segunda-feira, 24 de março de 2014

UM PRÍNCIPE CHAMADO EXUPÉRY (SC)

Se o ator é o elemento fundamental no teatro, ele não poderia existir sem um espaço onde se desenvolver. Podemos definir o teatro como um espaço em que estão juntos os que olham e os que são olhados, e a cena como o espaço dos corpos em movimento. E quando este espaço é direcionado ao trabalho que contempla atores-manipuladores e teatro de animação à questão do espaço torna-se mais importante. A Cia. Mútua entende isso muito bem e traduz no espetáculo “Um príncipe chamado Exupéry” sua pesquisa que extrapola o teatro de animação e constrói um teatro que contempla a questão espacial, criando um espaço tridimensional e que o espectador está inserido dentro do espaço teatral. Adentramos no espaço e somos convidados a entrar do espaço ficcional, ou seja, somos convidados a entrar no hangar onde fica o Correio da narrativa e ali, dentro deste espaço que se desvela as aventuras deste aviador. 
O espaço confere a cena uma força poética, pois enquanto espectadores, estamos no centro da ação, onde vislumbramos aviões sobrevoando nossas cabeças, ventanias produzidas com efeitos de fumaças e ventiladores, provocando imagens que nos remetem a outros lugares. Isso tudo é construído sem a utilização de palavras, pois a dramaturgia do espetáculo é construída apenas com a manipulação dos bonecos, objetos e adereços de cena, e esta manipulação é realizada de um modo despojado e teatral, ou seja, os manipuladores não se preocupam em ocultar sua persona atrás dos bonecos, pelo contrário, dialogam com os mesmos, e este jogo é bastante interessante. Conseguem através desta interação imagens poéticas e que emocionam. Mônica Longo e Guilherme Peixoto são bastante pontuais em suas manipulações precisas e despojadas, porém a direção de Willian Sieverdt é elogiosa por conseguir amarrar muito bem todos os elementos do projeto, e são muitos, como a própria criação e manipulação dos bonecos, aviões e esculturas da cena, assim como o próprio espaço, a iluminação precisa e delicada que em muitos momentos fala por si só, (como esquecer os pontos de luz ao fundo, formando as estrelas da noite escura, lindo!), além dos cenários e trilha sonora que pontua e se faz um personagem na peça. 
Trata-se de um projeto lindo, com uma arte gráfica caprichada, voltado a todas as idades, que faz do silêncio poesia. Trabalho de uma simplicidade que torna o ato teatral pura poesia, poesia para ser guardada na memória e no coração. Bravo Cia. Mútua!

Ficha técnica
Roteiro/Dramaturgia: Mônica Longo, Guilherme Peixoto e Willian Sieverdt
Elenco: Mônica Longo e Guilherme Peixoto
Direção: Willian Sieverdt
Cenografia: Jaime Pinheiro
Mecanismos de Bonecos e Cenários: Paulo Nazareno
Sonoplastia e Trilha Sonora Original: Guilhermo Santiago e Paulo Zanny
Engenharia de Iluminação: Giba de Oliveira
Desenhos: Marcos Leal
Figurinos: Lenita Novaes
Escultura dos Bonecos: Mônica Longo
Confecção dos Bonecos: Mônica Longo e Guilherme Peixoto
Operação de Luz: Laura Correa
Operação de Som: Luis Melo
Produção de palco: Fernando Honorato
Designer Gráfico: Leandro De Maman
Pintura de Estrutura Cênica: Luis Melo
Pintura de Bonecos: Luis Carlos Vigarani
Pintura de Cenários: Guilherme Peixoto e Mônica Longo
Preparação de Atores: Ângela Finardi
Consultoria de Pesquisa: Mônica Cristina Corrêa
Pesquisa, Produção e Realização: Cia Mútua