, primeiro pelo próprio preconceito da classe artística por muitas vezes enxergar esse teatro como algo menor, diferente do teatro dirigido ao público adulto e também por entender que dialogar com a infância vai exigir da produção ir além do entretenimento pelo fato de a criança ser exigente e crítica.                                                                               

        Ao entender que crianças e adultos podem fruir de uma mesma experiência estética, independentemente da idade, ao apostar na potência criativa e na inteligência da criança e compreendê-la como alguém crítica saúdo o trabalho e esforço da Rococó em manter viva a produção do bom teatro infantil.

Dentro desse cenário alguns grupos e coletivos tem se dedicado a produzir espetáculos direcionados ao público infanto-juvenil,  muitos apropriam-se desse universo tecnológico, seja na utilização de todo um aparato técnico ou até mesmo na própria dramaturgia e na contramão tem profissionais que ainda utilizam o teatro como uma válvula de escape produzindo espetáculos de forma artesanal, resgatando a ludicidade de infâncias de outros tempos, que é o caso da Rococó Produções. Como tenho observado e assistido em seus últimos espetáculos dirigidos ao público infantil como “Era uma vez: Contos, lendas e cantigas”, o excelente “De la Mancha – O cavaleiro trapalhão” e agora o seu mais novo “As aventuras de João, a princesa e o tapete voador”, percebo que a Rococó acerta na realização deste espetáculo, pela pesquisa que tem desenvolvido nos últimos anos com o enfoque no teatro produzido aos pequenos.

 “As aventuras de João, a Princesa e o Tapete Voador” é um espetáculo leve e divertido que resgata o jogo lúdico de cantigas e brincadeiras através da utilização de máscaras e cores inspirados na comédia dell’arte. A dramaturgia de Guilherrme Ferrêra é cheia de rimas e musicalidade, partindo da utilização de cantigas do folclore brasileiro e de domínio público somados a contação de histórias através da figura de um narrador, num espetáculo que faz uma reflexão sobre as diferenças.   Uma viagem ao universo lúdico que carrega nas narrativas repletas de aventuras. A produção é irretocável, justamente pela seriedade com que é tratada em todos aspectos, sejam eles estéticos, pedagógicos e éticos. Chama atenção a paleta de cores dos elementos visuais da produção, que tem direção e concepção estética de Suzi Martinez, que consegue amarrar todos os elementos da cena a partir da escolha acertada das cores, seja na linda identidade visual de Gianna Soccol, passando pelo expressivo e funcional cenário, assim como as belas máscaras e figurinos com seus tons de cores e texturas variadas se adequando aos diversos personagens que desfilam no palco. Cabe destacar a excelente iluminação proposta pelo Roger Santos, que oferece ao espetáculo novos elementos como a boa utilização dos Leds e também o bom uso de gobos que faz a projeção de figuras de modo artesanal, criando outros espaços que fogem da perspectiva de apenas criar uma iluminação básica, mas a luz desse trabalho cria outras camadas e perspectivas para a cena onde percebemos que existe uma pesquisa apurada.  Suzi Martinez mais uma vez demostra competência na direção desse trabalho, pois consegue orquestrar uma série de elementos estéticos, assim como propor um espetáculo onde tem a trilha sonora executada ao vivo, um trabalho corporal forte e orgânico, a utilização das máscaras que requer um corpo presente, além de uma narrativa que precisava de um elenco que desse conta de tudo isso. E o elenco é extremamente competente e eficaz, pois consegue dialogar com o universo proposto pela dramaturgia repleta de canções e aventuras. Clarissa Siste, Guilherme Ferrêra e Henrique Gonçalves, cantam, dançam e interpretam uma série de personagens com organicidade e um corpo/voz bem articulados e preparados para esse tipo de produção onde o ator/atriz tem que estar atento pelas exigências que o trabalho requer.

