sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O MÉDICO QUE RECEITAVA LIVROS (RS)


Espetáculo didático sem ser panfletário

O espetáculo “O médico que receitava livros” é uma deliciosa comédia dirigida a todas as idades. Uma proposta que é didática, sem ser panfletária, traz em sua essência uma pedagogia sem cair na pieguice de ter um professor em cena ao invés de atores.
O espetáculo é centrado na força poética do texto de Totonho Lisboa, que é uma revelação enquanto dramaturgia e letrista da bela canção do inicio do espetáculo, pois consegue articular muito bem as referencias literárias dentro da narrativa, apostando num texto que provoque muito mais pelas situações e personagens bem delineados do que pelo riso ou propostas rasas. O riso acontece, mas de acordo com as situações propostas pela cena.
A encenação inicia com a entrada do médico Millor e sua movimentação inicial é suja, sem motivação, apenas para montar a cena, o que leva a crer que o entra e sai dos livros não passa de uma ação que serve para preencher a duração da canção inicial. Passado este primeiro momento, que poderia ser melhor decupado, o espetáculo vai ganhando força e ganhando a platéia através de sua poesia literária e cênica. O elenco é coeso e consegue equalizar muito nas interpretações, e o grande destaque da peça é a presença de Caroline Oliveira, que consegue criar uma personagem que tem uma empatia muito grande com o espectador, pois recheia suas ações de sutilezas numa interpretação arrebatadora. Carolina através de sua presença constrói ainda um novo personagem que não está em cena, porém a presença é forte, que é o porteiro. A sua relação com esse personagem fictício é de uma veracidade que acreditamos que este personagem irá adentrar na cena a qualquer momento. Samuel dos Santos consegue sustentar a figura deste Doutor maluco e visionário. Consigo embarcar na sua criação que pelo fato de ser ao mesmo ator e diretor poderia ser melhor apurada, mas esse fato não tira o frescor de seu trabalho. Já Alan Krug que faz três personagens tem a facilidade de construir tipos, auxiliados por figurinos que ajudam muito na composição, talvez o primeiro personagem pudesse ser um pouco mais explorado, para não ficar só na caricatura, mas com as demais participações consegue se mostrar a que veio. 
Penso que o grupo poderia investir na criação destes universos paralelos provocados pela leitura dos autores citados em cena, pois através disto poderia criar nuances necessária a cena, uma desconstrução da figura do Doutor investindo mais na criação de outros mundos, auxiliados pela iluminação que aqui é bastante neutra, mas que não compromete em nada a peça, assim como a composição dos figurinos. 
Outra aposta seria a do grupo investir mais nas convenções teatrais, como entradas e saídas dos personagens de cena, pois do modo como se apresentam são previsíveis.  
O espetáculo carece de ajustes que de maior coerência ao que já alcançam e o resultado alcançado é muito bom, através de um trabalho criativo e limpo. Portanto reitero que "O médico que receitava livros" é uma pedra preciosa que está em fase final de lapidação, pronta para brilhar... 

Diretor: Samuel dos Santos
Autor: Totonho Lisboa Classificação etária: livre
Contra-regra: Dani Reis
Operador de Som: Constantino Azevedo
Criador da trilha sonora: Gilnei Lucas
Operação de luz: Constantino Azevedo
Criador da iluminação: Samuel dos Santos
Maquiador: o grupo
Criador da maquiagem: o grupo
Figurinista: o grupo
Cenógrafo: Samuel dos santos