quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CANTO DE CRAVO E ROSA (RS)



Fui assistir no último dia 30 de Outubro no Teatro de Câmara, ao espetáculo "Canto de Cravo e Rosa" do Bando de Brincantes, onde pude presenciar um belo espetáculo, e nem vou me dedicar aqui a rotular o espetáculo de teatro infantil, pois trata-se de uma produção dirigida, lógico as crianças, mas pelo tratamento dado a ele e com o destaque dado as canções folclóricas do imaginário popular, acaba agradando em cheio a todas as idades, me peguei em vários momentos cantarolando algumas canções. 
"Canto de Cravo e Rosa" tem dramaturgia de Viviane Juguero e direção de Jessé Oliveira. Viviane consegue um verdadeiro milagre dramaturgico, pois ao mesmo tempo que pode parecer fácil construir um roteiro deste, justamente pela simplicidade que ele apresenta, penso que foi uma tarefa difícil, pelo fato de que a narrativa se ajusta muito bem as canções escolhidas e apresentadas em cena. Percebo que se teve realmente uma preocupação desta ligação entre a história e a utilização das canções, pois não se tem simplesmente uma  narrativa e um amontoado de canções aleatórias sem sentidos em cena. Temos uma construção sensível e muito bem pensada e amarrada. Quanto a direção do Jessé, penso que ele consegue tirar o melhor de cada ator, ou seja, consegue que o elenco seja preciso, coeso e que transpareçam em cena uma alegria e energia que contagia a todos, somando a isso muitas doses de criatividade característico do diretor. A encenação é rica plasticamente  em todos os sentidos, desde o cenário, uma imensa teia de aranha ao fundo, as máscaras, os figurinos (belíssimos), os instrumentos e a presença dos atores. E por falar em teia de aranha, penso que a opção de se utilizar apenas a teia ao fundo como cenário, possa ter um sentido a mais, pelo menos para mim, pois a narrativa vai se desenrolando aos poucos, construída através de inserções de canções e trechos da história do cravo e da rosa, mas quem vai arranjando tudo é a Srª Aranhosa, sendo ela a grande "maestra" de nos contar essa história, como que se a cada teia construída, mais um pedaço da narrativa ía sendo apresentada. Então quando lembro da grande teia, lembro da figura da Srª Aronhosa e de todas as suas peripécias em arranjar a narrativa e complicar a vida do casal.
Quando a peça inicia vemos os atores entrando em cena neutros, colocando-se no espaço cênico, para logo em seguida, acordarem de modo bastante teatral e adiante comporem a imagem de uma centopéia através dos corpos dos atores e uma máscara. Está imagem de imediato já me conquista, me alertando para o que viria em seguida. E o que veio foram sucessões de imagens de imensa beleza, cantos e canções de arrepiar a alma e uma sucessão de acrobacias precisas 
O grande mérito da produção é o de não subestimar a inteligência do público, pois grande parte das produções dirigidas aos pequenos, quase sempre caem em uma situação de, ou tentar passar de maneira forjada uma "mensagem", ou de ser "extremamente didática", ou seja, ao invés da criança ir ao teatro, assistir a uma peça, feita por atores, curtir um programa cultural, parece que a criança está numa sala de aula, frente ao professor, e um professor chato, diga-se de passagem. Nada contra a este tipo de abordagem, penso que o teatro dirigido aos pequenos é uma ferramenta poderosa enquanto instrumento de educação, socialização, etc..., mas quando levo o meu filho ao teatro, gostaria que ele (e eu) participássemos de experiência coletiva, estética e prazerosa, que nos fizesse refletir e que nós pudéssemos nos divertir e nos encantar, sem cair nos clichês didáticos infundados, com atores fazendo "caretas" e utilizando aquelas vozes impostadas e forçadas. Felizmente não é o que acontece neste " Canto de Cravo e Rosa", extremamente criativo, poético, bonito e muito bem produzido em todos os aspectos. 
Quanto ao elenco, percebo uma afinação e disponibilidade muito grande, proporcionado pelo jogo dos atores que estão sempre em cena. Elenco refinado, onde é difícil destacar alguém, pois se eu fizesse isso estaria cometendo uma injustiça. Mas eu vou cometer esta injustiça, (perdão), ao destacar dois nomes: Ana Claúdia Bermarechi (Venenosa Srª Aranhosa) e Éderson Rosa dos Santos(Sapo). Ana Cláudia constrói   uma figura engraçada para a desafinada aranha, demonstrando domínio do corpo e voz, principalmente por sustentar a voz característica da personagem. Gostei muito de vê-la em cena, mesmo ela sendo a vilã da história torcia pelas armações dela. Já Éderson me ganha pelo seu apuro técnico, perfil acrobático e precisão.  A cena em que o sapo dorme é muito engraçado, um dos pontos altos do espetáculo. 
Rodrigo MarquesMaico Silveira Álvaro Rosacosta juntamente com Viviane compõe o elenco que canta, toca as canções ao vivo, realizam acrobacias precisas e ainda arrasam em suas interpretações sensíveis. Ouvir Álvaro cantando já é um deleite, rever Rodrigo e Maico muito mais seguros, contidos e verdadeiros em suas construções é muito bom, mas não poderia deixar de falar de Viviane Juguero , que imprime uma emoção ímpar a sua Rosa, lógico por ser uma boa atriz, mas também pelo fato de ela ser uma das mentoras do projeto, ficando evidente que ela faz o que faz, movida pela paixão, pelo amor que tem em se dedicar aos pequenos, e isso transparece no palco, alegria que contagia a todos, viva, presente, além de cantar muito bem, principalmente na canção "Como pode um peixe vivo", acompanhada do trumpete da atriz Ana Claúdia Bermarechi, é lindo demais! 
Ao final, as intrigas são esclarecidas e o que fica é que cada ser é diferente de outro, cada um tem habilidades diferentes e através desta diversidade é que construímos uma sociedade que valoriza as diferenças. 
Talvez o único ponto negativo do espetáculo foi a pequena presença do público registrada naquele dia, contei um número inferior a 30 pessoas. Daí fico pensando, como é que um espetáculo deste nível em Porto Alegre tem um público reduzido? Enfim.
Bom, mas mesmo com o público reduzido, o espetáculo foi maravilhoso! Parabéns a toda a equipe.
Publicado originalmente no Blog Válvula de Escape em 04 de novembro de 2010.  

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