             “As aventuras de João, a princesa e o tapete voador” é daqueles trabalhos que vai figurar no imaginário e memória não só dos pequenos, mas também dos adultos que puderam assistir, principalmente pelo profissionalismo e cuidado que a Rococó Produções tem entregue ao seus espectadores através de suas produções.                                                                                                                                                                                                             FICHA TÉCNICA:

AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR
Direção e concepção estética: Suzi Martinez
Dramaturgia: Guilherme Ferrêra   
Elenco: Ator Henrique Gonçalves (personagem João) Atriz Coadjuvante: Clarissa Siste (personagens princesa Titânia, Dona Cotinha, Cavaleiro ) Categoria Ator Coadjuvante: Guilherme Ferrêra (Personagens Narrador, Pedro Ligeiro, Rei )
Cenografia: Rococó Produções Artísticas e Culturais
Figurino: Guilherme Ferrêra e Suzi Martinez
Máscaras: Samara Barros
Iluminação: Roger Santos
Trilha pesquisada e músicas originais: Guilherme Ferrêra e Suzi Martinez
Provocação Musical: Simone Rasslan 
VideoMaker: Júlio Estevan
Fotografia: Tom Peres

Identidade Visual: Gianna Soccol
Produção: Rococó Produções Artísticas e Culturais 
Realização: Rococó Produções Artísticas e Cultura


*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Integrante da Comissão do Prêmio Tibicuera de Teatro Infanto-Juvenil 2023. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS."

 

 

domingo, 7 de maio de 2023

BEIJE SEU PRETO EM PRAÇA PÚBLICA (RS)


BEIJO PRETO DE MOBILIZAÇÃO E PROVOCAÇÃO

*por Diego Ferreira

    O espaço da Galeria La Photo é amplo, lindo e branco. Sim, demasiado branco e ao se instalar nesse lugar o espetáculo "Beije seu preto em praça pública!" consegue subverter esse espaço simbólico de contemplação para evocar uma obra de arte preta de mobilização, que precisa de um pouco de atenção e tempo para ser desvelada a partir das muitas camadas na qual o trabalho foi estruturado.        A frase "Beije sua preta em praça pública" ganhou notoriedade ao estampar a capa de uma publicação do MNU (Movimento Negro Unificado) e carregava consigo uma reflexão importante que é o de estabelecer o espaço público como um local de trocas afetivas para negros. E eis que Rafael Domingues se utiliza dessa frase para construir o seu "Beije seu preto em praça pública!" e dentro desse imaginário (e galeria) branco evocar em cena o corpo preto do ator, um corpo muitas vezes hiperssexualizado, mas através das camadas e tessituras propostas pelo espetáculo nos permite a sim, enxergar um corpo preto digno de ser amado e respeitado, mas para chegarmos a dignidade muitas vezes esse mesmo corpo perpassa caminhos dolorosos, cansativos e devastadores. E esses caminhos são evidenciados justamente pela estrutura do espetáculo que faz alusão a cartas destinadas a Madame Satã, figura marginal carioca que personifica a potência do sujeito preto e gay em suas diversas narrativas. E essa estrutura dramatúrgica permite que o ator dialogue com um interlocutor mítico mas também dialoga em muitos momentos com a platéia fazendo com que o espectador se torne muito mais do que um voyer e passa a ser espectador ativo, no sentido de não estar ali apenas para contemplar uma obra de arte dentro do museu (teatro!), mas participar de modo reflexivo e também dentro da cena. Por este aspecto o espetáculo dá uma porrada no espectador por estilhaçar uma visão muitas vezes romantizada da vida de pessoas pretas, e aqui vemos a cisão das frustações do amor com a coragem de ser bixa preta dentro de uma sociedade que segue violentando e tentando expurgar esses corpos da sociedade. Mas a porrada transforma-se em afeto e carinho muito pela estrutura na qual foi construída a peça que abraça o espectador através da entrega do Rafael Domingues e das suas narrativas sejam elas corporais, estéticas, politicas e dramáticas.  Um trabalho que trás a cena gaúcha um novo folego justamente pela entrega de toda a equipe que fez acontecer um espetáculo que é provocativo, belo e político. 

