sábado, 7 de setembro de 2019

VIRA E REVIRA - NA COZINHA TUDO VIRA POESIA (RS)


BOA RESSIGNIFICAÇÃO DE OBJETOS NO TEATRO DE ANIMAÇÃO

*Diego Ferreira


O espetáculo "Vira e revira - na cozinha tudo vira poesia" coloca em cena dois cozinheiros que estão meio amargurados da vida e encontram um renovo entre os utensílios da sua cozinha. O espetáculo se utiliza de várias linguagens para exaltar a poesia cênica como o teatro de animação de objetos, a linguagem clownesca,  o teatro físico aliado a uma língua inventada e a participação da platéia. Em sua essência a produção é bastante simples em todos os aspectos, mas a relação com os objetos é potencializada através do deslocamento da sua função original  e conferindo-lhes novos significados, sem transformar, porém, a sua natureza, explorando uma dramaturgia que se vale de figuras de linguagem, em detrimento da importância da manipulação propriamente dita. Dentro deste conceito, novos significados foram dados a colheres e utensílios que todos temos na nossa cozinha, sem transformar a sua natureza, por meio de associações que se podem dar pela forma, pelo movimento, pela cor, pela textura, pela função do objeto. Neste aspecto o Teatro Nó Cego consegue grande êxito que é o de dar vida a objetos inanimados. No aspecto das figuras clownescas penso que o grupo juntamente com a direção poderia aprofundar um pouco mais a essência do clown, uma linguagem que coloca em cena o ridículo das relações calcado na verdade do intérprete. As vezes o jogo estabelecido é rompido pelo fato das figuras potencializarem a caricatura ao invés de uma energia característica da linguagem do palhaço. Mas Morgana Rosa e Alexandre Malta tem segurança, empatia e domínio do trabalho e conseguem apresentar um espetáculo cativante. Outros elementos como cenário, figurinos, iluminação e trilha sonora são extremamente simples mas cumprem sua função dentro do espetáculo que tem como destaque a participação ativa do espectador, que embarca na poesia criada através do mundo dos objetos. Um espetáculo leve, divertido e indicado a todas as idades.

FICHA TÉCNICA:
Direção: Juliano Canal
Elenco: Alexandre Malta e Morgana Rosa
Apoio técnico: Brenda Fernandez
Classificação: Livre
Duração: 50 minutos

*Diego Ferreira é Graduado em Teatro/UERGS. Escreve comentários críticos no blog Olhares da Cena. É integrante do Grupo de Estudos em Dramaturgia de Porto Alegre coordenado por Diones Camargo. É jurado no Prêmio Olhares da Cena. Foi jurado do Prêmio Açorianos de Teatro em 2013 e 2018. Professor de Teatro na Unisinos e Unilasalle.