domingo, 28 de setembro de 2014

O CHAPELEIRO MALUCO (RS)



Equivoco em produção voltada aos pequenos

"O chapeleiro maluco" é uma produção do Grupo Teatral Leva Eu direcionada as crianças e é exatamente por aí que eu começo minha analise. Fazer teatro é uma responsabilidade muito grande, e quando direcionamos o fazer teatral ao público infantil esta responsabilidade tem de ser redobrada. O que eu percebo nesta montagem de "O chapeleiro maluco" é uma sucessão de equívocos, que podem e devam ser trabalhados para que esta experiencia possa ser potencializada. 
Quando o espetáculo inicia percebemos um palco com poucos elementos, uma limpeza na cena que poderia servir para a criação de imagens em ação, mas a medida que o espetáculo avança vem a tona uma série de esteriótipos do teatro infantil como o uso exagerado de intenções didáticas, que tem que se ter um pouco de cuidado, pois a criança é um ser dotado de inteligencia e que por isso não precisa ser tratada como não fosse inteligente. A criança tem a capacidade de interpretar o que vê, portanto não é saudável mastigar tudo e entregar ao público. A dramaturgia peca no sentido de explorar um moralismo, onde Aninha é boa/Juca é ruim e o professor é o espelho que tem que ser seguido. O texto poderia usar as contradições destes personagens, explorar melhor o universo dos sonhos que é o universo do Chapeleiro, explorar sensações diferenciadas que evidenciem este universo paralelo. 
Os figurinos tem uma preocupação em se comunicar com o espectador quando utiliza a mesma estampa para o figurino dos irmãos, até mesmo no inusitado figurino do Chapeleiro, mas penso que os demais elementos estéticos como a trilha sonora que em nenhum momento ajuda a encenação, a criar climas e tensões, pois são músicas conhecidas, mas que são deslocadas do contexto da narrativa e acabam se tornando clichês. As coreografias são muito bonitas, mas também não auxiliam, pois são apenas coreografias, sem sentido na encenação, assim como a iluminação que poderia ter papel fundamental aqui, mas é pouco explorada, poderia criar climas e suspensões na proposta. 
Tudo precisa ser repensado, até mesmo a relação com a platéia, pois nem sempre nas produções infantis é necessário esta relação, e aqui a relação é forçada. 
Sugiro então repensar o trabalho no sentido de aprofundar as personagens no sentido dramatúrgico e no sentido das atuações, no sentido das convenções e fugir dos esteriótipos e do politicamente correto, sujar mais as figuras, construindo uma dualidade inerte ao ser humano. 
Como já conheço outros trabalhos do diretor Igor e sei desta humildade e gana em trabalhar com teatro, sei que ele vai filtrar todas as questões e vai triunfar em seus novos projetos. 

Direção: Igor Ramos
Elenco: Gabriel Rocha, Giordano Freitas e Juliana Johan
Cenografia: O grupo
Figurinos, coreografia, maquiagem e trilha sonora: Juliana Johan
Iluminação: Igor Ramos