Duração: 50 min

Ficha técnica:

Elenco: Rafael Domingues

Direção: Bruno Fernandes e Fernanda Fiuza

Fotografia: Renê de Palma

Iluminação: Patrícia de la Rocha

Trilha sonora: Anderson Vasconcelos

Figurino: Iago Jara

Orientação: Thiago Pirajira

Agradecimento especial: Regina Peduzzi Protskof, Vanessa Fiuza, Diogo Silveira, Batista Freire.


*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Integrante da Comissão do Prêmio Tibicuera de Teatro Infanto-Juvenil 2023. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS."


terça-feira, 11 de abril de 2023

TRAGO SORTE, MENTIRA & MORTE (RS)




15 ANOS DE TRABALHO CONTINUADO E REFERENCIA DO TEATRO GAÚCHO


por Diego Ferreira*


O grande mérito de assistir "Trago sorte, mentira & morte" já inicia pelo próprio título do espetáculo, esse jogo de palavras dúbias que se instala durante toda a produção. Esse "trago" que pode ser do verbo "trazer" a sorte mas ao mesmo tempo o "trago" se refere a bebida, a cachaça que embriaga as mentes e corações das figuras que desfilam durante a narrativa. Nessa produção onde o grupo Cerco comemora 15 anos de competente pesquisa teatral, o coletivo se arrisca no sentido de a cada trabalho estar se reinventando em relação a sua própria linguagem e poética de trabalho. No novo espetáculo o que me surpreende de imediato é a dramaturgia proposta por Celso Zanini, uma escrita que utiliza o recurso da rima enquanto um recurso estilístico, que traz a montagem um ritmo, uma sonoridade e principalmente uma musicalidade na palavra, alias um bom trato a palavra escrita e tornada viva na performance dos atores.  "Trago sorte, mentira & morte" é um espetáculo com uma narrativa atemporal, uma típica comédia de trapaças com personagens caricatos e cômicos inspirados na comédia dell'arte. A narrativa coloca em um bar decadente, personagens boêmios que vivem imersos em bebidas, jogos e sedução. Nesse ambiente degradado lutam por sua sobrevivência e pelo seu prazer. "Trago Sorte Mentira & Morte" é uma opereta rock repleta de malandragem e feitiçaria onde a ganância mortal encontra a morte e o sobrenatural. Na trama tem trapaças, ambição e a disputa pelo poder e dinheiro.  Encontramos Valentin, um trambiqueiro malandro, e Tom, um trapaceiro de jogos de azar,  que têm seu caminho cruzado por Marquito, um político argentino, e Lívia, uma sedutora femme fatale. Interessados pelas habilidades de Valentin, Marquito e Lívia o inserem no mundo da política ambicionando o enriquecimento. E partindo dessa premissa Celso Zanini presenteia o espectador com uma trama cheia de idas e vindas numa escrita alucinante recheadas de números musicais que também são destaques da montagem. Com canções do próprio Zanini e direção musical de Simone Rasslan,  que mais uma vez é cirúrgica na direção e construção de uma dramaturgia musical, constroe junto a banda que é no mínimo espetacular uma dramaturgia sonora que está totalmente integrada ao enredo do espetáculo. E como isso funciona bem no todo, as canções entram de modo orgânico e não apenas como uma inserção mecânica, as trilhas fazem parte do todo e é um dos pontos altos da produção que sempre se faz presente nos trabalhos do Grupo Cerco, mas aqui verticalizam o seu uso pelo fato de ser apresentado como um musical onde os atores cantam, dançam e representam afinados musicalmente e fisicamente. Coisa boa assistir essa produção que celebra o ato de estar no palco, a vida, a alegria após momentos tensos. Momento de celebração, de compartilhamento de alegrias e de pequenos momentos de suspensão do nosso cotidiano para adentrar no espaço/tempo fabular do espetáculo que é uma delícia de assistir. E apenas para citar um desses momentos de suspensão que é a cena que invoca a morte, uma cena que tem o caráter espetacular, com alto teor de uma poética que se manifesta no todo, mas ali é uma cena de puro deleite onde estão justapostos a teatralidade, a estética e a criatividade. Desde a concepção a execução o grupo Cerco é impecável na unidade do seu elenco, na acertada direção de atores e direção musical, e na criação estética do espetáculo que tem figurinos, maquiagem, iluminação e cenários todos a serviço dessa grande festa que se torna o espetáculo. Uma das boas estreias da retomada do teatro. 


