quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

R e J SHAKESPEARE - JUVENTUDE INTERROMPIDA (RJ)


DRAMATURGIA X TEATRALIDADE

Ainda estou digerindo ao que assisti na semana passada no palco do Teatro Roberto Athayde Cardona em Montenegro. R&J Shakespeare - Juventude Interrompida. Gostaria de começar a analisar o espetáculo sob dois aspectos. Dramaturgia e Teatralidade.
Sob o ponto de vista dramatúrgico, diria que o texto do bardo é o principal atrativo, pois bem, diria, mas no caso desta montagem, existem várias possibilidades de dramaturgia(s): a dramaturgia do texto, que tem como interface a intertextualidade, mesclando a história doas amantes de Verona a história de quatro jovens alunos de uma rígida escola católica. O texto de Joe Calarco é uma recriação inventiva do texto de Shakespeare, que me faz relembrar a montagem que a Cia. dos Atores fez recriando outro texto de Shakespeare, "Hamlet", o espetáculo era "Ensaio.Hamlet", uma desconstrução e apropriação do texto do bardo inglês. Em Hamlet tínhamos uma recriação do texto, uma loucura com muitas possibilidades onde o texto do Shakespeare foi um pretexto para a criação de um espetáculo ousado, genial e criativo. Uma das montagens que eu mais gostei. Aqui, em "R&J..." Shakespeare triunfa, assim como toda a produção. O mote é o texto, mas as opções não se esgotam nele, pelo contrário, o texto é preenchido com ricas possibilidades cênicas, o "teatral" se instala na cena, de tal modo que o espectador embarca na proposta e se permite a compartilhar com aqueles alunos uma experiencia cheia de magia e rupturas. A teatralidade está em todos os detalhes da montagem, na proposta de desnudar a ilusão da cena, ou seja, sabemos que aquilo que estamos assistindo é teatro, são quatro alunos que estão representando os personagens de "Romeu e Julieta" e somos alertados a todo tempo desta condição meta-teatral, seja nas rupturas, nas transformações de um personagem para outro, nas inserções musicais ou até mesmo na utilização do belíssimo cenário. A teatralidade é muito latente, quando uma régua vira máscara, folhas de papel viram as flores do casamento, réguas são espadas e eu como espectador acredito, acredito e muito naquilo tudo, e se acredito é porque há VERDADE! E por falar em verdade, tem que se destacar o excelente elenco, os quatro atores são bárbaros e fazem milagre em cena. Mas não sei se serei injusto em destacar  o trabalho de Rodrigo Pandolfo, que faz o personagem de Julieta, além de outros personagens. O trabalho dele é impecável e intenso, alcançando uma verdade e coesão que seria difícil de algumas atrizes imprimir a esta personagem, pela força poética e entrega, sem exageros na interpretação. Todos os atores tem grandes momentos, mas Pandolfo rouba a cena. Tanto que o espetáculo foi quatro vezes aplaudido em cena aberta e ovacionado no final. O ator que faz a ama também tem grandes e divertidos momentos, assim como os demais. 
Mas não poderia encerrar sem parabenizar o diretor João Fonseca que soube explorar ao máximo todas as possibilidades da cena, uma encenação criativa, limpa, repleta de signos, mas, o mais significativo é que consegue colocar Shakespeare no seu devido lugar: nas graças do povo. Consegue manter um clima leve e potente na maior parte do espetáculo culminando na tragédia dos amantes de Verona, numa montagem eletrizante. Um dos melhores espetáculos dos últimos anos. 
Publicado originalmente no Blog Válvula de Escape em 27 de setembro de 2011.

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