FICHA TÉCNICA

Criação coletiva: Grupo Cerco

Direção Cênica: Inês Marocco e Kalisy Cabeda

Direção Musical e Preparação Musical: Simone Rasslan

Dramaturgia: Celso Zanini

Elenco: Anildo Böes, Bruno Fernandes, Camila Falcão, Elisa Heidrich, Manoela Wunderlich, Martina Fröhlich, Philipe Philippsen

Banda: Frigo Mansan, Gabriela Lery, R. Fernandez

Composição Original das Canções: Celso Zanini e Sanatório Rock Blues

Arranjos: Frigo Mansan, Gabriela Lery, R. Fernandez e Simone Rasslan

Cena Sonora Original: Grupo Cerco e Banda

Desenho de Luz: Ricardo Vivian

Operação de Luz: Roger Santos

Desenho de Som: Rodrigo Rheinheimer

Cenografia: Rodrigo Shalako

Concepção de Figurinos: Valquíria Cardoso

Confecção de Figurinos e Adereços: Valquíria Cardoso, Alex Limberger e Mari Falcão

Maquiagem: Anildo Böes, Camila Falcão, Manoela Wunderlich e Martina Fröhlich

Preparação Corporal: Anildo Böes e Manoela Wunderlich

Preparação Vocal: Philipe Philippsen e Simone Rasslan

Programação Visual: Marina Kerber

Gestão de Redes Sociais: Elisa Heidrich

Fotos para Divulgação: Adriana Marchiori

Assessoria de Imprensa: Tatiana Csordas

Produção e gestão: Daniela Lopes / Cardápio Cultural

Apoio: Copystar, Grupo Press e Pastel com Borda

Realização: Grupo Cerco


*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS."


sábado, 11 de março de 2023

MESA FARTA (RS)



MESA FARTA E A CELEBRAÇÃO DE EXISTÊNCIAS NEGRAS

*por Diego Ferreira - Especial Porto Verão Alegre

    Há um excesso de abordagens da cultura negra sob o viés da dor e do racismo, talvez seja essa uma premissa necessária e urgente e "Mesa Farta" do Coletivo Pretagô caminha numa direção oposta ao colocar em cena uma abundância de festividade, de celebração, evidenciando corpos pretos em sua potencialidade de excelência. Entendo "Mesa Farta" como um passo a frente no trabalho performativo do Pretagô, uma maturação e evolução na linguagem e no discurso. Acredito e tenho fé numa arte preta de denúncia, de protesto, de colocar o dedo na ferida, e o próprio coletivo investigou essa possibilidade no seu primeiro trabalho "Qual a diferença entre o charme e o funk?"(2014), que discutia questões sociais sob a perspectiva da arte, de um corpo e discurso preto e politico, falando sobre racismo, afirmatividade, cultura e memória. 
    E passado alguns anos e alguns trabalhos eis que surge "Mesa Farta" que oferece ao seu público uma mesa posta e farta onde a dor e denúncia cedem o lugar a celebração, a festividade, a dança e a música. E o que isso significa?  Que nossas narrativas invibilizadas durante séculos e a tentativa de apagamento das nossas histórias não precisam mais serem evidenciadas? Não exatamente, pois ao assistir "Mesa Farta" minha reflexão é de que a arte preta assim como toda a sociedade está em movimento, e creio que o momento é o de celebrar, de compartilhar, de cantar e dançar, principalmente após uma pandemia e um governo que tinha uma política de destruição contra a comunidade preta e de todos os avanços que conquistamos ao longo dos anos. 
    Então é chegado o momento da fartura, de colher e compartilhar a alegria, de rebolar até o chão, de brindar e degustar o que há de melhor da vida. E o espetáculo é sobre isso, sobre a mesa, que é o único elemento cenográfico no palco, que fizemos um pacto de repensar quais serão os próximos passos e enquanto refletimos, comemos e dançamos, cantamos e nos divertimos. Entre quadros, cenas isoladas, narrativas entrecortadas e permeadas de um humor sarcástico e perspicaz, o coletivo Pretagô evidencia uma cena explosiva, com quatro corpos pretos que multiplicam através das suas presenças os discursos e narrativas que são agentes de transformações dentro desse processo e momento em que nos encontramos. 
    A produção marca a retomada do coletivo que durante a pandemia não parou, porém esse trabalho que havia feito apenas duas apresentações presenciais em sua estreia em 2020 retoma agora com folego e vibração, e ao mesmo tempo refletir como um espelho, da cena que reverbera no espectador a beleza e alegria que é ter a pele negra exaltada no palco. E o espetáculo é uma vitrine do sucesso, do poder, da beleza e da vitória colocados a mesa, mesa esta que agora temos o nosso lugar assegurado. Bruno Fernandes, Camila Falcão, Laura Lima e Kyky Rodrigues destilam sensibilidade e colocam seus corpos cheios de presença evidenciando que o corpo em cena por si só, já está carregado de discursos, mas suas narrativas e vozes potencializam ainda mais essa narrativa que contamina a cena. Os quatro atores dirigidos por Thiago Pirajira, um criador e pensador inquieto que eclode a cena com uma encenação carregada de subjetividades e teatralidades e que diz muito sobre a atualidade. Somados a isso temos uma técnica que trabalha a serviço da cena como a trilha original e funcional de João Pedro Cé, Thiago Pirajira e Grupo Pretagô que é mais um forte elemento narrativo da performance. "Mesa Farta" evidencia que o coletivo tem estofo suficiente para criar uma obra que celebra a nossa existência, priorizando os processos, as experiências e os deslocamentos que nos levam de um ponto a outro entendendo que o caminho é subjetivo e diferente para todos, compreendendo as vulnerabilidades no corre nosso de cada dia, mas que mesmo assim precisa e merece ser celebrado, precisa de um lugar ao sol diante de uma mesa farta de momentos de suspensão de um cotidiano que ainda insiste em nos encaixotar, nos classificar, em nos excluir. Que cada vez mais possamos desfrutar de mesas cada vez mais cheias de tudo o que temos direito. 

Ficha Técnica
Direção Thiago Pirajira
Elenco Bruno Fernandes, Camila Falcão e Kyky Rodrigues. 
Dramaturgia Grupo Pretagô
Trilha sonora original João Pedro Cé, Thiago Piraijra e Grupo Pretagô
Operação de som João Pedro Cé
Figurino Camila Falcão e Mari Falcão
Maquiagem Camila Falcão
Projeções Jana Castoldi
Iluminação Bathista Freire
Cenografia e ambientação Grupo Pretagô
Cenotécnico Rodrigo Shalako
Contrarregra Miguel Rosa
Captação e edição de vídeo Thiago Lazeri
Fotografia, Marca e Cartaz Anelise De Carli
Produção e Realização Grupo Pretagô
Duração 75 minutos
Classificação 14 anos

*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS."



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

TERRA ADORADA (RS)





DRAMATURGIA-TESTEMUNHO ou 
UM GRITO SOLTO NO AR
por Diego Ferreira *(Especial Festival Porto Verão Alegre)

“A visão que você tem de terra, é muito diferente da visão que a gente tem. Não dá para você olhar para nós, povos indígenas, e pensar que a gente tem o mesmo entendimento de território como o seu. Que é de exploração, destruição, pensando em lucro, pensando em dinheiro. Não é esse o entendimento nosso. Para nós, o território é sagrado. Precisamos dele para nós existir. E vocês olham para a terra indígena e chamam de terra improdutiva. Nós chamamos isso de vida. (…) Nós defendemos a vida, nós defendemos a nossa identidade. Nós vamos derramar até a última gota de sangue para defender nossos territórios, para garantir a existência de nossos povos. (…) A gente quer ter o território para a gente continuar com o nosso modo de vida. (…) Num é porque você tá na cidade, num apartamento, numa mansão, que a gente quer isso para a gente também não.” 
Sonia Guajajara (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), 2019

    “Terra Adorada” se define pela hibridez de linguagens  que se cruzam na performance, baseado em um processo de construção das corporeidades e sonoridades dos povos originários que dialogam com narrativas vivenciadas em terras indígenas guaranis e kaigang, somadas ao testemunho e as memórias da atriz no interior do Rio Grande do Sul. Destaco a relevância da dramaturgia (Vencedora do 11º Prêmio Olhares da Cena 2020/2021), construída coletivamente por Ana Luiza da Silva, Jezebel de Carli e colaboração de Vika Schabbach, mãos de mulheres que escrevem, constroem e reconstroem a narrativa da performance acerca de uma pauta extremamente urgente e necessária, principalmente agora quando a tragédia humanitária que ocorre na terra Yanomami invade os noticiários, pelo descaso e violências que esse povo tem sido acometido nos últimos anos, mas que infelizmente não é um caso isolado, nem tão pouco uma exceção a todas as violências que os povos indígenas tem sofrido ao longo dos séculos nessa “terra adorada” chamada Brasil. E esse Brasil que vira as costas para os povos indígenas e que comete uma série de violências que são vivenciadas na performance. Por isso é de tamanha importância a vivência de Ana Luiza somadas as mãos de mulheres como Jezebel, Vika e tantas outras para evocar episódios de um país parido por mulheres.     O trabalho tem uma força tamanha que perpassa palco e platéia, como a cena da demarcação, onde a atriz/performer vai aos poucos isolando o pequeno espaço do Teatro de Arena, mas que ao mesmo tempo vai provocando o espectador, colocando uma pedrinha no calçado,  evidenciando uma metáfora de demarcação de território.  Assistimos uma série de cenas, irrupções, explanações, que não conseguem abarcar a dimensão dos povos indígenas em sua totalidade, mas o que assistimos representa com força e dignidade uma parcela que está sendo dizimada a muito tempo. A desconformidade na "dramaturgia-testemunho" provoca encontros entre discursos que, na divergência, dão tom de ironia à peça, expondo as tensões político-ideológicas entre as figuras construídas. O texto ganha complexidade no corpo/voz da atriz, mas também nos outros elementos da performance, como a projeção que trás uma série de vídeos que ajudam na tessitura da narrativa, assim como os elementos cênicos que são em sua maioria simples, mas que ganham grandes dimensões justamente por evocar situações no espaço que ajudam o espectador a embarcar na cena,  assim como o símbolo máximo do país, a bandeira nacional extremamente representativa nos últimos anos, já que assim como as terras indígenas foi apropriada de forma indevida. Violações demarcam os olhares externos à presença indígena, que segue resistindo dentro dessa terra pátria adorada inventada que é o Brasil. País nomeado pela presença de outrem. Desde a invasão portuguesa, o projeto de colonização se estruturou desprezando os corpos aqui presentes, inferiorizando experiências que eram distintas ao que entendiam como “normal”. Quando pensamos em lugar de fala e representatividade, parece que qualquer discussão nos leva a diagnosticar quem está apto ou não a falar sobre determinados sujeitos, subjetividades, saberes, culturas e vivências de outros grupos sociais. Nesse sentido "Dramaturgia-Testemunho" trás a cena essa narrativa pautada pela consciência, por um grito solto no ar, aliado a relatos de experiências vivas e vivificadas no tempo e no espaço, uma dramaturgia que grita ao evocar violências, genocídios, depredações, colonizações, explorações de territórios e vidas que há mais de 500 anos estão sendo dizimadas. 
 Sendo assim, é preciso dizer que “Terra Adorada” se coloca na cena com o desejo de legitimar um discurso muitas vezes abordado apenas nas aulas de história, de modo rápido e panfletário, mas aqui, diferente das abordagens escolares  o corpo e o discurso indígena está vivo, presente e com um discurso urgente. E essa vivacidade é materializada em cena pela pesquisa e atuação de Ana Luiza da Silva através de uma performance arrebatadora. Daquelas que ao mesmo tempo faz pensar, refletir através do dedo na ferida, mas ao mesmo tempo dizer que projeto sensacional. 
    "Terra Adorada" é ao mesmo tempo um sopro de vida, um alento e um soco no estômago. Uma força cênica contemporânea cheia de cruzamentos e entrelaçamentos e linguagens, mas diferente de outras experiencias modernas aqui, o resultado não fica apenas na forma justamente pelo discurso potente que a narrativa carrega consigo. E esse discurso não é uma fábula ou historinha qualquer, é ficção, é teatro, é performance, mas é real. É urgente. É já!


FICHA TÉCNICA
Direção: Jezebel de Carli e Ana Luiza Silva
Dramaturgia: Jezebel de Carli, Ana Luiza da Silva com colaboração de Vika Schabbach
Elenco: Ana Luiza da Silva
Trilha Sonora Pesquisada: Ana Luiza da Silva
Iluminação: Carol Zimmer


*Diego Ferreira - Editor do Olhares da Cena. Dramaturgo, Professor e Crítico de Teatro. Graduado em Teatro/UERGS. Curador do 28º Porto Alegre em Cena. Integrante da Comissão Julgadora do 9º Prêmio Nacional de Dramaturgia Carlos Carvalho. Vencedor do Prêmio Açorianos 2021 na categoria Ação Periférica com o projeto "Três tempos para a Dramaturgia Negra no RS."


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

VENCEDORES DO 12º PRÊMIO OLHARES DA CENA

 


VENCEDORES DO 12º PRÊMIO OLHARES DA CENA 2022


TEATRO DIGITAL


*TENTILHÃO



TEATRO ADULTO



MAQUIAGEM


*Cia Teatro ao Quadrado – O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


DESIGN GRÁFICO/IDENTIDADE VISUAL


*Giovana Nogueira e Pamela Manica - BRANCO


FOTOGRAFIA DE CENA


*Júlio Appel – PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS 


TRILHA SONORA


*Grupo Cerco e Banda - TRAGO SORTE MENTIRA E MORTE


ILUMINAÇÃO


*Ricardo Vivian - SOBREVIDA


CENÁRIO


*Alexandre Dill - PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS


FIGURINO


*Antonio Rabádan - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


ATRIZ COADJUVANTE

*Margarida Peixoto - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


ATOR COADJUVANTE


*Anildo Böes - TRAGO SORTE MENTIRA E MORTE


ATRIZ 


*Arlete Cunha – GABINETE DE CURIOSIDADES


ATOR 

*Marcelo Ádams - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


DRAMATURGIA


*Gabriel Pontes - PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS


PRODUÇÃO


* Jaques Machado e Lincoln Camargo - O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III


DIREÇÃO


*Alexandre Dill - PRÉDIOS ESPELHADOS MATAM PASSARINHOS


ESPETÁCULO


* O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO – NOSSO RICARDO III



TEATRO INFANTIL


MAQUIAGEM


*Tuti Kerber – OS SALTIMBANCOS – EM BUSCA DA LIBERDADE


DESIGN GRÁFICO/IDENTIDADE VISUAL


*Gianna Soccol – AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


FOTOGRAFIA DE CENA


*Claudio Benevenga – BICHOLÓGICO


TRILHA SONORA


*Guilherme Ferrêra e Suzi Martinez - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR



ILUMINAÇÃO


*Roger Santos - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR



CENÁRIO


*Diego Steffani – BICHOLÓGICO


FIGURINO


*Guilherme Ferrêra e Suzi Martinez - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


ATRIZ COADJUVANTE


*Clarissa Siste - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR

ATOR COADJUVANTE


*Guilherme Ferrêra - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


ATRIZ


*Débora Rodrigues - BICHOLÓGICO

ATOR 


*Henrique Gonçalves - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR

DRAMATURGIA


*Guilherme Ferrêra - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


PRODUÇÃO


*Rococó Produções Artísticas e Culturais - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR


DIREÇÃO


*Suzi Martinez - AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR

ESPETÁCULO


* AS AVENTURAS DE JOÃO, A PRINCESA E O TAPETE VOADOR